OUT RUN 2019 (1993, Mega Drive)

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O ano de 2019 chega ao fim, e nada melhor do que comemorar com um game das antigas ambientado no “futuro” que agora é passado.

Como todo gamer das antigas já está cansado de saber, Out Run foi um dos jogos de corrida mais revolucionários e aclamados dos anos 1980. Lançado em 1986 pela Sega nos arcades, o game ganhou versões para praticamente tudo o que era máquina de rodar jogos da época.

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Há vários anos, analisamos aqui no Cemetery Games o Out Run original e, num outro post, também as várias conversões do jogo para consoles e microcomputadores.

Como seria de se esperar, depois do sucesso do jogo original, Out Run ganhou várias continuações nos anos seguintes. Nos arcades, apareceram Turbo Out Run (1989) e Outrunners (1992). Nas plataformas domésticas, a franquia continuou com Out Run 3-D (1989), Battle Out Run (1989) e Out Run Europa (1991). Já nos anos 2000, a série ressurgiu com Out Run 2 (2003) e Out Run 2006: Coast 2 Coast (2006). Alguns destes jogos são interessantes, outros são bem legais e outros são medíocres. De qualquer forma, persiste o fato de que nenhum deles conseguiu marcar lugar na história da mesma maneira como o clássico original de 1986.

Porém, é digno de nota que o último suspiro da franquia original (antes da “ressurreição” nos anos 2000) tenha apostado numa fórmula bem diferente do conceito inicial de Out Run. Enquanto o primeiro game de 1986 apostava num clima de praia, sol, linda paisagens naturais e direção aventureira, o capítulo final de Out Run nos anos 90 apostava suas fichas numa corrida de veículos high-tech turbinados. Tudo isso ambientado 26 anos no futuro, no “distante” e “longínquo” ano de … 2019! O resultado dessa piração, é claro, é OutRun 2019.

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A bem da verdade, OutRun 2019 não foi originalmente concebido como um jogo da série. Ele nasceu como um projeto para o Sega-CD e seu nome, inicialmente, seria Cyber Road. Quando foi decidido que o jogo seria lançado para Mega Drive ao invés do Sega-CD, o título foi alterado para Junker’s High. Em algum ponto, sabe Deus por que, os desenvolvedores resolveram atrelar o game à franquia Out Run (o fato de que a distribuidora do game era a Sega, a criadora da franquia Out Run, certamente ajudou).

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Logo de cara, a primeira impressão diante de OutRun 2019 é de que o jogo não tem nada a ver com o clássico original. Na verdade, quando você começa a jogá-lo, ele parece mais uma mistura de F-Zero com Top Gear – seja na ambientação, na estética, na trilha sonora ou na atmosfera do jogo.

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Mas calma lá: os pontos de contato com o Out Run clássico estão por todo o jogo. Primeiro, nas diversas bifurcações ao longo das estradas, que permitem ao jogador escolher diferentes trajetos e explorar cenários diversos. Segundo, na grande variedade de ambientes e locações que vão surgindo ao longo das corridas. O jogo começa com uma ambientação futurista urbana, mas logo você estará pilotando em alta velocidade pelas mais diferentes paisagens naturais. Apesar de Out Run 2019 ter uma jogabilidade e atmosfera bem diferentes do clássico original, a mecânica do jogo guarda muitas semelhanças.

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O jogo conta com quatro fases, que evoluem num nível crescente de dificuldade. Cada fase possui cinco rotas diferentes, com duas bifurcações ao longo da estrada em cada fase. Como cada rota introduz um cenário diferente, temos um total de vinte locações distintas ao longo do jogo – o que garante uma boa variedade de backgrounds ao longo das corridas e torna a experiência visualmente interessante.

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A qualidade gráfica dos cenários varia bastante também: alguns são discretos e sem graça, enquanto outros são realmente muito bonitos e evocam a magia dos cenários do clássico Out Run original. Tudo isso é complementado por uma série de pontes, túneis, subidas, descidas e pequenas rampas de impulso que farão o seu carro literalmente voar na estrada.

