MIDNIGHT MUTANTS (1990, Atari 7800)

Feliz Halloween, corpos e almas retrogamers!

Desta vez, para o sanguinolento deleite de vocês, desenterro da sepultura essa pequena jóia de horror esquecida no tempo. Devo admitir que esse aqui estava há anos na minha lista para ser analisado e destrinchado aqui no Cemetery Games. A hora chegou. Com vocês, MIDNIGHT MUTANTS do Atari!

A Maldição de Midnight Mutants

Talvez você esteja se perguntando: “Ué, mas como é que eu nunca ouvi falar desse jogo de terror lançado para o Atari, que foi um console tão famoso?“. Ah, mas é aí que está o pulo do gato! O console para o qual Midnight Mutants foi lançado não é o icônico Atari VCS (que posteriormente ficou conhecido como Atari 2600), pioneiro ícone da indústria dos games. Não: ESTE Atari é o obscuro, fracassado e tardio Atari 7800 – o terceiro console da empresa de mesmo nome, lançado em 1986 como uma tentativa de resposta ao sucesso do NES, o lendário console de 8-bits da Nintendo. Só que, assim como seu antecessor Atari 5200, o 7800 não impressionou ninguém, não conseguiu conquistar um espaço no meio da concorrência, não vendeu quase nada e foi definitivamente descontinuado em 01 de janeiro de 1992 – apenas cinco anos e meio depois de seu lançamento.

E essa, meus amigos e amigas, foi a maldição de Midnight Mutants: ter sido lançado para um console moribundo e fracassado. Afirmo, com a maior tranquilidade, que se Midnight Mutants tivesse sido lançado para alguma plataforma popular da época (particularmente, acho que ele combinaria muito com o microcomputador Commodore 64), o jogo teria se transformado num hit e seria universalmente lembrado até hoje como um dos melhores games de horror da era 8-bits. Tristemente, no entanto, o jogo terminou sepultado na obscura e reduzida biblioteca de jogos do fracassado Atari 7800, sendo até hoje um título exclusivo deste console.

A trama

Em Midnight Mutants, o jogador encarna um jovem chamado Jimmy Harkman. Estamos na noite de Halloween no ano de 1992 e Jimmy descobre, chocado, que o seu querido avô (o “Grampa“) foi vítima de um feitiço maligno, tendo sido aprisionado dentro uma abóbora. O autor desta excêntrica maldade é o Dr. Evil (uau, quanta criatividade!), um sinistro estudioso de ocultismo e feiticeiro, que de alguma forma conseguiu retornar ao mundo dos vivos após quase dois séculos e meio.

Como é mostrado na apresentação do jogo, Dr. Evil foi incinerado em público na noite de Halloweem no ano de 1747, por ordem de um ancestral de Jimmy chamado Johnathon Harkman. Antes de morrer, o vilão jurou vingança e prometeu que um dia retornaria. Bom, tá explicado o ódio do cara pela família de Jimmy e do Vovô, e não pra dizer que foi por falta de aviso!

O jogo

Embora “Grampa” (o Vovô) esteja aprisionado pelo Dr. Evil, ele consegue se comunicar telepaticamente com Jimmy (você!) e irá orientar as ações do protagonista durante o jogo. Em síntese, a sua missão é obter uma série de armas, power-ups e itens que tornarão Jimmy capaz de derrotar os monstros e espíritos que assombram as redondezas e de eliminar os três grandes vilões do jogo.

O primeiro destes três “chefões” do jogo é o horripilante Simon Yager, um aprendiz do Dr. Evil que, por conta de experimentos genéticos, foi misteriosamente transformado em um carneiro chifrudo. Yager, então, começou a beber sangue humano na crença de que isso restauraria sua forma original. Como resultado, ele perdeu toda a pele e foi transmutado em uma gigantesca CAVEIRA DE CARNEIRO CHIFRUDO! Tá bom ou quer mais?

O segundo assecla tinhoso do Dr. Evil é Damon Mohler, um ex-optometrista psicopata que, em vida, arrancava os olhos de suas vítimas e os colecionava num tanque cheio de sangue. Por conta de um acidente, ele ficou cego e então um ajudante implantou nele um novo par de olhos. Só que os novos olhos do Dr. Mohler estavam cheios de sangue contaminado, o que levou o maníaco a uma morte horrenda e dolorosa.

