GO GAME BRASIL – CONFIRA O QUE ROLOU NA FEIRA!

Bem-vindos de volta, amigos retrogamers! Aproveitei o último sábado (24/07) para visitar a Go Game Brasil, no Barra Shopping, em Porto Alegre. Para quem não sabe, trata-se uma feira inteirativa de videogames, com exposição de jogos antigos e atuais (você pode conhecer mais sobre as propostas da feira em www.gogamebrasil.com.br). É claro que o Caveira que vos fala não poderia deixar passar essa oportunidade, até porque não é todo dia que uma coisa legal dessas, relacionada a games antigos, aparece aqui há apenas 40km de onde eu moro. O ingresso é meio salgado, R$ 40,00 por pessoa, mas isso não me desestimulou.

Mas e aí, a Go Game Brasil é tudo o que promete? Bem, a feira tem seus aspectos positivos e negativos. Vou começar pelos positivos.

De cara, a feira tem o mérito de reservar um amplo espaço (mais ou menos metade do tamanho total da feira) para os games antigos. Telejogo Philco, Atari, Odyssey 2, Nes, Master System, Mega Drive, Super Nes, Saturn, Nintendo 64, Dreamcast, Playstation-2, Game Cube e Xbox, estão todos lá para apresentar aos visitantes a história dos videogames de 1977 até aqui. A escolha dos consoles, a meu ver, foi bastante competente, pois privilegiou os principais representantes de cada geração de consoles em detrimento de sistemas obscuros ou de menor impacto.

Cada um dos consoles tinha um game à disposição para ser experimentado pelos visitantes, e a escolha desses games, no geral, foi acertada: o Atari estava representado pela sua icônica (embora criticadíssima na época) versão do clássico Pac-Man, o Odyssey rodava Pick Axe Pete (que ficou famoso aqui no Brasil por ter sido rebatizado de “Didi na Montanha Encantada“), dois NES apresentavam Elevator Action e Ninja Gaiden II, o Super Nes estava rodando Super Street Fighter II, o Nintendo 64 exibia Waverace 64 e o Playstation rodava Tony Hawk Pro Skater 2, que foi uma febre na sua época. Algumas escolhas, no entanto, foram menos sábias: não consigo entender por que escolher California Games para o Master System, em detrimento do jogo-símbolo do console, Alex Kidd in Miracle World. Mas nenhum desses casos chegou a ser uma falta grave. Essa seção, é óbvio, foi a que eu mais curti. Foi a primeira vez que joguei Waverace 64 (game que adoro) num N64 de verdade, e não num emulador. Além disso, acho que faziam quase 25 anos que eu não jogava num Odyssey de verdade.


Uma segunda seção da feira era dedicada à evolução dos games. O personagem escolhido para essa demonstração, como não poderia deixar de ser, foi o Mario da Nintendo. Estavam lá à disposição dos jogadores: Super Mario Bros 2, rodando num saudoso Dynavision III (clone nacional de NES) com seu característico joystick tipo manche; Super Mario World, Super Mario All-Stars e Super Mario Kart (todos do Super Nintendo); Super Mario 64 e Super Smash Bros (ambos do Nintendo 64) e dois games contemporâneos do personagem, ambos do Nintendo Wii: Super Mario Galaxy (não cheguei a ver se era o 1 ou o 2) e New Super Mario Bros. Ou seja, o visitante da feira podia ter uma overdose de Mario, podendo conferir a evolução do personagem desde os anos 80, no NES, até os dias de hoje no Wii.

Uma outra seção da exposição era voltada para games de guerra. Haviam quatro televisores rodando Halo 3 em multiplayer. Joguei uma partida com uma gurizada mais nova e fiquei em segundo lugar, com 6 frags (contra 10 do vencedor). Nada mau para um cara velho, não acham? Mas admito que o fato de eu ter um Xbox 360 com Halo 3 em casa ajudou para que eu não fizesse fiasco nessa hora.