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Para ajudar você a chegar vivo (e a tempo!) ao final de cada percurso, seu carro conta com uma turbina traseira que parece saída diretamente de uma aeronave. O turbo é ativado automaticamente quando o veículo atinge altas velocidades. Graças a essa turbina, é possível atingir velocidades absurdas e atravessar a estrada como um raio. No entanto, como já seria de se esperar, o turbo torna o veículo muito mais difícil de controlar na hora de desviar de outros carros, fazer curvas ou evitar uma queda de cima de uma ponte ou viaduto.

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Para quem quiser experimentar Out Run 2019, recomendo a utilização de um bom emulador de Mega Drive. Mas, para quem estiver com pressa ou em busca de uma experiência mais rápida e facilitada, é possível jogar o game diretamente no seu navegador pelo seguinte link disponibilizado pelo Internet Archive: https://archive.org/details/sg_Out_Run_2019_1993_Sega_Sims_US (utilize as setas cursoras do teclado para mover o veículo, a tecla “Alt” esquerda para acelerar e “Tab” para entrar nas configurações do emulador online).

Out Run 2019 está longe de ser um clássico dos games de corrida, mas é legal e merece uma boa conferida – sobretudo por conta das músicas. A jogabilidade é um pouco “dura” e limitada, mas basta um pouco de prática para acostumar o jogador à mecânica do game. Por ter sido lançado já no fim da vida comercial do Mega Drive, o jogo não fez muito barulho e, tecnicamente, era um título sem maiores atrativos para os padrões do ano de 1993. Se tivesse sido lançado três ou quatro anos antes, poderia ter conquistado uma significativa legião de fãs e deixado boas memórias nos jogadores de Mega Drive da época.

O ano de 2019 chegou e passou – mas Out Run 2019 continua à disposição dos retrogamers com a sua concepção de um futuro em altíssima velocidade. É o futuro sendo retratado em gráficos e sons de 16 bits. Como resistir?

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DOUBLE DRAGON (1987, Arcade, Atari, NES, Master System, Mega Drive, MSX, ZX Spectrum, Game Boy)

Já analisamos aqui no Cemetery Games o game que inaugurou o gênero beat’em up (briga de rua), que foi muito popular nos anos 80 e na primeira metade dos 90. Trata-se de Kung Fu Master, de 1984. Também já dissecamos por aqui o game que definiu a estética do gênero, ditando o visual e os elementos narrativos básicos de todos os beat’em ups posteriores: Renegade, de 1986.

Agora, chegou a vez de analisarmos o beat’em up definitivo dos anos 80. O mais inovador, mais memorável, mais influente e de maior sucesso entre todos de sua época. Uma lenda eterna da história dos videogames, consagrada nas máquinas de arcade e posteriormente adaptada para quase todo console doméstico e microcomputador existente em sua época. O primeiro, o único e inimitável DOUBLE DRAGON, lançado em 1987 pela Technos (no Japão) e distribuído no mundo ocidental pela Taito.

A história de Double Dragon está intimamente ligada com a de Renegade. Como já vimos anteriormente, Renegade foi a adaptação ocidental de um game japonês chamado Nekketsu Kōha Kunio-kun. A Technos, é claro, gostou muito do sucesso internacional que a localização do jogo original fez. No entanto, esse processo era muito caro e complexo para a época, pois envolvia a substituição de cenários e personagens inteiros do game original, o que demandava tempo de programação e custos adicionais.

Num belo dia, o programador Yoshihisa Kishimoto estava trabalhando na continuação de Kunio-kun quando foi abordado por seu chefe na Technos, Kunio Taki. O Sr. Taki convenceu Kishimoto que, ao invés de a empresa lançar Kunio-Kun 2 apenas no mercado japonês e depois gastar tempo e dinheiro “localizando” o game para o mercado europeu e americano, seria mais inteligente e lucrativo criar um novo game que fosse, desde o início, aceito no mundo inteiro. Um jogo com temática e visual voltados para os mercados ocidentais, que pudesse ser igualmente bem sucedido dentro e fora do Japão sem precisar de adaptações posteriores. Com isso, Kunio-Kun 2 foi engavetado. Nascia o conceito de Double Dragon.

