KNIGHTMARE (MSX, 1986)

Como é de conhecimento geral dos fãs do antigo microcomputador MSX, nenhuma desenvolvedora produziu tantos games célebres para esta plataforma como a japonesa KONAMI. Nemesis, The Goonies, Metal Gear, Contra, Vampire Killer, Antarctic Adventure, Road Fighter, Yie Ar Kung Fu, Magical Tree, King’s Valley e TwinBee são alguns exemplos dessa rica biblioteca de títulos, que no entanto não estaria de forma alguma completa sem a inclusão de KNIGHTMARE, provavelmente o shot’em up mais amado pelos saudosistas do MSX.

Lançado em 1986, o game coloca o jogador na pele do cavaleiro Popolon, que teve sua amada Aphrodite raptada por demônios e precisa encarar oito fases repletas de inimigos para salvá-la.

Os gráficos de Knightmare eram bastante sofisticados para a época, e a mecânica também era inovadora. O jogo se aproveitava de um estilo já existente na época, os shooters verticais, mas substituía os cenários espaciais por uma temática que misturava mitologia grega, fantasmas e demônios, trocando as naves e alienígenas por cavaleiros e monstros. Dois anos depois, a Namco faria algo parecido com o game Phelios (lançado nos arcades e depois convertido para o Mega Drive). Será que rolou alguma inspiração em Knightmare?

Apesar dos bons gráficos e da diversão, é a música que rouba a cena em Knightmare. Todas as fases contam com boas trilhas, e mesmo alguns efeitos sonoros são caprichados (como o bater de asas dos morcegos). Talvez o único aspecto negativo do jogo seja a sua mecânica repetitiva e “econômica”. Das oito fases, apenas algumas possuem cenários dignos de nota, sendo que outras simplesmente “clonam” cenários das anteriores. Esse tipo de coisa era comum na época, para economizar memória, já que os programadores naqueles tempos precisavam se virar com quantidades relativamente limitadas de recursos por parte do hardware dos microcomputadores.

Knightmare foi relançado como parte da compilação Konami Antiques MSX Collection, lançada em 1997 para o Playstation. O jogo também foi incluído no Konami Antiques MSX Collection Ultra Pack, lançado em 1998 para o Sega Saturn. Em 2003, Knightmare ganhou uma versão para celulares, exclusivamente no Japão.

AS CONTINUAÇÕES

Knightmare ganhou duas continuações no MSX. A primeira delas foi KNIGHTMARE II – THE MAZE OF GALIOUS, lançado em 1987. No entanto, essa continuação é completamente diferente do jogo original. O estilo shot’em up deu lugar a um jogo de plataforma com visão lateral. A trama apresenta Popolon e Aphrodite entrando no castelo do maligno Galious para resgatar Pampas, o filho do casal. O jogo ganhou versões para Famicom e PC Engine, mas ambas só foram lançadas no Japão.

Ainda em 1987, foi lançado o terceiro e último capítulo da saga: KNIGHTMARE III – SHALOM. O curioso é que esse jogo é um RPG, e em termos de mecânica não lembra nem um pouco os dois jogos anteriores. Shalom teve seu lançamento restrito ao Japão, não tendo chegado neste lado do mundo até hoje.

E agora é hora de destrinchar Knightmare, do começo ao fim …

Tela de abertura.

A primeira fase não oferece maiores desafios. Fique de olho nas caixas com pontos de interrogação. Elas escondem itens que valem pontos e até mesmo itens especiais que detonam todos os inimigos na tela.

Esses cavaleiros de armadura aí enchem o saco ao longo de todo o jogo!

A Medusa é a primeira “chefona” do game, mas não é difícil derrotá-la. Uma curiosidade: na época do MSX no Brasil, alguns anúncios do jogo por aqui colocavam a Medusa como sendo a “grande inimiga” do jogo, aparentemente ignorando o fato de que ainda haviam mais sete fases pela frente. Por outro lado, o equívoco é compreensível: dada a dificuldade desse jogo, muita gente realmente jamais deve ter visto outro chefe de fase em Knightmare além da Medusa!

A segunda fase já é bem mais difícil do que a primeira, dando uma idéia do que vem pela frente. Nesta fase, surge mais um novo inimigo: as caveirinhas.

Falando em “caveiras”, a chefe da fase, aparentemente, é a Morte em pessoa! Pelo jeito ela ganhou umas férias do castelo do Drácula em Castlevania, outra série famosa que também é da Konami …

Na terceira fase, o vermelho dá o tom dos cenários …

O terceiro chefão é esse demônio negro.