Nessa mesma seção de jogos de guerra, havia gente jogando Resistance e Uncharted, ambos do Playstation 3. Mas desde quando Uncharted é um game de guerra?!? Confesso que não entendi.

Lá no fundo da feira, estava uma pequena “seção Sony”. Um Playstation 2 rodava Syphon Filter – Logan’s Shadow (um hit do PSP adaptado para seu irmão maior) e quatro consoles Playstation 3 rodavam Modnation Racers, Uncharted 2, Heavy Rain e God of War III. Joguei um pouco do Modnation Racers, é bem divertido, na linha Super Mario Kart. Heavy Rain tem um visual espetacular, e vê-lo me lembrou de Fahrenheit (também conhecido como Indigo Prophecy), um jogo que eu curto bastante e que joguei há alguns anos no PC e no Playstation 2.

Por fim, a feira ainda contava com uma máquina de pinball (007 Goldeneye), um game de futebol (provavelmente um Winning Eleven) rodando num telão imenso e uma seção dedicada apenas a Rock Band, com todos os instrumentos.

Tudo muito legal mas, apesar de tudo isso, várias coisas não foram bem pensadas nessa edição da Go Game Brasil. Vamos a elas:

1 – O mais grave pecado da feira, disparado, foi o fato de terem ligado TODOS os consoles da exposição em televisores modernos de alta resolução! Trata-se de uma falha vergonhosa e inaceitável pois, como qualquer colecionador de consoles antigos sabe, se você ligar um emissor de sinal de baixa resolução numa televisão moderna, a qualidade da imagem ficará muito PIOR do que se você ligá-lo numa televisão mais antiga, de baixa resolução. E, por “emissor de sinal de baixa resolução”, entenda-se todos os consoles de videogame da primeira à sexta geração! Como resultado dessa barbeiragem, todos os games antigos expostos na feira estavam com um visual pior do que tinham há vinte anos atrás, quando eram recentes e rodavam nas televisões da época.

Em outras palavras, a Go Game Brasil investiu uma grana preta em televisores modernos e o resultado foi muito pior do que se tivesse providenciado um monte de televisores convencionais baratos, que hoje custam uma ninharia no mercado. Essa falha é inacreditável, e mostra que realmente a feira, em suas próximas edições, precisa urgentemente dispor da consultoria de pessoas ligadas à cena retrogamer e que entendam dessas questões práticas. Alguns games (como Pac-Man e Pick Axe Pete) não foram tão prejudicados por conta disso, mas outros (como Ninja Gaiden II e Super Mario All-Stars) tiveram seu visual bastante prejudicado, embora  naturalmente isso fosse muito mais perceptível ao vivo do que nas fotografias que você está vendo aqui.

2 – A graça de uma feira dessas é colocar os visitantes de cara com os aparelhos clássicos que marcaram cada época. Até onde pude constatar, não havia sequer um NES original da Nintendo na feira, apenas clones nacionais. Pior do que isso foi jogar um dos Super Nintendos disponíveis na amostra e constatar que ele estava equipado com um joystick PIRATA, desses que se compra nos camelôs por menos de dez reais. Francamente, né? É o fim da picada! Eu não aceito joysticks piratas de Super Nes nem na minha coleção particular, o que dizer então de uma feira desse porte?!?

3 – A feira deveria ser melhor organizada em termos de tempo limite de jogo para os visitantes. Lá na área de games antigos, a coisa funcionava bem. No Halo 3 multiplayer, o rodízio também era organizado. Mas na seção Playstation 3, por exemplo, teve gente que ficou mais de duas horas jogando God of War III direto, progredindo na campanha como se estivessem em casa. Me parece que isso de uma gurizada ficar o dia inteiro dentro da feira, pendurados em um ou dois consoles, é algo que não combina com a ideia da Go Game Brasil. Quem quer fazer isso deve procurar uma lan-house ou uma locadora de videogames.