O bizarro optometrista então foi enterrado numa cripta ao lado de sua coleção de olhos, e hoje é uma fantasmagórica e cega caveira gigante que assombra o lugar buscando vingança contra as pessoas vivas dotadas de visão.

O último monstrengo, é claro, é o satânico Dr. Evil – que mais parece um mal-encarado dublê de Drácula depois de uma gripe forte.

Midnight Mutants não é um jogo muito longo. Se você souber direitinho tudo o que precisa fazer e a ordem dos lugares para explorar, é possível terminar o jogo em torno de 40 minutos. Mas, na prática, a coisa não é tão simples. Não espere um passeio no parque: no todo, esse jogo é DIFÍCIL PRA CARAMBA!

Explico: além da sua barra de saúde (que pode ser restaurada e também ampliada por certos itens ao longo da partida), o jogador tem um índice de contaminação do sangue. Toda vez que Jimmy sofre dano por conta do ataque de algum monstro, seu sangue se torna ligeiramente mais contaminado. Se o índice de pureza chegar em 0%, o protagonista bate as botas, veste o paletó de madeira e vai direto pra Terra do Pé Junto! Isso torna tudo muito mais complicado, pois frequentemente é mais difícil para o jogador manter seu índice de pureza do sangue do que cuidar da barra de energia em si.

Existem cinco itens cruciais para Jimmy finalizar sua missão com sucesso. O primeiro é uma das diferentes variedades de armas existentes no jogo (começando pela faca), que vão sendo automaticamente substituídas quando uma arma melhor é conquistada. A faca também é fundamental para abrir a porta trancada da capela, que levará o herói a encontrar o segundo item indispensável do jogo: a cruz, que repele todos os ataques de morcegos. O terceiro item é a chave, que permite acesso à cripta na qual repousa o fantasma do malévolo Dr. Mohler.

O quarto item é o colar de pérolas, que permite que o jogador caminhe sobre as águas. Com ele, Jimmy pode entrar na fonte que aparece logo no começo do jogo e alcançar o quinto e último item fundamental: o coração, que garante a purificação automática e permanente do sangue do herói – o que torna a missão bem mais fácil (mas não muito, já que é basicamente impossível ter poder suficiente para obter o colar e o coração antes de o jogador já estar próximo da parte final da aventura).

Conclusão

Além de apresentar gráficos excelentes e efeitos musicais bem legais para os padrões do Atari 7800, Midnight Mutants se destaca pela sua combinação muito divertida de horror e humor. O visual sinistro e pavoroso dos chefões e a ambientação horrorífica vêm acompanhada de diversas tiradas cômicas – como quando, aleatoriamente, o Vovô afirma que “Quer sua Mutant TV” (fazendo referência ao clássico bordão “I Want my MTV” do canal musical televisivo norte-americano nos anos 1980), ou comenta que “Walking Dead don’t need shoes” (“mortos andantes não precisam de calçados”).

O destaque, no entanto, vai para a interessante presença do Vovô da famosa The Munsters, clássica série de TV dos anos 1960. Curiosamente, apesar de se tratar claramente do personagem da série (com o mesmo visual vampiresco e os traços do saudoso ator Al Lewis), o jogo em nenhum momento afirma que ele é um vampiro (ao contrário da série) e tampouco identifica o personagem com o seriado ou com os demais membros da monstruosa família do antigo show televisivo, chamando ele apenas de “Grandpa” (apelido para “Vovô”, embora o jogo adote a grafia ainda mais informal “Grampa“) – que é a maneira como ele era habitualmente referido na série. A presença do carismático personagem, ainda que fora de qualquer contexto ligado ao seu material de origem, deixa Midnight Mutants muito mais divertido e interessante – especialmente para fãs de filmes e séries de horror.

Para concluir, Midnight Mutants é diversão horrorífica retrogamer da melhor qualidade. Sua combinação de humor com elementos exagerados e grotescos de horror é muito fora dos padrões da época – quase única. Ele tem todos os requisitos para ser um “cult classic”, e certamente seria se tivesse tido a sorte de brilhar em algum console ou computador mais popular. É realmente uma pena que o game nunca tenha recebido conversões para outras plataformas – ou até mesmo um remake moderno. De qualquer forma, graças à popularização dos emuladores, hoje em dia é muito fácil poder experimentar essa esquecida e injustiçada pérola de terror 8-bits.

