E-SWAT (1990, Master System)

Entre o final dos anos 80 e começo dos 90, Robocop era um dos heróis prediletos da garotada. Tanto em virtude dos filmes quanto dos videogames inspirados nas películas, o “Policial do Futuro” fazia o maior sucesso e era uma das referências básicas da cultura pop da época, em meio ao Exterminador do Futuro, o Batman, as Tartarugas Ninja, etc.

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O problema é que, naquela época, a Nintendo basicamente monopolizava o trabalho das produtoras third parties, atraindo todas as franquias famosas dos games e das adaptações cinematográficas para o seu ultra-popular console da época (o campeão supremo de vendas NES, também conhecido como “Nintendo 8-bits”). Essa situação causava sérias dificuldades para a Sega (que, na época, era a número dois da indústria dos games e única adversária de peso da Nintendo), pois a empresa basicamente tinha que carregar o seu console Master System “nas costas”, já que a plataforma dependia essencialmente dos games produzidos pela própria Sega. Ou seja: enquanto Robocop brilhava no NES e em vários microcomputadores da época, o Master System ficava chupando o dedo (games do Robocop para o Master só vieram a ser lançados anos depois, já nos últimos suspiros da vida útil do console).

Mas a Sega, que não era boba nem nada, pegou a sua própria carona no sucesso de Robocop ao lançar nos arcades, em 1989, o game Cyber Police E-SWAT. Nele, um destemido policial, após mostrar seu valor em missões bem sucedidas pelas ruas de uma metrópole assolada pela criminalidade, é recrutado para participar de um sofisticado esquadrão de patrulhamento urbano no qual seus membros usam poderosas armaduras que os deixam parecendo enormes e ameaçadores ciborgues.

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O jogo não foi nenhuma revolução, nem fez o mesmo sucesso do popular arcade do Robocop, mas foi suficientemente bem recebido para ganhar uma série de conversões para plataformas domésticas, incluindo o Mega Drive, os microcomputadores Amstrad CPC, ZX Spectrum, Commodore 64, Amiga, Atari ST e, por fim, também para o Master System. Nas plataformas domésticas, o game foi renomeado para E-SWAT: City Under Siege.

Embora exista consenso de que a versão do Mega Drive é a melhor adaptação de todas (muitos, aliás, consideram que o jogo do Mega é até melhor do que o original dos arcades), a versão do Master System é a minha predileta por razões sentimentais. Nada mais natural, na medida em que foi a única versão que eu joguei na época, embora isso tenha ocorrido já alguns anos depois do lançamento do jogo, lá por volta de 1994 ou 1995. Até hoje, ainda considero o E-SWAT do Master como sendo seguramente um dos melhores jogos do console, embora seja inegável que ele padece de uma série de problemas técnicos que o tornam claramente inferior às versões arcade e Mega Drive.

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O E-SWAT do Master System padece de personagens de tamanho reduzido, uma animação falhada e cheia de frame-skipping, frequentes slowdowns e de uma jogabilidade “dura”, que exige um pouco de prática e familiaridade (leia-se “paciência”) para ser devidamente compreendida. Os comandos são muito simples: um botão para atirar, um botão para pular. Mas nem tudo são flores: soltar o tiro da arma especial (cuja munição é encontrada ao longo das fases) requer o aperto preciso e simultâneo dos dois botões. Parece fácil, mas não é. Esse “especial”, basicamente, funciona só quando quer.

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É, a jogabilidade é assim falha mesmo. Você vai trincar os dentes de ódio ao estar na frente de um chefão de fase enorme e ominoso, crivando você de balas enquanto você cai morto na frente dele tentando em vão executar a porcaria do tiro especial. Lembra do lance da paciência? Pois é …

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Embora seja fácil descer a lenha no jogo do Master System, comparando-o com as versões arcade e Mega Drive, é impossível deixar de reconhecer as muitas qualidades do jogo. A jogabilidade pode ser sofrível – mas, uma vez dominada, o jogo flui com bastante tiroteio, violência e ação. O design de fases é interessante, os gráficos são bem caprichados (apesar dos sprites pequenos) e a trilha sonora é uma das mais inspiradas já vistas no Master System, ostentando todo aquele jeitão clássico de composições da Sega da época, apesar das inegáveis limitações técnicas do hardware sonoro do Master. Outra curiosidade: a armadura robótica do herói, por incrível que pareça, ostenta um design mais legal no Master System do que na versão do Mega Drive. Ponto para o velho console de 8-bits!

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A verdade é que você não encontrará, no console de 8-bits da Sega, um game no estilo Robocop mais legal do que E-SWAT. Para ser sincero, nem os tardios games estrelados pelo Robocop no Master são tão legais quanto E-SWAT. Só isso já explica a razão de ele ser um título imperdível do Master System naqueles tempos.

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O E-SWAT do Master se divide em cinco fases não muito longas, divididas em subníveis bastante curtos. Em função disso, o jogo apresenta uma boa variedade de cenários e de chefes (e sub-chefes) de fase. Na realidade, a bandidada “rasa” que infesta as fases dá pouco ou nenhum trabalho para o jogador. O bicho realmente pega nos chefões de fase mais desafiantes. A maioria deles não chega a ser tremendamente difícil de derrotar, mas há três ou quatro desgraçados que farão você penar e morrer de novo e de novo e de novo, até dominar perfeitamente seus padrões de ataque e ter a sorte de fazer o maldito “tiro especial” funcionar nos momentos de necessidade. O jogo tem dois níveis de dificuldade e alguns continues. Não chega a ser um game monstruosamente difícil, mas alguns chefões são realmente chatos de vencer e o jogo exige algum treino para ser superado.

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É interessante o fato de que, apesar de estarmos falando em “conversões do arcade”, o jogo do Master System é quase  completamente diferente do E-SWAT do Mega Drive – que, por sua vez, lembra muito pouco o original dos arcades. É quase como se houvesse três versões absolutamente distintas do jogo (sem contar as já referidas adaptações para microcomputadores, que são menos dignas de interesse).

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Assim como na jogabilidade e no design de fases, o jogo do Master System também tem uma trama diferente das outras versões de E-SWAT. Enquanto que na versão do Mega Drive o herói combate uma sinistra organização criminosa chamada E.Y.E, no jogo do Master a missão é derrotar a vasta gangue de um perigoso cientista louco chamado Balzac, que está assolando a metrópole de Liberty City com ações criminosas. Até chegar no excêntrico bandidão, nosso herói ciborgue terá que enfrentar uma grande variedade de inimigos, que inclui bandidos de rua, um gordão que cospe fogo, um atirador de bumerangue que se esconde atrás de uma garota amarrada numa cadeira (!), um enorme robô que atira por todos os lados, um bárbaro seminu que corre de um lado para o outro armado apenas com um machado (!!), uma caveira robótica voadora que mais parece o crânio do Exterminador do Futuro e por aí vai.

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O E-SWAT do Master System nunca foi um jogo perfeito, seu protagonista nunca teve o apelo e a popularidade do icônico Robocop e as várias deficiências técnicas do jogo o impediram de envelhecer bem. Mas nada disso muda o fato de que ele ainda é um dos melhores tiroteios que um retrogamer pode encontrar no Master System. Se você tiver a paciência de se acostumar com a animação tosca e com a jogabilidade limitada, o prazer de passear pelas caóticas ruas de Liberty City dentro de uma armadura robótica – passando fogo numa infinidade de inimigos humanos e robóticos – certamente se revelará uma experiência compensadora. Com toda certeza, o “Robocop da Sega” marcou época entre os jogadores de Master System e sempre terá um espaço de honra em nossas memórias retrogamers.

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