Quando eu era criança, eu vi ‘Enter the Dragon’, filme de Bruce Lee. Eu me tornei o maior fã dele. Ele fez os mais incríveis filmes de ação do mundo. E eu queria me tornar como ele, e criar os mais incríveis games de ação do mundo. Então, como Bruce é um ator mundialmente famoso, ele me inspirou para o meu novo jogo. É como uma homenagem, sabe? O apelido dele era “O Pequeno Dragão”, certo? Como o conceito de Kunio-Kun 2 era um game para dois jogadores, eu decidi criar os ‘Irmãos Lee’ e chamar o meu jogo de ‘Double Dragon’“, afirma Kishimoto.

Na trama, uma sinistra gangue de rua chamada Black Warriors sequestra Marian, a garota pela qual os irmãos Jimmy e Billy Lee estão apaixonados. Os dois são mestres em artes marciais e não pensam duas vezes antes de atravessar a cidade para resgatar sua amada, descendo a porrada nas hordas de lutadores de rua que integram a gangue. No final do jogo, chegando ao esconderijo dos bandidos, os heróis precisam derrotar o chefão dos Black Warriors, um maníaco chamado Willy – que, infelizmente, tem o desagradável costume de andar por aí carregando uma enorme metralhadora!

Double Dragon seguia com fidelidade a estética consagrada em Renagade: briga de rua em cenários urbanos distópicos e intimidadores, os inimigos representados por diferentes estereótipos de gangues de rua (a piranha seminua com jeitão de garota de programa, o magrão de camisa regata com um taco de baseball, o negão parrudo, etc), golpes variados que incluem socos, chutes e voadoras, uma jornada que começa no centro da cidade e vai até o covil da gangue inimiga, a movimentação em quatro direções diferentes, etc.

Por outro lado, do ponto de vista técnico, Double Dragon botava Renegade no chinelo. Enquanto as fases de Renagade continham apenas duas telas diferentes cada uma (e um mínimo de “scrolling”), em Double Dragon o jogador se aventurava por fases bastante extensas, percorrendo longos trajetos em cenários marcados pela riqueza de detalhes visuais. O ambiente era mais interativo e “vivo”: era possível pegar armas no chão, pegar barris para atirar nos inimigos, subir em escadas, etc.

Double Dragon foi o primeiro beat’em up com um verdadeiro scrolling multi-telas“, diz Kishimoto. “Era difícil estabelecer o que era melhor para isso. Scrolling forçado? Scroll livre? Por exemplo, se tivéssemos usado free scrolling, o jogador poderia caminhar direto até o final de cada estágio sem lutar com ninguém. Mas, como as posições dos inimigos são pré-determinadas, eles aparecem quando você chega em certos pontos da fase. Assim, se o jogador não luta, todos os inimigos da fase iriam aparecer e ficar perseguindo Jimmy e Billy. Isso faria com que houvesse um excesso de sprites na tela, o que faria o jogo travar. Hoje, o conceito e o scrolling de Double Dragon parecem muito naturais, mas naquele tempo foi uma ideia pioneira. Levou tempo para que essas configurações técnicas parecessem tão naturais quanto possível“, explica o programador.

 

Double Dragon logo se transformou num dos games de maior sucesso dos anos 80. Naturalmente, isso levou o jogo a ser convertido para praticamente tudo o que era máquina de rodar games que existia naqueles tempos, incluindo até mesmo – pasmem! – o Atari 2600, que naquela época já contava com respeitáveis 10 anos de existência no mercado! Também saíram versões para Nes, Master System, Game Boy, Mega Drive, Lynx, MSX, ZX Spectrum, Commodore 64, Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, Atari 7800 e para IBM-PC (sistema operacional DOS). Isso, é claro, para não falar do sensacional remake Double Dragon Advance, lançado em 2003 para o Game Boy Advance (e, na minha modesta opinião, possivelmente a melhor versão desse clássico já feita até hoje).

Não conheço todas as versões existentes de Double Dragon, mas joguei várias delas e vou comentar rapidamente as adaptações que conheço:

MASTER SYSTEM: era a versão mais popular de Double Dragon aqui no Brasil, entre o final dos anos 80 e começo dos 90. Até hoje se discute qual versão é melhor, se esta ou a do NES (Nintendo 8-bits). Pessoalmente, prefiro a do Master. Como acontecia com praticamente todas as versões do jogo, essa adaptação era claramente inferior ao original dos arcades, mas ainda assim mantinha com muita fidelidade o espírito e a jogabilidade de Double Dragon, e certamente é um dos melhores beat’em ups de consoles de 8-bits já feitos. Ainda considero uma ótima pedida, principalmente para ser desbravado com dois jogadores ao mesmo tempo.