Feliz Halloween!!!

AS MELHORES NOVIDADES RETROGAMERS DE 2022

1) Teenage Mutant Ninja Turtles: The Cowabunga Collection

Lançada em agosto de 2022 para Playstation 4 e 5, PC, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series S/X, esta maravilhosa coletânea realizou os sonhos de muitos retrogamers e reuniu, em um único pacote, TODOS os clássicos games das Tartarugas Ninja lançados pela Konami para Nes (Nintendo 8-bits), Super Nes, Mega Drive e Game Boy entre 1989 e 1994. De quebra, você ainda leva os dois maravilhosos arcades Teenage Mutant Ninja Turtles (1989) e Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time (1991). A coletânea ainda inclui cópias digitalizadas das caixas originais dos jogos, dos manuais e outros itens para aquecer o coração dos saudosistas. Para quem viveu a febre das Tartarugas Ninja há trinta anos, é simplesmente obrigatório!

2) Pac-Man Museum +

Maio de 2022 trouxe este presentão para os fãs do bom e velho Pac-Man. A coletânea traz nada menos do que 14 jogos clássicos deste que é um dos ícones pioneiros da história dos videogames. O pacote reúne desde o lendário Pac-Man (1980) original dos arcades até o contemporâneo Pac-Man 256, lançado em 2016. Pac-Land (1984), Pac-Mania (1987) e Pac-Man Championship Edition (2007) também tornam essa coletânea indispensável. Está disponível para PC, Nintendo Switch, Playstation 4 e Xbox One. Para os assinantes do Game Pass da Microsoft, a boa notícia é que o jogo foi incluído no serviço já no lançamento e pode ser jogado pela nuvem.

Ainda falando em Pac-Man, vale lembrar que 2022 ainda trouxe o lançamento de Pac-Man World Re-Pac, a versão remasterizada do divertidíssimo game originalmente lançado em 1999 para o Playstation 1.

3) Atari 50: The Anniversary Celebration

Sem qualquer possibilidade de dúvida, Atari 50: The Anniversary Celebration é a coletânea retrô mais impressionante e indispensável de 2022. Este titânico pacote traz mais de 100 games antigos lançados para diferentes consoles da Atari entre os anos 1970 e 1990. A seleção inclui jogos de arcade, Atari 2600, Atari 5200 e Atari 7800 – incluindo também títulos do portátil Lynx, do Jaguar e até algumas raridades do Atari 8-bit (microcomputador lançado pela empresa nos anos 1980). Como se não bastasse, o título ainda vem acompanhado de seis remakes modernos de antigos clássicos como Haunted House, BreakOut e Yar’s Revenge, além de farto material adicional incluindo informações e entrevistas com criadores e desenvolvedores da era de ouro da Atari.

Tem mais: a coletânea finalmente traz ao mundo, com quarenta anos de atraso, o prometido Swordquest: Airworld – a quarta e última parte da série Swordquest do Atari 2600. A série começou em 1982 com Swordquest: Earthworld e prosseguiu com Fireworld (1983) e Waterworld (1984), mas até hoje o prometido jogo final da série nunca havia sido lançado. Atari 50: The Anniversary Celebration finalmente corrige esta injustiça.

Disponível para PC, Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series S/X, Playstation 4 e Playstation 5, esta é uma coletânea dos sonhos para todo retrogamer que viveu nos anos 1980.

4) Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge

De fato, 2022 foi um grande ano para os retrogamers fãs das Tartarugas Ninja. Além do belíssimo resgate histórico feito pela coletânea The Cowabunga Collection, o ano ainda nos brindou com um game inteiramente novo dos personagens. Muitos jogos com as Turtles foram lançados nas últimas duas décadas, mas este novo Shredder’s Revenge se destaca por ser um lançamento para consoles mais próximo dos clássicos beat’em ups dos anos 1990 (coisa que não se via há décadas). Ele é quase uma espécie de “TMNT V”, dando sequência à trilogia do Nintendo 8-bits e ao TMNT IV: Turtles in Time lançado para o Super Nintendo em 1992. Até o visual dos personagens retoma os traços da série animada de televisão daqueles tempos, e que era a inspiração direta para os games da Konami lançados na época. Shredder’s Revenge mistura porradaria clássica e visual retrô com algumas novidades muito bem vindas (que tal jogar com April O’Neil, Splinter ou Casey Jones?).