Esta é a quarta fase. É, eu sei, parece a primeira. A única diferença é que as colunas brancas aqui são vermelhas. “Memória” não era uma coisa em abundância nos microcomputadores nos anos 80 …

Não me pergunte o que é esse bicho! Parece um velho barbudo de pijamas e sem cabeça, com um olho saindo do meio da barba. O engraçado é que o padrão de ataque do monstro não parece tão ameaçador, mas confesso que eu morri umas quantas vezes tentando derrotá-lo.

A quinta fase é num castelo. Aqui o pau já está comendo solto e as telas repletas de inimigos já passam a ser frequentes, com flechas e disparos voando para todos os lados.

Olha que “meigo” o chefão dessa fase: um grandalhão de armadura que fica atirando chuvas de machados em Popolon. Mas o cara não é tão difícil de matar quanto parece.

A sexta fase parece a segunda, exceto pela dificuldade, que já está bem mais elevada.

O chefão da sexta fase parece um enorme Orc, e o cara – além de atirar bolas de fogo – fica criando rachaduras na terra para o chão engolir nosso herói.

A sétima fase é uma espécie de píer infestado de fantasmas e outros inimigos que não dão sossego ao jogador.

O chefão dessa fase é … esse baixinho babaca?!? Depois de uma série de chefões de fase gigantescos e ameaçadores, o jogo surpreende com esse chefinho de fase atarracado. Mas o pior de tudo é que ele é um dos chefes mais ralados do jogo. Ele surge na porta de cima, ataca o herói e depois de um tempo some pela parte de baixo, para reaparecer em cima de novo. Enquanto isso, vários inimigos semelhantes, de armadura azul, ficam azucrinando o jogador.

A fase 8 é num castelo e … sim, sim, você já viu esse cenário antes.

Olha a quantidade de cretinos que infestam a tela! É mole?  Esse jogo era ralado até dizer chega. Não consigo nem imaginar como é que alguém chegava tão longe nesse jogo sem recorrer aos maravilhos recursos de “save state” dos emuladores de hoje em dia!

O último chefão do game é esse monstrengo que parece um trevo de quatro folhas coberto de olhos. Esse combate final é osso duríssimo de roer. O padrão de ataque do inimigo não é dos piores, mas ele simplesmente requer uma infinidade de tiros até morrer.

Depois de toda essa ralação, Popolon finalmente reecontra a sua amada Aphrodite. Agora eles viverão felizes para sempre e o jogador terá um merecido descanso, certo?

Errado! Depois do fim, o jogo simplesmente recomeça, tendo a primeira fase como “estágio 9”. E aí, vai encarar? Eu não, pelo amor de Deus, chegaaaaaaaaaaaaaaaa!!!

Revirando revistas antigas

Visitei um sebo em São Leopoldo na semana passada e encontrei algumas preciosidades dignas de nota: um monte de revistas americanas Electronic Gaming Monthly, GamePro e EGM2, todas datadas de 1992 a 1994, pela inacreditável bagatela de R$ 2,50 cada uma. Sim, revistas importadas, com 150 páginas cada, antiguíssimas e em excelente estado de conservação por DOIS REAIS E CINQUENTA!

Dei a sorte, ainda, de que uma delas fosse nada menos do que a edição NÚMERO 1 da EGM2, datada de julho de 1994. A EGM2 foi um “filhote” da Electronic Gaming Monthly original, e era mais voltada para dicas, estratégias, detonados e coisas do tipo. Confiram aí a capa da edição, que apresentava um comparativo entre MORTAL KOMBAT II e SUPER STREET FIGHTER II. Sim, eu sei, é coisa pra infartar qualquer retrogamer.

Dei sorte também com as GAMEPRO. A mais velha que consegui é de outubro de 1992(!), e a mais nova é de julho de 1994. Mas entre as que comprei, estão quase todas as do ano de 1993 (faltaram apenas as edições de janeiro, outubro, novembro e dezembro).

Quase choraminguei com a edição da GamePro de setembro de 1993, apresentando o lançamento mais quente da época: as versões domésticas do primeiríssimo MORTAL KOMBAT. O jogo foi matéria de capa da revista, que fez um review de duas páginas para cada versão de Mortal Kombat que estava sendo lançada, ou seja, para Super Nes, Mega Drive, Game Gear e Game Boy.

Várias coisas chamam a atenção lendo essas velharias. A primeira edição da EGM2, por exemplo, endeusava o recém-lançado 32X da Sega, que “transformaria o Mega Drive em um Arcade”! A revista ressaltava a grande quantidade de empresas que já estavam comprometidas com a nova plataforma, e sintetizava seu otimismo dizendo que “o futuro parece bom para o 32X“.