NES: possivelmente era a versão doméstica mais popular de Double Dragon pelo mundo afora, dado o fato de que o NES era, de longe, o videogame líder em vendas naqueles tempos. É uma versão competente, mas inferior a do Master System, principalmente porque não permite jogo no modo two-players simultâneo. Curiosamente, é a única adaptação doméstica de Double Dragon na qual Kishimoto esteve envolvido. É possível jogar no modo two-player de forma alternada, com o jogador sempre controlando Billy. Numa das maiores bizarrices já vistas na longa história dos videogames, Jimmy Lee foi transformado no chefão final do jogo! Sim, na versão do NES ele é o verdadeiro líder dos Black Warriors, e precisa ser derrotado após o confronto com Willy! Também é digno de nota o fato de que a versão do NES introduzia um modo two-players simultâneo do tipo “mano a mano”, competitivo, na linha do estilo que seria consagrado anos depois pelo clássico Street Fighter II.

 

ATARI 2600: uma piada, não há outra forma de definir essa vergonhosa conversão. Double Dragon era claramente um jogo sofisticado demais para o hardware do Atari, que na época tinha 10 anos de idade e, nos países desenvolvidos, já era considerado um dinossauro completamente obsoleto. O scrolling foi substituído por telas fixas sucessivas, os gráficos são de uma precariedade comovente e a jogabilidade é virtualmente inexistente. Curiosamente, a responsável por essa picaretagem é a Activision, uma das melhores produtoras de games para o Atari 2600, que aqui protagoniza aquele que é provavelmente o seu maior fiasco na plataforma.

ZX SPECTRUM: a adaptação de Double Dragon para ZX Spectrum padecia de todos os defeitos mais comuns dos games do microcomputador britânico, como o visual pobre em cores e efeitos sonoros escassos e limitados. A conversão não era ruim em termos gerais, mas foi recebida com certa indiferença pela mídia especializada da época (ganhou nota 64 da revista Crash e 80 da revista Your Sinclair). É preciso lembrar que a versão de Renegade lançada para o Spectrum foi uma das mais bem sucedidas entre todas, e o Renegade do Spectrum sempre foi considerado um beat’em up muito superior à versão de Double Dragon lançada para o micro, por paradoxal que isso possa parecer. Além disso, vale lembrar que o Spectrum foi uma das poucas plataformas nas quais Renagade recebeu uma continuação – o elogiado Target Renegade, de 1988.

MSX: foi a versão de Double Dragon que eu mais joguei na infância e adolescência. Pobre de mim! A versão do MSX é a mesma do Spectrum, só que piorada em virtude da lentidão, típica de jogos do Spectrum que eram diretamente convertidos para o MSX sem maiores cuidados. Infernalmente lento e padecendo de toda a mediocridade visual e sonora vista no Spectrum, a versão de Double Dragon do MSX carecia de qualquer atrativo digno de nota.

Curiosamente, uma outra versão de Double Dragon para MSX foi lançada pela Zemina em 1989. A versão da Zemina tinha gráficos coloridos e mais cartunescos, mas eu nunca joguei ela. Dificilmente pode ser tão ruim quanto a lentíssima versão para MSX portada do ZX Spectrum.

MEGA DRIVE: é uma versão bem executada, mas que pecou pelo lançamento tardio, em 1992, quando Double Dragon já era considerado um jogo ultrapassado e que tinha perdido definitivamente a coroa de “Rei dos Beat’em Ups” para jogos mais sofisticados como Final Fight e Streets of Rage. É digno de nota o fato de que o Mega Drive recebeu, praticamente de uma vez só, versões de todos os três games da série Double Dragon. No entanto, em razão da época, isso acabou não fazendo muito barulho.

GAME BOY: Pura diversão! Essa versão portátil de Double Dragon foi um dos primeiros jogos lançados para o Game Boy, e certamente era uma das melhores coisas que você poderia jogar num videogame portátil em 1989. Apesar do visual monocromático, a adaptação reproduz com competência a experiência vista nos consoles “grandes” de 8-bits da época (NES e Master System). A velocidade da ação é boa, a jogabilidade é sólida, o visual é legal e os efeitos sonoros são bem executados dentro das limitações do Game Boy. Sem dúvida, uma versão que merece ser conferida por qualquer retrogamer!