Se você passou os últimos trinta anos inconformado com o fato de Turtles in Time jamais ter recebido nenhuma continuação direta, então Shredder’s Revenge é a resposta dos céus às suas preces. O jogo está disponível para Nintendo Switch, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, PC (Windows) e até para Linux. Versões para Android e iOS estarão disponíveis no começo de 2023 – ou seja, opção é o que não falta para se divertir com este triunfal retorno das Turtles!

5) Retroboxes e portáteis chineses

Há anos, a China tem chamado a atenção dos retrogamers pela produção de consoles e portáteis de custo baixo ou intermediário, dedicados à jogatina retrô. Estes aparelhos são ótimas opções de emulação fácil e rápida de sistemas antigos, sem necessidade de maiores configurações ou conhecimento sobre emuladores. Não se trata propriamente de uma novidade deste ano, mas dá pra dizer que 2022 representou uma espécie de “boom” do setor em razão da grande oferta e disponibilidade de diferentes produtos do tipo – incluindo aparelhos como o Super Console X (e seus incontáveis assemelhados) e os portáteis de fabricantes como Ambernic e Powkiddy, dentre vários outros.

Eu próprio me rendi à tendência e, em 2022, adquiri dois aparelhos chineses voltados especificamente à emulação de games antigos: o Arcade Box e o portátil Powkiddy V90. No começo de 2023 já teremos análises detalhadas de ambos aqui no Cemetery Games.

BATMAN RETURNS (1993, NES)

E aqui estamos, comemorando mais um Natal! Para isso, nada melhor do que um game ambientado nessa época. Pode ser um game baseado em filme? Pode! Pode ser um game com o Batman? Ora, melhor ainda! Mas … dois filmes podem gerar uma trilogia de games? Opa, peraí, daí a coisa já começa a ficar meio confusa. Mas calma aí que nós vamos explicar essa história direitinho!

Lançado na metade de 1992 nos Estados Unidos, o filme Batman Returns foi uma das sequências mais aguardadas daquela década. O filme anterior, Batman (1989), rapidamente se converteu em um fenômeno da cultura pop e o hype por uma continuação era grande. Apesar de suas qualidades, Batman Returns não conseguiu se igualar ao filme anterior em termos de bilheteria e popularidade. No entanto, isso não evitou que a nova aparição do Batman nos cinemas originasse uma avalanche de games nas mais diferentes e variadas plataformas, incluindo Mega Drive, Sega CD, Master System, Game Gear, Super Nintendo, DOS, Atary Lynx e Amiga.

Em algumas destas plataformas (como Sega CD e Super Nintendo), com um jogo baseado no filme de 1992, Batman estava fazendo sua primeira aparição no console. Em outras plataformas (como Amiga e Mega Drive), Batman já tinha dado as caras com adaptações para videogame do clássico filme de 1989, o primeiro dirigido pelo brilhante Tim Burton. Mas, especificamente no Nintendo 8-bits, os dois filmes da “Era Burton” (o Batman de 1989 e o Batman Returns de 1992) viraram uma … trilogia!

O que aconteceu foi o seguinte: em 1989 (no Japão, e em 1990 nos mercados ocidentais), a Sunsoft lançou o maravilhoso jogo Batman: The Video Game para o NES. Baseado no filme do Tim Burton lançado naquele mesmo ano, o jogo era um arraso em visual, música e jogabilidade – sendo lembrado até hoje como uma obra-prima da biblioteca de jogos do console de 8-bits da Nintendo. Desnecessário dizer que a soma da qualidade do game com a força da fama e da popularidade do filme fizeram do jogo um imenso sucesso de crítica, público e vendas.

Burton levou três anos para materializar a continuação do Batman de 1989 nos cinemas, mas a Sunsoft não quis esperar tanto tempo. Surpreendentemente, a empresa decidiu dar continuidade à trama do game (que seguia a história do filme) por conta própria, e lançou em 1991 o jogo Batman: Return of the Joker – uma continuação direta do game anterior. É isso aí mesmo: depois de um jogo-baseado-em-filme, tivemos uma sequência-sem-filme!

