Feliz Halloween! Para comemorarmos a data mais horrorífica do ano, aqui vai o review de um dos games mais aterrorizantes de todos os tempos e … tá, esse game não é assim “tão” aterrorizante. Ok, ok, esse jogo não é NADA aterrorizante e o resultado da sua mistura de elementos de horror infantil com narrativa cômica mais parece um especial televisivo de Halloween para crianças do que um filme de terror. Mas tudo isso só torna MediEvil , lançado em 1998 pela Sony para o Playstation-1 (ou “PsOne”), um game especialmente adequado para esta data.
A trama do game é a seguinte: estamos no século XIII, no fictício reino britânico de Gallowmere. Um feiticeiro maligno chamado Zarok está tentando tomar o poder, e para combatê-lo o Rei envia suas tropas, lideradas pelo lendário cavaleiro Sir Daniel Fortesque. “Sir Dan”, segundo a lenda, comandou o avanço das tropas do reino sobre as legiões demoníacas de Zarok e, embora mortalmente ferido, conseguiu ele mesmo matar o feiticeiro antes de tombar no campo de batalha.
Um século depois, no entanto, Zarok inexplicavelmente ressurge das sombras e lança um feitiço para roubar as almas dos moradores de uma aldeia próxima para reanimar cadáveres para o seu exército de mortos-vivos. Ocorre que o feitiço necromante de Zarok acaba reanimando também os restos esqueléticos de Sir Dan, que se vê retornando da morte e com a oportunidade de finalmente derrotar Zarok de uma vez por todas.
Nesse ponto é revelada a constrangedora verdade: embora as lendas tenham ilustrado o cavaleiro como um herói de guerra, na realidade ele foi simplesmente o primeiro soldado do reino a ser morto na Batalha de Gallowmere, logo na primeiríssima saraivada de flechas lançadas pelas hordas de Zarok. Mais do que uma nova vida, Sir Dan ganha, assim, a chance de se redimir do seu vergonhoso passado e de fazer jus à fama de herói que a história veio a lhe dar.
A apresentação e ambientação do jogo tem aquele clima de animação de terror para crianças, lembrando o espírito de filmes como “O Estranho Mundo de Jack“, de Tim Burton (claramente uma inspiração para a atmosfera do game). Os cenários do jogo são bem caprichados, assim como as divertidas cut-scenes que narram a trama.
Em termos visuais, MediEvil estava longe de fazer jus a todo o potencial do PsOne, mas no geral os gráficos são bons – especialmente das locações em geral. Como já seria de se esperar, o game padece das limitações do hardware do PsOne e faz uso dos recursos então tradicionais para “contornar” esses problemas. Traduzindo: espere ver cenários se formando do nada no horizonte, escuridão total cobrindo as partes mais distantes do cenário e coisas semelhantes. Tudo isso era bastante comum na geração PsOne, e o que importa mesmo é que MediEvil tem um frame-rate rápido e boa jogabilidade. Sem falar que, para esse tipo de jogo em particular, os recursos utilizados para economizar memória e processsamento de certa forma contribuíram para a atmosfera sombria do jogo (quem já jogou o clássico e pioneiro Silent Hill do PsOne, por exemplo, vai entender perfeitamente o que estou dizendo).
O estilo do jogo é ação/aventura plataforma em 3D e, logo que você começa a jogar a primeira fase, ambientada num cemitério, e de repente um caixão levanta do chão e dele salta um morto-vivo em sua direção, é impossível que um certo game de terror clássico dos anos 80 não venha imediatamente à cabeça do jogador. É, você acertou, a influência do célebre Ghosts ‘n Goblins salta aos olhos em MediEvil. Pra mim, MediEvil simplesmente É o Ghosts ‘n Goblins da Geração Playstation. Não existe nada que tenha chegado mais perto da atmosfera e do estilo do clássico oitentista na Quinta Geração de videogames. Na geração seguinte, a Capcom lançou os dois games da série Maximo, que eram basicamente “continuações espirituais” de Ghosts ‘n Goblins, com gráficos tridimensionais no lugar do antigo side-scrolling com gráficos em bitmap. Mas, verdade seja dita: embora os dois Maximo sejam legais, eu ainda gosto muito mais de MediEvil!
Os méritos de MediEvil falaram alto, e o jogo foi bastante aclamado na época do lançamento. A revista Game Magazine deu nota 91% para o jogo, enquanto que o site IGN o descreve como “um jogo divertido e um dos clássicos do Playstation“. O sucesso levou ao lançamento da continuação MediEvil 2 em 2000, com a história dessa vez ambientada na Londres do Século XIX. MediEvil 2 também é um bom jogo, mas como foi lançado já no final da vida útil do PsOne, não fez tanto barulho quanto o primeiro game.
Em 2005, os fãs de MediEvil foram surpreendidos com o lançamento de MediEvil: Resurrection para o PSP, o console portátil da Sony.
O jogo é uma espécie de remake do MediEvil original, mas com inúmeras alterações na narrativa, no roteiro e no design e estrutura das fases. O game é hilário, divertidíssimo e absolutamente imperdível – mesmo para quem não conhece o original, mas principalmente para os fãs do primeiro MediEvil. Além da significativa melhoria gráfica em relação ao jogo original de 1998, MediEvil: Resurrection surpreende pelo bom humor escrachado, que por vezes torna o jogo quase uma auto-paródia do original. A narrativa do primeiro MediEvil já era irreverente e bem-humorada, mas em MediEvil: Resurrection a coisa virou praticamente uma comédia pastelão, com tiradas cômicas e situações hilárias surgindo a todo instante.
Qual MediEvil escolher? Bem, se você quiser dar prioridade para o aspecto retrogamer, minha sugestão sem dúvida é encarar o MediEvil original do PsOne. Se a intenção é ter a experiência mais polida, sou obrigado a recomendar o remake do PSP. Mas, se você curte esses games com clima de Halloween e Ghosts ‘n Goblins, não tenha dúvidas: jogue bastante os dois – primeiro o clássico do PsOne, depois o remake, já que a comparação é que acaba rendendo algumas das melhores risadas. E, se sobrar um tempinho, MediEvil 2 também merece alguma atenção. De resto, só podemos torcer para que a Sony não demore muito para nos presentear com novas aventuras de Sir Dan, o cavaleiro morto-vivo!