Pobrezinhos, COMO eles poderiam saber que esse apetrecho entraria para a história dos videogames como um dos maiores fracassos de todos os tempos, e que terminaria seus dias com míseros 39 jogos lançados?

Outra coisa divertida é conferir a quantidade de anúncios arrogantes do fracassado JAGUAR da Atari que aparecem nessas revistas. As propagandas do Jaguar chegavam a ocupar duas páginas nas publicações, e terminavam sempre com o bordão “DO THE MATH” (faça as contas) no final, alardeando os supostos 64-bits do console. O tempo veio a mostrar que a propaganda da Atari era enganosa, e que o Jaguar na verdade era muito menos poderoso do que os consoles de 32-bits que saíram depois (Playstation e Saturn).

Por outro lado, é legal conferir como a crítica na época babava em cima dos games do SEGA CD, que realmente eram impressionantes naquele tempo. O Sega CD acabou entrando para a história como um relativo fracasso, e foi rapidamente esquecido e atropelado pela “geração Playstation”. Mas, ao contrário de plataformas estéreis como o 32X e o Jaguar, o Sega CD chegou a ocupar seu lugar na história e teve seus dias de glória.

Enfim, fica a dica, caros retrogamers: vale à pena ficar de olho em certos sebos. Vocês podem conseguir verdadeiros tesouros ancestrais da mídia gamer por preços inacreditavelmente baixos.

UNCLE FESTER’S QUEST – THE ADDAMS FAMILY (1990, NES)

Aqui no Cemetery Games, a gente gosta de games antigos de qualidade. Mas é ilusão achar que todos os games da 3ª e 4ª geração eram legais. Assim como hoje, as prateleiras eram entupidas também com muito lixo. Hoje nós vamos falar de um desses exemplares deploráveis de jogos antigos.

No que você pensa quando ouve falar na Família Addams? Piadas de humor negro? Fantasmas? Cemitérios à luz do luar? Mansões decrépitas em estilo gótico? Uma mão sem corpo saindo de uma caixinha e correndo por aí? Um mordomo com as feições do monstro de Frankenstein? Bruxaria, artefatos macabros, plantas carnívoras?

E que tal em … ALIENÍGENAS?!? Não, né? Alienígenas certamente não combinam com o tema “Família Addams”. Ainda assim, sabe-se lá por qual motivo incompreensível, a produtora Sunsoft resolveu fazer  Uncle Fester’s Quest – The Addams Family (o primeiro videogame da Família Addams de todos os tempos!) baseado numa … invasão alienígena.

Ai, meu saco!

Tudo bem, dá pra compreender que o jogo não fosse baseado no filme The Addams Family, de 1991, que revitalizou os personagens da antiga série de TV dos anos 60. Afinal de contas, esse game do NES foi lançado um ano antes do filme, na onda do hype gerado pela produção da película. Mas, porca miséria, será que não podiam aparecer com uma historinha melhor? Tio Fester atirando em ETs?!? Caramba, é um conceito tão retardado e arbitrário que ficamos a imaginar o que mais a Sunsoft pode ter pensado na época. Será que cogitaram um game de culinária com a Mortícia? Ou quem sabe Gomes Addams num labirinto, fugindo de fantasmas e tendo que comer todas as pastilhas pra passar de fase?

Mas o pior de tudo é que a história ridícula é o menor dos problemas do game. Após assistir a uma das mais bonitas e bem feitas introduções de um jogo para console de 8-bits, o jogador é atirado num game de tiro com gráficos horríveis, chatíssimo, com design de fases abominável e jogabilidade tosca. Tio Fester sai andando pelas ruas da cidade, atirando em alienígenas que parecem sapos e em outros que parecem poças de sagú, andando também pelos esgotos. Sim, um Addams com uma arma laser matando ETs nos esgotos da cidade! Isso é que eu chamo de aproveitar “bem” os personagens.

Esse game é uma decepção MUITO grande pra mim por dois motivos. Primeiro, porque eu sou um fã de longa data dos Addams (desde antes da época em que o filme estava pra sair). Segundo, porque eu tinha uns nove ou dez anos de idade quando comprei uma saudosa revista AÇÃO GAMES (alguém lembra?) nas bancas e vi o anúncio desse jogo. A pequena matéria que falava sobre o game, sabiamente, mostrou apenas imagens da tela de abertura, o que fazia o jogo parecer lindo. Na época, só faltou eu ter um ataque cardíaco! Minha reação foi algo como “oh meu Deus, oh meu Deus, um game da FAMÍLIA ADDAMS pro Nintendo!!! Deve ser a coisa mais legal do mundo, com certeza!!!“.