4 – Outra decisão lamentável foi a de escrever as informações sobre datas e evolução dos games na lateral dos gabinetes de cada aparelho, dificultando a leitura pelos visitantes. Teria sido muito mais inteligente colocar essas informações em cartazes ou de outra forma bem visível, num local à parte ou colocada ao lado de cada console, mas não ocultada na lateral do próprio gabinete.

5 – Por fim, a ideia de colocar um Rock Band completo para os visitantes foi legal, mas os organizadores precisavam ter pensado numa forma de fazer isso sem que o som do Rock Band se espalhasse por toda a feira, fazendo com que o som de todos os outros games praticamente desaparecesse. Via de regra, se você jogava qualquer outro game além do Rock Band, você não ouvia nada do seu jogo. O Rock Band deveria ter sido colocado numa área com som isolado, ou o problema poderia ter sido resolvido com um sistema de fones de ouvido no gabinete de cada console.

No mais, devo dizer que achei a Go Game Brasil um barato e uma iniciativa louvável, que deve ser apoiada, estimulada e divulgada por todo mundo que curte a cena retrogamer brasileira. Torço pelo sucesso da exposição e espero que, futuramente, ela volte para Porto Alegre ainda maior e melhor.

TERRA CRESTA (ZX Spectrum, 1986)

Há alguns dias, li num site de retrogaming que um famoso programador de games para o velho micro britânico ZX Spectrum havia falecido no final do último mês de junho. Seu nome era Jonathan “Joffa” Smith e, ao ler sobre alguns dos games feitos por ele, fiquei chocado ao descobrir que ele era ninguém menos do que um dos criadores da versão de Terra Cresta do Spectrum, que desde sempre é, disparado, o meu shot’em up favorito do velho micrinho. Então, em homenagem ao talentoso Joffa, vamos relembrar essa pérola do cara.

O Terra Cresta do Spectrum foi a única versão do game que conheci na infância. Desde então, sempre imaginei que se tratasse de um título exclusivo do Spectrum. Foi apenas em plena era da emulação que vim a descobrir que o game tinha versões para outros consoles e micros, e que era originário dos arcades. Depois disso, joguei o original do arcade e a versão do NES. Elas são legais, mas não me cativaram muito. A versão do jogo que eu realmente adoro é essa do Spectrum.

Naturalmente, quando eu jogava Spectrum na casa do meu tio na infância, eu era muito jovem para avaliar os games sob o aspecto técnico. O que eu gostava em Terra Cresta eram os gráficos (isso era no final dos anos 80. Lembrem-se que, em casa, eu tinha um ATARI!) e da ambientação. Hoje, consigo perceber alguns outros méritos de ordem técnica, como por exemplo o excelente scroll do game, que contribui muito para a apresentação.

O game é difícil pra caramba! Percebam: não progressivamente difícil, mas simplesmente muito difícil desde o primeiro instante de jogo! Não tem uma primeira fase mais light para “esquentar”, o desafio insano começa nas primeiras telas. Essa dificuldade não se dá tanto pela velocidade do game, pois Terra Cresta não é muito rápido para os padrões dos shot’em ups (algumas publicações, na época, chegaram a reclamar no sentido de que o jogo seria “lento”). O problema é a quantidade de inimigos e, mais do que isso, da quantidade de tiros que eles soltam em todas as direções imagináveis. Subestime seus inimigos em Terra Cresta e você perderá todas as suas naves em menos de cinco minutos.

Terra Cresta se saiu bem nas publicações especializadas em Spectrum da época. A revista Crash deu nota 8 para o game, enquanto que a revista Your Sinclair foi um pouco mais rigorosa, dando uma nota 7 para ele. O review do jogo na Crash destacou os bons gráficos, mas reclamou da velocidade do jogo. A Sinclair User foi a mais “chata” de todas, dando nota 6 para o game. A principal reclamação da revista era de que o jogo não entusiasmava muito na comparação com os games Xevious e Lightforce, que eram do mesmo estilo e haviam sido lançados algum tempo antes. Mas mesmo a Sinclair User reconheceu que os grandes fãs do Terra Cresta do arcade iriam ficar satisfeitos com a versão do Spectrum.