A história de Double Dragon, como sabemos, não terminou por aí. O jogo virou uma trilogia formada pelo elogiadíssimo e clássico Double Dragon II – The Revenge (1988) e pelo controvertido e criticado Double Dragon III – The Rosetta Stone (1990). Em 1992, a série ganharia o seu último game no estilo tradicional beat’em up: Super Double Dragon, lançado exclusivamente para o Super Nintendo. É claro que, futuramente, nós vamos analisar e destrinchar todas estas velharias aqui no Cemetery Games e dar sequência à nossa retrospectiva histórica sobre o gênero beat’em up, hoje bastante esquecido pela indústria dos games.

Nas palavras do próprio Kishimoto: “Double Dragon é como um embaixador de uma década: os anos oitenta. Kung fu, brigas de rua, dragões, Bruce Lee, filmes sombrios de ação … Double Dragon é uma fotografia da cultura pop dos anos oitenta. E, é claro, ele era inovador e incrivelmente divertido.

É isso, pessoal! Escolham a versão de Double Dragon que acharem mais apropriada e partam para salvar a pobre Marian das garras dos fascínoras da Black Warriors!

CAPTAIN AMERICA AND THE AVENGERS (1993, Mega Drive)


Acabou de ser lançado nos cinemas o novo filme da Marvel, Os Vingadores (The Avengers), e o negócio é bom demais – seguramente um dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos. Para comemorar, nada melhor do que jogar o game baseado no filme. Deve ser um arraso, né? Com sorte, lançaram até mais de um jogo baseado nesse filmão e …

Peraí, espera aí um pouquinho! COMO ASSIM “não lançaram nenhum game baseado no filme”?!?

É isso mesmo, caros retrogamers. Para espanto e decepção dos gamers de todo o mundo, NENHUM jogo baseado no grande filmão do ano foi lançado. Isso aconteceu porque a produção do game (com versões previstas para Xbox 360, PlayStation 3 e PC) estava a cargo dos estúdios THQ Australia e Blue Tongue Entertainment, sendo que os dois foram fechados pela THQ, proprietária de ambos. Com isso, o game acabou cancelado.

Claro, nada impede que a Marvel venha a lançar algum jogo logo para capitalizar em cima do sucesso do blockbuster dos Vingadores. Mas pelo menos até o presente momento, o único jeito de ver esse grupo de super-heróis na tela dos videogames é … voltando ao passado! Felizmente, isso é o que nós fazemos de melhor por aqui. Portanto, limpem bem os pés antes de entrar no nosso DeLorean voador e lá vamos nós, voltar para o começo dos anos 1990.

Estamos no verão de 1993. Num belo dia de tédio na praia, comprei a mais recente edição da saudosa revista Videogame (a história dessa edição eu já contei nesse post aqui, lembram?). Um dos games destrinchados na publicação era Captain America and the Avengers do Mega Drive.


A primeira coisa que me chamou a atenção é que eu já conhecia um game de mesmo nome lançado para o Nintendo 8-bits, e que aliás eu achava bem legalzinho. Explico: a Data East lançou o jogo originalmente nos arcades, em 1991, e depois lançou versões dele para Mega Drive, Super Nes, Game Gear e Game Boy. Todos eram basicamente adaptações simplificadas do original do arcade, exceto pelo game do NES, que era um jogo de plataforma completamente diferente, embora estrelado pelos mesmos personagens e ostentando o mesmo título.


Pelas fotos na revista, o jogo parecia interessante. Algum tempo depois, ainda na praia, eu tive oportunidade de jogá-lo … e gostei! Os gráficos não eram nenhum assombro e o jogo não era uma revolução nem nada do tipo, mas na época, com meus 11 anos de idade, fiquei particularmente satisfeito com as brigas em cenários urbanos e com a diversidade das fases. O game tem fases de sair dando soco no meio da rua, de sair voando e atirando em inimigos pelos céus, fases subaquáticas, no espaço e por aí vai. Devo dizer que, na época, eu gostei bastante.


