MIDNIGHT MUTANTS (1990, Atari 7800)

Feliz Halloween, corpos e almas retrogamers!

Desta vez, para o sanguinolento deleite de vocês, desenterro da sepultura essa pequena jóia de horror esquecida no tempo. Devo admitir que esse aqui estava há anos na minha lista para ser analisado e destrinchado aqui no Cemetery Games. A hora chegou. Com vocês, MIDNIGHT MUTANTS do Atari!

A Maldição de Midnight Mutants

Talvez você esteja se perguntando: “Ué, mas como é que eu nunca ouvi falar desse jogo de terror lançado para o Atari, que foi um console tão famoso?“. Ah, mas é aí que está o pulo do gato! O console para o qual Midnight Mutants foi lançado não é o icônico Atari VCS (que posteriormente ficou conhecido como Atari 2600), pioneiro ícone da indústria dos games. Não: ESTE Atari é o obscuro, fracassado e tardio Atari 7800 – o terceiro console da empresa de mesmo nome, lançado em 1986 como uma tentativa de resposta ao sucesso do NES, o lendário console de 8-bits da Nintendo. Só que, assim como seu antecessor Atari 5200, o 7800 não impressionou ninguém, não conseguiu conquistar um espaço no meio da concorrência, não vendeu quase nada e foi definitivamente descontinuado em 01 de janeiro de 1992 – apenas cinco anos e meio depois de seu lançamento.

E essa, meus amigos e amigas, foi a maldição de Midnight Mutants: ter sido lançado para um console moribundo e fracassado. Afirmo, com a maior tranquilidade, que se Midnight Mutants tivesse sido lançado para alguma plataforma popular da época (particularmente, acho que ele combinaria muito com o microcomputador Commodore 64), o jogo teria se transformado num hit e seria universalmente lembrado até hoje como um dos melhores games de horror da era 8-bits. Tristemente, no entanto, o jogo terminou sepultado na obscura e reduzida biblioteca de jogos do fracassado Atari 7800, sendo até hoje um título exclusivo deste console.

A trama

Em Midnight Mutants, o jogador encarna um jovem chamado Jimmy Harkman. Estamos na noite de Halloween no ano de 1992 e Jimmy descobre, chocado, que o seu querido avô (o “Grampa“) foi vítima de um feitiço maligno, tendo sido aprisionado dentro uma abóbora. O autor desta excêntrica maldade é o Dr. Evil (uau, quanta criatividade!), um sinistro estudioso de ocultismo e feiticeiro, que de alguma forma conseguiu retornar ao mundo dos vivos após quase dois séculos e meio.

Como é mostrado na apresentação do jogo, Dr. Evil foi incinerado em público na noite de Halloweem no ano de 1747, por ordem de um ancestral de Jimmy chamado Johnathon Harkman. Antes de morrer, o vilão jurou vingança e prometeu que um dia retornaria. Bom, tá explicado o ódio do cara pela família de Jimmy e do Vovô, e não pra dizer que foi por falta de aviso!

O jogo

Embora “Grampa” (o Vovô) esteja aprisionado pelo Dr. Evil, ele consegue se comunicar telepaticamente com Jimmy (você!) e irá orientar as ações do protagonista durante o jogo. Em síntese, a sua missão é obter uma série de armas, power-ups e itens que tornarão Jimmy capaz de derrotar os monstros e espíritos que assombram as redondezas e de eliminar os três grandes vilões do jogo.

O primeiro destes três “chefões” do jogo é o horripilante Simon Yager, um aprendiz do Dr. Evil que, por conta de experimentos genéticos, foi misteriosamente transformado em um carneiro chifrudo. Yager, então, começou a beber sangue humano na crença de que isso restauraria sua forma original. Como resultado, ele perdeu toda a pele e foi transmutado em uma gigantesca CAVEIRA DE CARNEIRO CHIFRUDO! Tá bom ou quer mais?

O segundo assecla tinhoso do Dr. Evil é Damon Mohler, um ex-optometrista psicopata que, em vida, arrancava os olhos de suas vítimas e os colecionava num tanque cheio de sangue. Por conta de um acidente, ele ficou cego e então um ajudante implantou nele um novo par de olhos. Só que os novos olhos do Dr. Mohler estavam cheios de sangue contaminado, o que levou o maníaco a uma morte horrenda e dolorosa.