Entre as outras versões do game, há evidentemente o original dos arcades, de 1985, que é bem legal para os padrões da época. Em se tratando de versões domésticas, tirando a do Spectrum, temos a do NES (mais fiel ao arcade em termos de gráficos e cores, embora eu continue achando a do Spectrum muito mais legal e “climática”), do Commodore 64 (nunca joguei, mas pelo que li é bastante boa) e a do microcomputador japonês Sharp X68000, que eu igualmente não conheço.

Terra Cresta teve um antecessor similar nos arcades, chamado Moon Cresta, lançado cinco anos antes e que teve versões para Spectrum, Commodore 64, BBC Micro, Amstrad CPC, Sharp X68000 e ganhou remakes no Super Nes, no Playstation-2 e no Virtual Console do Wii. Ou seja, Moon Cresta foi devidamente reintroduzido para novos públicos, ao passo que Terra Cresta continuou restrito àquelas velhas plataformas oitentistas. Essa série de games da desenvolvedora Nichibutsu conta ainda com os games Dangar – Ufo Robo (1986, arcades), Terra Force (1987, arcades), Terra Cresta II (1992, PC Engine) e Terra Cresta 3D (1997, Sega Saturn). Vi um vídeo desse último no Youtube, e ele parece aborrecido e desinteressante, com gráficos simples e cenários repetitivos e sem imaginação.

Eu devo confessar que, embora curtisse os gráficos, efeitos sonoros e estilo do jogo, na infância a dificuldade extrema do Terra Cresta do Spectrum me impedia de jogá-lo de forma mais prolongada. Mas isso não é o pior, o pior é ter que confessar que, passados mais de vinte anos, eu CONTINUO apanhando da dificuldade de Terra Cresta. O padrão de ataques das naves é insano, você será vítima de tiros de naves que já saíram da tela e, aparentemente, atiram para trás! Como se não bastasse, as manobras das naves inimigas figuram entre as mais vigaristas já vistas em toda a longa história dos videogames. Não é incomum uma nave que já saiu da tela fazer um retorno e acertar na sua, de forma extremamente inesperada. Os inimigos em Terra Cresta são kamikazes assumidos! Mas gosto de acreditar que já estou conseguindo chegar mais longe do que naqueles idos dos anos 80. A única dúvida que me assola é … por que as vidas do jogador são representadas por PATINHOS?!? Será que era uma forma de a dificuldade insana do game tirar uma onda com a cara do jogador?

Se você gosta de shot’em ups verticais e de microcomputadores antigos, eu sinceramente não tenho dois games mais indispensáveis para indicar a você do que ZANAC (do MSX) e este Terra Cresta do Spectrum. Mas Zanac é bem mais amigável em termos de dificuldade. Terra Cresta é um inegável prazer retrogamer, mas definitivamente é um game para os corajosos! Parabéns por esse clássico e descanse em paz, Joffa!

MARATONA ATARI (Especial: ADVENTURE)


A Maratona Atari de hoje vai ser centrada num único jogo, que foi “pulado” na ordem alfabética no último post: o clássico ADVENTURE, lançado pro Atari 2600 no longínquo ano de 1979.

É, meu velho, mil novecentos e SETENTA E NOVE! Você leu certinho, sim: há trinta e um anos atrás! Adventure é tão velho, mas tão velho que é quase tão velho quanto o próprio Atari, já que o aparelho ainda era jovem  – estava no mercado há apenas dois anos – quando o game foi lançado.