Uma análise um pouco mais atenta do jogo, é claro, não deixa dúvidas no sentido de que a minha tenra idade me impediu de enxergar alguns defeitos mais óbvios do game. Os gráficos mais parecem saídos de um console de 8-bits, a música e efeitos sonoros são ruins (as vozes digitalizadas são piores do que as do clássico Altered Beast), a jogabilidade é confusa e pouco precisa e a animação é mal acabada, com cara de “frame skipping”.

Basta ver que a própria revista Videogame (que era uma “mãe” com quase todos os games) na época deu nota 6 para os gráficos, 6 para a música/efeitos sonoros e 7 para a diversão. Ou seja, nem a habitualmente deslumbrada publicação brazuca se convenceu com a estreia dos Vingadores no Mega Drive. Logo na tela de abertura, quando você ouve uma voz dizer “VÃ AVÂNGÃRS” no que parece ser o Capitão América com a boca cheia de paçoquinha, já dá pra perceber que os aspectos técnicos do jogo deixam a desejar.

Na trama do game, o terrível Caveira Vermelha (o mais tradicional inimigo do Capitão América), sempre afinzão de dominar um pouco de mundo, coloca sob seu comando uma equipe de super criminosos prontos para espalhar o caos por todo o globo. O pior de tudo, no entanto, é que tudo isso é só uma distração. O verdadeiro problema é que o ominoso vilão está terminando de construir uma terrível arma gigante laser em pleno solo lunar. Quando pronta, essa super arma dará ao Caveira vermelha o controle absoluto sobre o destino da Terra. Só quem pode impedí-lo, é claro, é o grupo dos heróis mais poderosos da Terra, Os Vingadores!

Mas não fique tão animado ainda. Se o seu plano era sair por aí detonando bandidos com o Hulk ou o Thor, prepare-se para um balde de água fria: a equipe dos Vingadores que aparece nesse game não é a mesma do filme. Viúva Negra, Thor e Hulk estão ausentes nesse game. Aqui, o supergrupo é representado por apenas quatro heróis: Capitão América (de longe, o melhor personagem), Homem de Ferro, Arqueiro e o misterioso Visão, uma espécie de andróide que mais parece o C3PO de capa e cueca por cima das calças.

A variedade de cenários nesse game permite uma boa variação também na mecânica do game, alternando entre beat’em up e tiro/aventura. Os personagens pequenos e gráficos desinteressantes até não comprometeriam tanto o conjunto da obra se a jogabilidade não fosse tão sofrível. O Captain America and the Avengers do Mega Drive é um “button-smasher” absolutamente sem cérebro, estratégia ou precisão. A movimentação dos personagens também acaba não ajudando muito.

Apesar desses defeitos nada perdoáveis, algo que sempre me agradou nesse game foi a sua capacidade de reproduzir com competência uma atmosfera de história em quadrinhos. A ação variada do game, cheia de idas e vindas e bizarrices (rola até um combate com um polvo gigante robótico!) realmente dá a impressão de que o game é uma HQ dos Vingadores se desenrolando na tela. Não é um trabalho realizado da melhor forma possível, mas os fãs de quadrinhos – e principalmente do Capitão América e dos Vingadores – certamente se divirtirão com o jogo, caso consigam ao menos sobreviver à primeira fase!

Longe de ostentar aquela qualidade de visual e de gameplay de games de super-heróis daqueles tempos, como por exemplo o sensacional War of the Gems (1996, Super Nes), esse Captain America and the Avengers pelo menos coloca o jogador no controle de uma aventura repleta de ação no melhor estilo das grandes aventuras das HQs. Sem falar que socar o Caveira Vermelha é sempre um estímulo reconfortante!

Não cheguei a jogar as versões do Game Gear e do Game Boy, mas desconfio que são bem inferiores à do Mega Drive – que já estava longe de ser perfeita. Recomendo certa cautela, portanto. A versão Super Nes é um pouco melhor acabada quanto aos efeitos sonoros e apresentação da história no começo do game, mas é essencialmente o mesmo jogo do Mega Drive, sem melhorias muito significativas.

Claro, há ainda o exclusivo Captain America and the Avengers do Nintendo 8-bits, mas isso já é história para uma próxima vez!