Até aí, tudo bem. Essa história de “continuações-sem-filme” não chegava a ser inédita na biblioteca de games do NES. Basta lembrarmos, por exemplo, dos casos de Goonies II ou Top Gun II. Além disso, Batman: Return of the Joker era outro trabalho maravilhoso da Sunsoft, apresentando visual, música e ação de altíssima qualidade para os padrões dos consoles de 8-bits. Quanto à trama … bom, quem se importa, não é mesmo? Tá certo que o filme de 1989 (e o primeiro game da Sunsoft, baseado no filme) estabeleciam que o Coringa morria ao final da história (sem margem para qualquer espécie de dúvida, já que ele despencava do alto da gigantesca torre de uma catedral). Batman: Return of the Joker resolve mandar a coerência e a lógica às favas e opta simplesmente por estabelecer que, de alguma forma, o Coringa sobreviveu e está de volta. E quem você vai chamar? GHOSTBUST… não, nada disso, o Batman, é claro!

O problema é que, em 1992, é lançado o filme Batman Returns (com uma trama que, felizmente, não tem nada a ver com o roteiro delirante do game Batman: Return of the Joker). Como a Sunsoft já havia se apressado em dar continuidade ao jogo original antes mesmo de qualquer continuação das aventuras do Batman nos cinemas, a adaptação de Batman Returns para NES acabou sendo o terceiro jogo do personagem dentro da cronologia iniciada com o jogo de 1989. Ou seja: dois filmes e três games de NES. Por conta disso, em alguns mercados o Batman Returns do NES veio a ser lançado com o nome de “Batman III”.

O Batman Returns do NES segue à risca o roteiro do filme de mesmo nome. É véspera de Natal em Gotham City e a paz na cidade é interrompida pelos ataques brutais de uma gangue de criminosos em trajes circenses, secretamente liderados pelo Pinguim, um psicopata deformado que vive no subterrâneo dos esgotos de Gotham. Para piorar, a busca do Pinguim por poder vem acompanhada do surgimento da misteriosa Mulher-Gato. É o que basta para o circo pegar fogo, e lá se vai o Natal do pobre Homem-Morcego!

Quanto à estética e gráficos, neste jogo a Konami conseguiu um bom resultado em adaptar todos os elementos importantes do filme dentro das limitações técnicas do NES (um console que, naquela época, já estava no mercado há oito anos). A atmosfera dark e gótica dos cenários traduz bem o clima do filme, e a narrativa do jogo é desenvolvida por meio de várias cutscenes simples, porém eficientes.

Em termos de jogabilidade, Batman Returns deixa de lado a fórmula de ação/aventura dos dois jogos anteriores do personagem no console, adotando um estilo beat’em-up muito semelhante ao segundo e terceiro jogos das Tartarugas Ninja lançados para o NES. A semelhança, aqui, não é mera coincidência: ao contrário dos games anteriores (produzidos pela Sunsoft) o Batman Returns dos NES foi criado pela Konami (a mesma desenvolvedora dos clássicos beat’em-ups das Tartarugas Ninja). Todo esse pedigree não passa despercebido, e se traduz no ótimo visual, trilha sonora e ação rápida que se vê no Batman Returns do NES.

Infelizmente, nem tudo em Batman Returns funciona tão bem quanto nos games das Turtles. Uma coisa que deixa um pouco a desejar é a jogabilidade, prejudicada pelo excesso de combinações de botões necessárias para realização de todos os movimentos indispensáveis para que o herói sobreviva aos ataques das hordas de inimigos que infestam as ruas de Gotham. O “dash” (um rápido ataque em forma de rasteira) é obtido pressionando o botão de pulo e o direcional para baixo ao mesmo tempo. O uso de armas e acessórios (como o bat-bumerangue e a corda) exige pressionar o botão de ataque combinado com o direcional para cima. Para Batman se defender de ataques, é preciso pressionar o botão de pulo e o direcional para cima.

Como dá pra perceber, a sensação que fica é de que a riqueza de movimentos e golpes do personagem ficou prejudicada pelo limitado número de botões do joystick do NES. O resultado é uma jogabilidade que, embora não seja propriamente ruim, não está no mesmo nível de fluidez intuitiva visto em games do NES como TMNT II: The Arcade Game ou em TMNT III: The Manhattan Project.