O objetivo do jogo é, controlando um aventureiro, abrir as portas de um castelo amarelo e trazer até ele um cálice perdido, que está trancafiado no castelo negro. Para conseguir a chave que abre o castelo negro e chegar até esse sinistro lugar, o aventureiro precisa encarar masmorras, labirintos, um morcego chato que rouba itens e um trio de dragões, cada um de uma cor. A boa notícia é que, pelo caminho, o herói encontra uma espada que pode ser utilizada para matar os dragões.

Os gráficos do Adventure do Atari eram muito bons para a época e … tá bom, tá bom, é ÓBVIO que eu estou tentando passar a perna em vocês!

.

O game tem três níveis, representados no começo do jogo na tela como opção 1, 2 ou 3. O “game 1” é quase um “demo” do jogo, um modo tão simplificado e fácil que é possível atravessar o game do começo ao fim em três minutos. Nesse modo “super easy”, apenas um dos três dragões aparece, as tenebrosas masmorras ficam fora do jogo, o morcego também não aparece e um dos castelos – o branco – também é omitido. É uma boa forma de ser apresentado ao conceito do jogo sem ter que encarar qualquer dificuldade real.

O modo “2” apresenta o game na sua “versão completa”, com os três dragões (Yorgle, o amarelo; Grundle, o verde e Rhindle,  o vermelho), o morcego irritante que leva itens de um lugar para outro e a masmorra desgraçada na qual não se enxerga um palmo na frente do nariz. Nesse modo de jogo já é possível localizar a sala secreta onde consta o nome do programador do game (conforme explicarei mais adiante).

O modo “3” é o jogo completo na sua dificuldade máxima. O conteúdo é o mesmo do modo “2”, mas agora a localização de todos os itens é aleatória, proporcionando uma experiência de jogo diferente a cada partida.

Adventure, de cara, entrega a idade. Seu personagem é representado na tela por um simples quadradinho. A espada é uma pequena seta, os dragões parecem uns marrecos que cheiraram cocaína e todos os ambientes – masmorras, labirintos e castelos são essencialmente corredores cinza com paredes de uma única cor em cada tela.

Graficamente, é tudo tão primitivo quanto possível, mas o mérito de Adventure não é esse (embora os gráficos não estejam abaixo da média dos títulos mais antigos do Atari). A grande sacada do jogo é o pioneirismo na mecânica de jogo. Adventure foi o primeiro game do gênero “action-adventure” a surgir num console, e é considerado o antecessor espiritual do clássico The Legend of Zelda, o mais célebre representante desse tipo de jogo. Adventure também foi, certamente, uma fonte de inspiração para os futuros RPGs de console, já que foi o primeiro jogo a introduzir elementos de RPG – ambientação medieval, castelos, dragões, itens, labirintos – num jogo de videogame.

Fora dos videogames e computadores, os RPGs nasceram em 1974 com o Dungeons & Dragons. O jogo era apresentado na forma de um livro e era jogado com dados, papel e caneta em grupo, ao redor de uma mesa. A primeira tentativa de traduzir essa experiência “de carne e osso” do RPG para um game de computador foi o célebre Colossal Cave Adventure (conhecido também como Colossal Cave ou simplesmente como Adventure – não é coincidência que o game do Atari tenha o mesmo nome), de 1976, que era simplesmente baseado em textos na tela. É isso mesmo, não havia nenhum gráfico! O game dizia algo como “Você está no topo da montanha. Ao sul há uma grande ponte de madeira e a leste segue um caminho que entra por uma floresta“, e então você digitava “leste” ou “sul” para escolher seu caminho e por assim em diante. Colossal Cave não apenas criou o estilo text adventure (muito popular nos anos 80) como pavimentou o caminho para os futuros adventures gráficos (como Maniac Mansion e Monkey Island) e inspirou o surgimento dos RPGs de microcomputadores e videogames.