Matando a saudade do Mega Drive no Steam

Para quem é saudosista do bom e velho Mega Drive e usa o serviço de compra de games pela internet STEAM, há uma série de opções legais e relativamente baratas para matar a saudade do mais icônico de todos os videogames da Sega já lançados até hoje.

Entre as várias opções, a grande pedida é o SEGA Mega Drive Classics Collection, que custa US$ 29,96 (cerca de R$ 54,00) e contém 40 games do Mega prontinhos para serem executados em qualquer PC com Windows (não precisa ficar baixando emuladores ou roms e nem configurar nada). Entre os 40 títulos, há uma série de clássicos absolutos do Mega Drive – e outros nem tanto. Confira a lista completa: Comix Zone, Crack Down, Ecco the Dolphin, Ecco: The Tides of Time, Gain Ground, Golden Axe, Golden Axe II, Shadow Dancer, Shinobi III: Return of the Ninja Master, Space Harrier II, Vectorman, Altered Beast, Alex Kidd in the Enchanted Castle, Bonanza Bros., Columns, Ecco Jr., Eternal Champions, Fatal Labyrinth, Galaxy Force II, Kid Chameleon, Ristar, Super Thunder Blade, Alien Storm, Bio-Hazard Battle, Columns III, Decap Attack, ESWAT: City Under Siege, Flicky, Sword of Vermilion, Virtua Fighter 2, Alien Soldier, Gunstar Heroes, Landstalker: The Treasures of King Nole, Light Crusader, Shining Force, Shining Force II, Shining in the Darkness, Streets of Rage, Streets of Rage 2 e Wonder Boy III: Monster Lair.

Ponto alto do pacote: o preço. Comprado separadamente, cada jogo sai por US$ 2,99 (cerca de R$ 5,40). Nesse pacote, cada um dos games acima mencionados sai por míseros R$ 1,35 – sim, UM REAL E TRINTA E CINCO CENTAVOS por jogo! Fala sério: comprar clássicos excelentes como STREETS OF RAGE 2, GOLDEN AXE ou SHADOW DANCER por pouco mais de 1 real parece até piada, não é mesmo?

Ponto baixo do pacote: a ausência de inúmeros títulos indispensáveis. A insuperável coletânea Sonic’s Ultimate Genesis Collection (lançada em 2009 para Xbox 360 e Playstation 3) ainda continua dando de dez a zero em termos de títulos oferecidos. Esse SEGA Mega Drive Classics Collection não traz nenhum game do Sonic, nenhum Phantasy Star e deixa de fora Golden Axe III e Streets of Rage III.

Mesmo assim, essa coletânea do PC apresenta algumas vantagens pontuais sobre a coletânea dos consoles, como por exemplo a presença dos clássicos Shadow Dancer, Eternal Champions e Gunstar Heroes no repertório de títulos.


Outra boa notícia é que, se você estiver disposto a pagar um pouco mais, os games da clássica trilogia Sonic do Mega Drive estão todos disponíveis no Steam, a US$ 4,99 (cerca de R$ 9,00) cada. E o mais legal é que, recentemente, foi disponibilizado pelo mesmo preço o célebre SONIC CD do Sega CD, um game que sempre aparece nas listas de melhores jogos do Sonic de todos os tempos. Por cerca de R$ 36,00 é possível, portanto, comprar todos os três clássicos games do Sonic do Mega Drive e ainda o Sonic CD. Fala sério, não chega a ser nenhuma fortuna também, né? Para ficar perfeito, só falta o Steam oferecer Golden Axe III, Streets of Rage III e a saudosa quadrilogia Phantasy Star do Mega. Daí os usuários de PC finalmente não teriam mais nenhum motivo para invejar a maravilhosa coletênea Sonic’s Ultimate Genesis Collection …


Alguém pode perguntar: “Mas pra quê isso? Não é muito mais fácil e barato jogar esses games com emuladores e roms?”. Bem, se você sabe mexer com emuladores e roms (acredite, muita gente tem muita dificuldade com isso) e não se importa com a polêmica sobre o uso de roms ser um tipo de pirataria, com certeza os emuladores são uma opção mais barata e com muito mais recursos. Mas, para quem não tem intimidade com emuladores ou não quer entrar no problema da (i)legalidade das roms, pagar R$ 54,00 por 40 games de Mega Drive é certamente uma ótima pedida …