O bizarro optometrista então foi enterrado numa cripta ao lado de sua coleção de olhos, e hoje é uma fantasmagórica e cega caveira gigante que assombra o lugar buscando vingança contra as pessoas vivas dotadas de visão.

O último monstrengo, é claro, é o satânico Dr. Evil – que mais parece um mal-encarado dublê de Drácula depois de uma gripe forte.

Midnight Mutants não é um jogo muito longo. Se você souber direitinho tudo o que precisa fazer e a ordem dos lugares para explorar, é possível terminar o jogo em torno de 40 minutos. Mas, na prática, a coisa não é tão simples. Não espere um passeio no parque: no todo, esse jogo é DIFÍCIL PRA CARAMBA!

Explico: além da sua barra de saúde (que pode ser restaurada e também ampliada por certos itens ao longo da partida), o jogador tem um índice de contaminação do sangue. Toda vez que Jimmy sofre dano por conta do ataque de algum monstro, seu sangue se torna ligeiramente mais contaminado. Se o índice de pureza chegar em 0%, o protagonista bate as botas, veste o paletó de madeira e vai direto pra Terra do Pé Junto! Isso torna tudo muito mais complicado, pois frequentemente é mais difícil para o jogador manter seu índice de pureza do sangue do que cuidar da barra de energia em si.

Existem cinco itens cruciais para Jimmy finalizar sua missão com sucesso. O primeiro é uma das diferentes variedades de armas existentes no jogo (começando pela faca), que vão sendo automaticamente substituídas quando uma arma melhor é conquistada. A faca também é fundamental para abrir a porta trancada da capela, que levará o herói a encontrar o segundo item indispensável do jogo: a cruz, que repele todos os ataques de morcegos. O terceiro item é a chave, que permite acesso à cripta na qual repousa o fantasma do malévolo Dr. Mohler.

O quarto item é o colar de pérolas, que permite que o jogador caminhe sobre as águas. Com ele, Jimmy pode entrar na fonte que aparece logo no começo do jogo e alcançar o quinto e último item fundamental: o coração, que garante a purificação automática e permanente do sangue do herói – o que torna a missão bem mais fácil (mas não muito, já que é basicamente impossível ter poder suficiente para obter o colar e o coração antes de o jogador já estar próximo da parte final da aventura).

Conclusão

Além de apresentar gráficos excelentes e efeitos musicais bem legais para os padrões do Atari 7800, Midnight Mutants se destaca pela sua combinação muito divertida de horror e humor. O visual sinistro e pavoroso dos chefões e a ambientação horrorífica vêm acompanhada de diversas tiradas cômicas – como quando, aleatoriamente, o Vovô afirma que “Quer sua Mutant TV” (fazendo referência ao clássico bordão “I Want my MTV” do canal musical televisivo norte-americano nos anos 1980), ou comenta que “Walking Dead don’t need shoes” (“mortos andantes não precisam de calçados”).

O destaque, no entanto, vai para a interessante presença do Vovô da famosa The Munsters, clássica série de TV dos anos 1960. Curiosamente, apesar de se tratar claramente do personagem da série (com o mesmo visual vampiresco e os traços do saudoso ator Al Lewis), o jogo em nenhum momento afirma que ele é um vampiro (ao contrário da série) e tampouco identifica o personagem com o seriado ou com os demais membros da monstruosa família do antigo show televisivo, chamando ele apenas de “Grandpa” (apelido para “Vovô”, embora o jogo adote a grafia ainda mais informal “Grampa“) – que é a maneira como ele era habitualmente referido na série. A presença do carismático personagem, ainda que fora de qualquer contexto ligado ao seu material de origem, deixa Midnight Mutants muito mais divertido e interessante – especialmente para fãs de filmes e séries de horror.

Para concluir, Midnight Mutants é diversão horrorífica retrogamer da melhor qualidade. Sua combinação de humor com elementos exagerados e grotescos de horror é muito fora dos padrões da época – quase única. Ele tem todos os requisitos para ser um “cult classic”, e certamente seria se tivesse tido a sorte de brilhar em algum console ou computador mais popular. É realmente uma pena que o game nunca tenha recebido conversões para outras plataformas – ou até mesmo um remake moderno. De qualquer forma, graças à popularização dos emuladores, hoje em dia é muito fácil poder experimentar essa esquecida e injustiçada pérola de terror 8-bits.

Feliz Halloween!!!