Embora claramente inspirado em Colossal Cave Adventure, o Adventure do Atari não era uma adaptação propriamente dita da aventura-texto que o antecedeu, mas sim uma tentativa pioneira de combinar aquela narrativa com elementos de ação gráfica. O mérito é todo do progamador Warren Robinett, que inclusive criou também o primeiro “easter egg” (surpresa escondida em um software) de todos os tempos: há uma sala secreta em Adventure na qual é possível esbarrar com a frase “Created by Warren Robinett“. Foi também o primeiro game no qual o personagem controlado pelo jogador podia carregar itens e se beneficiar de diferentes propriedades dos mesmos.

Apesar de ser completamente diferente de qualquer coisa que o Atari já havia mostrado até então, Adventure caiu nas graças do público e vendeu a respeitável quantia de um milhão de cópias, entrando para a história como o 7º game mais vendido do Atari 2600 em todos os tempos.

Minha experiência pessoal com Adventure não foi tão intensa, pois eu o conheci em torno de 1991, quando o game já era muito velho. Meu Atari estava no final de sua vida útil naqueles dias (eu viria a ganhar um microcomputador MSX no ano seguinte), e os games de Atari que eu gostava naquela época eram os de ação, como Star Wars e H.E.R.O. Algo parado e “cerebral” como Adventure não era exatamente o que eu procurava quando tinha dez anos de idade, então não posso dizer que “amei” o game quando o aluguei naquela época, pois não seria verdade. Mas desde logo percebi que estava diante de um game diferente e inovador do sistema, e anos depois vim a perceber a enorme influência que ele exerceu em games posteriores de aventura e RPG.

Se você sempre achou que o Atari era só sobre atirar em alienígenas e fugir de fantasmas em labirintos, não deixe de conhecer Adventure!

MARATONA ATARI

Inspirado pela Cruzada Master System e pela Cruzada NES do Gaga Games, o Cemetery Games declara aberta a MARATONA ATARI. O objetivo é simples: jogar e resenhar, do começo ao fim, toda a biblioteca de games de um dos consoles mais clássicos e icônicos de toda a história dos videogames, o Atari VCS (Video Computer System), que posteriormente passou a ser mais conhecido como Atari 2600. Trata-se do console definitivo da segunda geração de videogames e da plataforma que definiu a indústria dos games como a conhecemos até hoje, além de ter sido o grande companheiro de infância de muitos retrogamers, eu incluso.

A “Geração Atari” não podia reclamar de ter poucos games em casa. O mercado brasileiro, na época, era abastecido por diversos clones nacionais da plataforma, fabricados por empresas como CCE, Milmar e Dynacom, que também enchiam as lojas de cartuchos a preços bastante acessíveis. Não lembro quantos cartuchos eu tive na época do meu Atari (1987 a 1992), mas creio que tive algo em torno de 40 ou 50 games, o que é um absurdo para os padrões atuais (já pensou quanto você gastaria para ter 50 games originais de Xbox 360?). Apesar disso, foram muitos os games do Atari com os quais infelizmente não tive contato na época, como Gremlins, Ghostbusters, Krull e outros. O objetivo dessa Maratona é realizar o que, naqueles tempos, teria sido meu sonho de criança: jogar TODOS os games do Atari!

As regras da nossa Maratona Atari são:

1 – o objetivo é jogar todos os games que foram lançados durante a vida comercial do console e que estariam disponíveis para nós (no Brasil ou no exterior) nos anos 80. Protótipos que foram revelados muito tempo depois, homebrews, hacks ou games tardios não nos interessam. Coletâneas de games relançados e outros títulos redundantes também não serão analisados;

2 – a Maratona Atari vai considerar a lista de 544 títulos que consta na Wikipedia, no seguinte endereço: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Atari_2600_games. Jogos que eventualmente não constem desta lista não serão objeto de análise;

3 – Os games serão jogados no emulador Stella (versão 2.5.1, de 2008) do Windows. Qualquer jogo que não rode nesse emulador, ou apresente funcionamento estranho ou anômalo, será analisado em um emulador secundário que será informado na própria resenha do jogo em questão.