Apesar de não ser perfeito, Batman Returns é claramente um dos melhores beat’em-ups da geração 8-bits, e merece ser lembrado com mais frequência pelos retrogamers. De qualquer forma, dá pra entender as razões que impediram o jogo de fazer o mesmo barulho que os games anteriores da Sunsoft fizeram. É preciso lembrar que Batman Returns foi lançado já no final do ciclo de vida útil do NES, em 1993, um ano depois do lançamento do filme de mesmo nome. Nessa época, o Super Nintendo e o Mega Drive já eram os consoles que dominavam o mercado, sendo que o NES já se encontrava relegado a um segundo plano.

Além disso, apesar de ser um jogo muito legal, o Batman Returns do NES foi irremediavelmente ofuscado pelo magnífico jogo de mesmo nome lançado na mesma época para o Super Nintendo, pelas mãos da mesma Konami. Mas isso já é história para uma outra ocasião.

FELIZ NATAL!!!

1991: MEMÓRIAS DE UM GAMER PRÉ-ADOLESCENTE – PARTE I

falei aqui no Cemetery Games que 1991 foi um ano histórico para os videogames. Trinta anos se passaram e é o momento certo para fazer uma pequena viagem retrô para aquela época. Poderíamos fazer uma lista de grandes jogos lançados naquele ano, dos novos consoles que surgiram, etc. Vou optar por um approach diferente. Quero compartilhar com vocês um review gamer de 1991, na visão da experiência real de alguém que era fã de videogames naquela época.

Bem, o que estava acontecendo na cena dos games naquele ano? Para começo de conversa, a resposta depende de saber aonde você estava. Nos Estados Unidos e no Japão, o Nintendo 8-bits estava estabelecido, de forma hegemônica, como o videogame definitivo de sua geração. O Mega Drive era a grande novidade da época. Ele já estava no mercado há três anos e era incomparavelmente superior ao NES em termos de hardware, mas ainda não tinha uma biblioteca de games suficientemente forte para ameaçar o reinado do console de 8-bits da Nintendo. O Super Nintendo tinha acabado de ser lançado no Japão, mas ainda era uma novidade distante para o público brasileiro.

Como eu não morava nos EUA nem no Japão, minha realidade gamer de pré-adolescente de nove-para-dez anos de idade por aqui era bem diferente. Eu ainda tinha que me contentar tão somente com o meu bom e velho Atari (mais precisamente, o clone nacional Supergame, da CCE), que ganhei em 1987.

O console já era algo como um item de museu nos países desenvolvidos, mas por aqui ainda tinha uma base muito forte. Estávamos nos anos 1990 e lojas por aqui ainda comercializavam cartuchos de Atari. É verdade, sim. Pode acreditar. Eu comprei o jogo Fisher Price do Atari (na versão nacional da CCE) numa loja no centro aqui da minha cidade em 1991 – na época em que, nos EUA e no Japão, o pessoal já estava começando a jogar Super Nintendo!

A razão disso é óbvia: o preço. Aparelhos como os clones nacionais do NES, ou o Master System comercializado no país pela Tec Toy, custavam caro. Mas o verdadeiro problema não era apenas o preço dos consoles, e sim o preço dos cartuchos. Grosso modo, dá para dizer que quatro ou cinco cartuchos do Master acabavam custando o preço do console! Vamos fazer um comparativo em termos contemporâneos: imagine que você esteja querendo comprar um Playstation 4 e que tenha encontrado um aparelho novo à venda por R$ 2.000,00. Agora imagine que os jogos de Playstation 4 só fossem vendidos em mídia física e que todos eles custassem em torno de R$ 400 cada. Proibitivo, né? Pois é. Essa era a realidade do mercado brasileiro em 1991. Não era fácil ser fã de videogames por aqui na época, ainda mais se você fosse uma criança de nove anos.

Daí a sobrevida do bom e velho Atari por essas bandas. Desde o final dos anos 1980, não apenas os clones nacionais do Atari eram baratos como – principalmente – os cartuchos eram baratos. Para vocês terem uma ideia, eu usava uma caixa de sapatos para guardar meus cartuchos. Acho que eu tinha algo em torno de uns 20 cartuchos, e vale lembrar que vários deles continham quatro jogos (a fabricante Milmar era prolífica neste tipo de cartucho “quatro em um”). Se você tivesse um NES ou Master System em 1991, seria basicamente impossível ter essa quantidade de jogos em casa (a menos que, sei lá, a sua família fosse dona de um poço de petróleo).