Foi apenas depois de muitos anos que eu fui ter a oportunidade de conhecer esse jogo e … rapidamente dei graças a Deus por ter sido poupado de semelhante flagelo na infância.

Para provar que não estou de sacanagem, vejam o review do game que a revista britânica Computer and Video Games fez na época do lançamento:

Uncle Fester – que personagem maluco. Uncle Fester – que droga de jogo. Depois da fabulosa sequencia de abertura com o banho de lua de Fester e a a música funkadelic na tela título, a jogabilidade sem recompensas de andar e atirar foi uma decepção. Você apenas anda e anda e atira em monstros que parecem bolhas e que reaparecem no momento em que a tela se move, e o potencial humorístico do Tio Fester nunca é de fato usado durante o jogo. Mesmo os gráficos são falhados e pouco impressionantes, então não há sequer muito estímulo para jogar e chegar até a próxima porção do jogo. É de se reconhecer que, quanto ao preço, este é um dos cartuchos mais baratos do catálogo da Nintendo, mas é melhor você salvar seu dinheiro para perto do Natal, quando haverá alguns lançamentos realmente bons da Sunsoft saindo. NOTA: 56%“.

Tirando a sequencia de abertura e a arte da caixinha, simplesmente não há nada de positivo a dizer sobre esse lamentável game. Em 1992, a Ocean lançou um game bem melhor, baseado no filme, chamado simplesmente The Addams Family. O jogo saiu pra tudo o que era máquina de rodar jogo na época (Game Boy, Game Gear, NES, Master System, ZX Spectrum, Commodore 64, Mega Drive e Super Nes), e não era perfeito – mas dava de dez a zero em Uncle Fester’s Quest. Sorte da Família Addams!

A sequencia de abertura mostra a mansão Addams e, ali perto, o Tio Fester tomando um banho de lua e curtindo uma birita. De repente, um disco voador surge ao fundo e lança um raio sobre a cidade. É uma das aberturas mais divertidas e bem-feitas já vistas num jogo da terceira geração de videogames.  O problema é que, depois disso, o jogo vira uma porcaria!


Uma das várias coisas chatas desse game: a arma laser com “efeito bumerangue”. Os tiros saem em “ziguezague” e frequentemente não acertam os inimigos, obrigando Fester a recuar ou mesmo causando a morte do personagem.

Uma das várias coisas chatas desse game: os “paus de sprite” (quando partes dos personagens somem por falta de memória ou conflito de vídeo). Era um defeito relativamente comum nos jogos da era 8-bits, mas aqui os programadores não se esforçaram nem um pouquinho. Repare que partes do corpo do Tio Fester ficam sumindo o tempo todo.

Uma das várias coisas chatas desse game: a maioria dos inimigos requer um zilhão de tiros para morrer, dando a sensação de que você está sempre armado com uma funda. E tem mais: a barra de energia de Fester tem apenas dois risquinhos! Se for encostado duas vezes por um inimigo – ainda que seja um mero ratinho de esgoto – é GAME OVER! Acha que é só isso? Não, é claro que tem mais: a opção “CONTINUE” preserva apenas sua arma, mas o coloca de volta no começo da fase, seja lá onde você estava quando morreu. Que noção peculiar de “continue”, não?


O menu do jogo mostra a potência da arma de Fester no momento e a quantidade de itens que o jogador possui.

Uma das várias coisas chatas desse game: alguns inimigos, como essa bolha verde mal feita, se MULTIPLICAM conforme você atira neles. Ou seja, quanto mais você luta, mais precisa recuar para fugir dos inimigos – e ainda tem que sofrer para acertá-los com os tiros em ziguezague. Claro, dá pra usar a dinamite (TNT) pra detoná-los com mais facilidade … mas não custa lembrar que a dinamite é limitada!

Em alguns lugares, Fester encontra membros da família, que lhe presenteiam com itens úteis para a aventura.

Repare na mansão de filme de terror no fundo, nos raios de tempestade e na aranha. Evidentemente, nenhum desses elementos de horror foram aproveitados no game, que preferiu investir em armas laser, ratos de esgoto, bolhas verdes, sapos e outras monstruosidades alienígenas esdrúxulas.  Eu sempre achei muito legal essa caixinha do game, mas pela primeira vez estou reparando que Fester parece estar de batom e usando um casaco de peles! Pô, Sunsoft, não precisavam sacanear o Tio Fester com esse visual de travesti da terceira idade, né?!?