Vamos abrir os trabalhos com 3D Tic-Tac-Toe, lançado pela Atari em 1980. É um jogo-da-velha, só que em três dimensões. Cada um dos quatro tabuleiros é como se fosse um “nível” de um mesmo tabuleiro. Leva algum tempo para compreender a lógica da coisa, mas o pior de tudo é que o joguinho não dá moleza e joga duro, vencendo as partidas em poucas rodadas e frustrando todas as suas jogadas, mesmo depois que você finalmente consegue entender como – em tese – ganhar uma partida. Chato.

Segundo a lista da Wikipedia, o próximo game seria uma coletânea chamada 32 in 1. Não tenho a rom desse cartucho e, pela descrição, parece uma coisa bem ordinária. Vou me dar ao luxo de pular.


O game seguinte é Acid Drop, de 1992. O game tem a distinção de ser considerado oficialmente como o último game lançado para o Atari 2600 em sua (longa) vida comercial. Lembrando que o console foi lançado em 1978, isso significa que ele recebeu títulos ao longo de quatorze anos. Impressionante, não? Pena que a despedida não poderia ser mais melancólica: Acid Drop é uma espécie de Shapes and Columns empobrecido, com gráficos lamentáveis. Apesar da simplicidade, o jogo poderia ser considerado um passatempo aceitável, se não fosse pelo fato de ter uma das trilhas sonoras mais irritantes da história dos videogames. Sério, a música nesse game parece um teste de sanidade. Insuportável.

A lista da Wikipedia fala de um game chamado Actionauts, que foi revelado ao mundo em 2008 e que deveria ter sido lançado em 1983. Em observância aos nossos critérios da Maratona, vou solenemente ignorar esse título.

Action Pak é um pacote reunindo três games de Atari lançados anteriormente: Othello, Dodge’Em e Breakout. Novamente, segundo nossos critérios, esse título não passa de uma coletânea que relançou games já existentes, e portanto não nos interessa.

O próximo game da lista seria o clássico Adventure, mas eu peço licença a vocês para pular esse game por enquanto. Adventure é um game especial da biblioteca do Atari, e eu quero dedicar a próxima parte da Maratona integralmente a este game. Vamos para o próximo!


Adventures of Tron foi lançado em 1982. A M-Network, aproveitando o sucesso do filme Tron, lançou dois games baseados na película para o Atari, ambos no mesmo ano. O outro game, Tron Deadly Discs (que analisaremos futuramente) é mais legal, mas vale à pena dar uma conferida nesse Adventures of Tron. O esquema é o seguinte: você está no mundo digital e precisa pegar alguns itens não identificáveis (que parecem estrelinhas e outras porcarias aleatórias) para transformar o buraco que divide a tela num túnel de luz que permitirá para o herói subir para o próximo nível. Para subir pelos quatro andares de cada tela, é preciso usar os elevadores laterais. O problema é que aquelas tradicionais sentinelas do filme (que parecem uma mistura de arcos gigantes com alienígenas do Space Invaders) ficam patrulhando andar por andar. Um lance que achei interessante no game, além da boa dinâmica, é a jogabilidade simples porém eficiente. O herói pula, sobe pelos elevadores e, estando em cima de um, pode descer para o nível inferior rapidamente (para baixo no joystick). Parece uma gama de movimentos mais sofisticada do que a média dos games do Atari. O ponto negativo é a jogabilidade tirana. Até o momento, eu não consegui fazer mais do que cerca de 10.000 pontos e chegar até o segundo nível. Enfim, o game não é nenhuma obra-prima, mas tem bastante ação e é o tipo de jogo que eu imagino que teria conquistado minha atenção naqueles tempos.

Bem, nossa primeira parte da Maratona Atari fica por aqui! Até a próxima, caros retrogamers.