Chegamos a mais uma etapa da nossa Maratona Atari! Estamos quase no fim dos games que começam com a letra “a”, e na etapa de hoje vamos falar exclusivamente de um clássico absoluto do Atari 2600 e de um dos mais interessantes games criados originalmente para o console: ATLANTIS.
Lançado em 1982 pela Imagic, o jogo era essencialmente uma mistura dos clássicos Space Invaders e Missile Command, e nesse sentido se parecia bastante com um game chamado Colony 7, lançado nos arcades pela Taito no ano anterior. Mas, além dos gráficos legais, o que chamava a atenção era a ambientação. No game, o objetivo era defender a mística e super avançada cidade subaquática de Atlântida do ataque das naves espaciais dos invasores Gorgon. Sinceramente, acho que depois disso nunca mais vi uma premissa tão insana num videogame de novo: canhões de defesa atlantes versus naves invasoras do espaço! Tá bom ou quer mais?
Atlantis foi um dos games que tive durantes os meus “anos Atari” (1987-1992). Era um dos meus jogos favoritos naqueles tempos e um dos quais eu guardo boas lembranças até hoje. E mais: é um game que envelheceu muito bem e que continua sendo desafiante e divertido para os padrões atuais, apesar da jogabilidade simples.
Da mesma forma como em Missile Command, o jogador conta com três canhões (um central e dois laterais) para abater as naves inimigas. Pressionando o botão de tiro, o disparo é feito pelo canhão central. Para atirar com os canhões laterais, é preciso colocar o direcional do joystick na direção do respectivo canhão e apertar o botão de tiro.
Atlantis tem gráficos legais e bem definidos para os padrões do Atari. Você consegue identificar bem a os canhões, a ponte, prédios, instalações de energia, etc. O jogo não é nada fácil. As naves inimigas atravessem a tela horizontalmente e vão chegando cada vez mais perto da cidade. Se elas chegam suficientemente perto antes de serem destruídas, as naves destroem uma das instalações submersas da cidade (ou um dos três canhões que ficam acima do nível do mar).
Além do roteiro criativo e dos bons gráficos, um dos elementos que tornava Atlantis um shooter muito acima da média do Atari era a ação frenética que se desenvolvia na tela. As naves cruzam os céus em diferentes padrões de velocidade, e tem ainda uma pequena nave inimiga que voa em velocidade insana (que, ao ser destruída, cria uma explosão que parece fogos de artifício, criando um efeito visual muito legal na tela). O jogo já começa em ritmo desafiador e vai se tornando cada vez mais intenso numa progressão rápida. Em poucos minutos, o jogador já está com os cabelos em pé, tentando a todo custo salvar as poucas instalações de Atlântida que ainda não foram destruídas.
Após o sucesso de Atlantis no Atari 2600 (é o 6º game mais vendido da história do console), o jogo ganhou versões para o Odyssey², para a linha de microcomputadores de 8-bits que a Atari tinha na época e para outro micro, o Commodore Vic-20. Uma imitação barata do jogo e com algumas alterações estéticas, chamada Ocean City Defender, foi lançada para o Atari 2600 no mesmo ano, pelas mãos de uma produtora picareta daquela época, chamada Zellers.
ATLANTIS II?
Uma das histórias mais curiosas sobre o Atari 2600 envolve justamente Atlantis e a sua continuação que jamais foi oficialmente lançada no mercado. Ninguém sabe ao certo quantas cópias do cartucho Atlantis II existem por aí (embora a ROM do game seja facilmente encontrada na internet), e o cartucho do jogo se tornou um raríssimo item de colecionador.
A história é a seguinte: feliz com o sucesso comercial de Atlantis, e tentando divulgar ainda mais o jogo, a Imagic decidiu promover um campeonato para premiar os melhores jogadores. Os donos dos quatro melhores scores seriam convidados para uma grande disputa final nas Bermudas. Só que aconteceu um “probleminha” que a Imagic não previu: a insanidade dos jogadores “hardcore”. Muitos participantes (pelo menos muito mais do que meras quatro pessoas) mandaram fotos provando que tinham simplesmente atingido a pontuação máxima que o jogo era capaz de computar. Diante disso, a Imagic ficou sem um critério de desempate, pois não tinha como levar toda essa galera de maníacos para a final nas Bermudas.
Então, o que fez a Imagic? Simples: enviou para esses jogadores (que tinham atingido o “score máximo” de Atlantis) um novo cartucho. Esse novo cartucho tinha a capa igual a de Atlantis, mas uma pequena etiqueta colada na frente da caixinha identificava o jogo como sendo “Atlantis II“. Atlantis II era quase idêntico ao game original, mas numa versão “hardcore”, com o nível de dificuldade significativamente elevado e com a destruição das naves inimigas rendendo bem menos pontos do que no original. Visualmente, a única diferença aparente era no contador de pontos do jogo, que usava uma fonte diferente daquela vista no Atlantis original.
A ideia era a seguinte: os participantes do campeonato que tinham atingido a pontuação máxima em Atlantis receberiam em suas casas uma cópia dessa nova versão do jogo, e agora seria a pontuação deste Atlantis II que definiria a classificação de cada um. Assim, mesmo aqueles que não se classificassem para o evento nas Bermudas teriam, ao menos, recebido a distinção de serem premiados com o raríssimo cartucho Atlantis II.
COSMIC ARK
Atlantis também recebeu uma das continuações mais bizarras da história do Atari 2600: Cosmic Ark. Se você já jogou Atlantis, vai lembrar que, quando o jogo acaba e a cidade submersa é totalmente destruída, uma pequena espaçonave aparece deixando Atlântida e sumindo nos céus.
Bem, esse “gancho” é a premissa de Cosmic Ark. O jogo mostra aquela pequena espaçonave reunindo-se com uma nave-mãe muito maior, e objetivo dessa grande “arca espacial” é visitar diferentes planetas e coletar espécimes de vida de cada um deles.
É isso aí mesmo: ex-habitantes da cidade subaquática de Atlântida atravessendo o espaço e coletando formas de vida alienígenas em parceria com uma imensa nave-mãe alienígena! Vou te contar, hein: nem em um acampamento de cientologistas e raelianos, regado à maconha e cogumelos, seria possível criarem uma ideia mais maluca do que essa!
Enfim, se a dupla Atlantis/Cosmic Ark não é o ápice da ficção-científica imaginativa do Atari 2600, então não sei mais de nada!
Duas pérolas numa só tacada. Leitura obrigatória para qualquer apreciador dos videogames.
Jogava muito Atlantis, era um dos favoritos. Mas vou pular para a parte mais legal pra mim deste post: ter lembrado da ligação do game over de Atlantis com meu “bichinho de estimação” Cosmic Ark. Putz, rapaz, não lembrava mais disso e tive um momento nostálgico sem precedentes agora a pouco. Aliás, não só de Activision vivia o Atari 2600: Imagic e Parker Brothers foram outras duas ‘third parties’ que fizeram história no nosso querido “primeiro console de todo mundo”.
Aguardando o próximo post da maratona 🙂
Excelente!
Tive e joguei muito os dois jogos.
Mais alguém achava que as naves inimigas em Atlantis se pareciam com a Enterprise (de Star Trek) e o Star Destroyer Imperial (de Star Wars)?
Pô, pior … uma das naves se parece com a Enterprise de lado, e a outra lembra mesmo um Star Destroyer do Star Wars! CERTAMENTE não foi coincidência, dado que os filmes de Star Trek e Star Wars dominavam o imaginário da ficção científica na época em que lançaram o Atlantis!