Mas, mesmo para quem ainda não tinha saído do Atari, 1991 foi um ano de novidades interessantes. Dois fatores, para mim, são os mais significativos. Primeiro: 1991 foi o ano da popularização das LOCADORAS DE VIDEOGAME no país. Elas seguiam o mesmo modelo das saudosas locadoras de filmes, e abriam um novo mundo de possibilidades para os jogadores. De repente, o preço proibitivo dos jogos deixava de ser um obstáculo para conhecer novos jogos. Era possível ficar babando nas caixas expostas dos jogos e tomar conhecimento da existência de títulos dos mais variados (lembrem-se: tudo isso foi muito antes de as pessoas terem internet em casa).

Além disso, as locadoras disponibilizavam consoles de última geração para que os clientes pudessem jogar no estabelecimento. Nunca me esqueço da primeira vez que vi um Mega Drive numa locadora, com o clássico Golden Axe deixando toda a meninada com os queixos no chão.

O jogo era de uma barbárie visual até então inconcebível. O jogador arrebentava os inimigos a golpes de espada ou machado. Os inimigos faziam cara de dor e GRITAVAM quando morriam.

Eu achava tudo aquilo de um realismo inacreditável! Até então, “matar” um inimigo no videogame significava basicamente atirar um projétil na direção dele e vê-lo piscar e desaparecer. Descer o machado numa pessoa até ela morrer berrando era uma sensação bem diferente. Claro: poucos anos depois, Mortal Kombat chegaria para arremessar para o espaço todos os padrões vigentes de violência em videogames.

A novidade das locadoras de videogame me permitiu conhecer games de Atari que, por um motivo ou outro, haviam escapado do meu radar até então. Foi a partir de 1991, graças às locadoras, que eu vim a conhecer “novos” games do Atari, incluindo aí Missile Command, Space Caverns, Jungle Hunt e Star Wars. De certa forma, as locadoras representaram um “sopro de sobrevida” para o meu Atari.

Claro, nem tudo são flores. Por meio das locadoras, eu também vim a conhecer na época algumas atrocidades do Atari como Raiders of the Lost Ark, Haunted House e E.T. – The Extra Terrestrial (mas admito que a tela de abertura deste era bem caprichada para os padrões do console).

Se você acha que a mania de ver outras pessoas jogando videogame é um fenômeno que começou com o YouTube, então é porque não viveu a época das locadoras de games. A gente fazia exatamente isso na época, só que presencialmente. Era um barato ver o pessoal “reservando” aparelhos para jogar NES ou Mega Drive por 30 minutos ou uma hora. Essa era uma das minhas ideias de suprema diversão na época: ir na locadora, alugar um ou dois cartuchos de Atari para o fim de semana, examinar cada caixinha de jogo exposta nas paredes e ver o pessoal jogando nos consoles. De vez em quando, apesar do meu orçamento limitado de fedelho de nove anos, eu até me aventurava a jogar um pouco também.

E qual foi a segunda grande novidade para quem era gamer pré-adolescente no Brasil em 1991? Respondo: as REVISTAS DE VIDEOGAME! Até onde eu lembro, algumas publicações esparsas especializadas em games já tinham aparecido nas bancas no ano anterior, mas 1991 foi O ano do estabelecimento e consagração deste “novo tipo de mídia” aqui no país. Foi uma mudança cultural muito grande. Antes das revistas de videogame, nossas fontes de informações se limitavam a conversas com amigos e colegas de escola. Não existia internet, não existiam programas especializados em games na TV, não existia nada. A gente só conhecia o que via nas lojas, em comerciais ou na casa de algum amigo. De repente, você podia ir numa banca e comprar uma revista com as últimas novidades do mercado nacional e internacional. Não é exagero dizer que revistas de videogame como Ação Games, SuperGame e VideoGame eram para nós, pré-adolescentes de 1991, o equivalente do YouTube e das plataformas de streaming de playthroughs para a gurizada de 2021.

Bom, pessoal, por enquanto era isso. O velho Caveira vai ficando por aqui. Na próxima parte deste nosso pequeno especial “memórias de 1991”, vou falar mais um pouco sobre as revistas de games daquele ano. Fiquem ligados!