Frequentemente citado como um dos melhores e mais memoráveis games do Master System, Black Belt foi um sucesso também aqui no Brasil, onde sempre esteve na lista dos jogos preferidos entre os fãs do Master.

Não deixa de ser um fato interessante, na medida em que Black Belt foi lançado no ano seguinte ao lançamento do Master System no Japão e no mesmo ano da estréia do console nos EUA. Ou seja, trata-se de um título da “leva inicial” do Master, o que torna ainda mais impressionante a qualidade geral do game, que não chegou a ser superado por nenhum outro jogo do estilo lançado para o Master nos anos posteriores.
A TRAMA
O jogador assume o papel de Riki, um jovem mestre em artes marciais. Kyoko, a namorada do cara, foi raptada por uma gangue de lutadores, e Riki precisará derrotar todos eles para resgatá-la, passando por cinco fases diferentes, todas repletas de guerreiros da gangue inimiga, e tendo que encarar os seis grandes “chefões”: Ryu, Hawk, Gonta, Oni, Rita e Wang.

O FATOR HOKUTO NO KEN
Black Belt possui uma trilha sonora variada e exuberante para os padrões dos consoles de 8-bits, gráficos ótimos, fases legais, lutas memoráveis com chefões e uma jogabilidade que se sustenta bem até hoje. Então não existe pessoa no mundo que não goste desse jogo, né? Bem, existe sim: os fãs de HOKUTO NO KEN.
Explico: Hokuto no Ken é um mangá (que depois virou também anime) muito popular no Japão, e que conta a história de um mestre em artes marciais chamado Kenshiro, que combate inimigos num mundo pós-apocalíptico. Já caiu a ficha, né? Pois é, Black Belt é uma “localização” ocidental do game Hokuto no Ken, baseado nesse mangá. Os personagens e a maior parte dos cenários foram alterados para criarem uma história nova, sem vinculação com o mangá.

Mas por que a Sega fez isso? É fácil de entender. Hoje, fãs de animes e mangás no mundo todo podem conhecer as últimas novidades que saem no Japão através da internet, sem qualquer esforço. Porém, nos anos 80, ninguém nos EUA conhecia Hokuto no Ken (no Brasil, nem se fala …) e mangás só eram moda no Japão. Foi só depois de vários anos que Hokuto no Ken chegou ao ocidente, rebatizado de Fist of the North Star.
Assim, é compreensível que a Sega tenha optado por aproveitar o bom game que tinha em mãos, mas desvinculando-o dos personagens nipônicos que os ocidentais desconheciam e dando ao jogo uma cara de “filme de ação dos anos 80”, com personagens e um roteiro que parecem saídos de algum filme da época estrelado pelo Jean Claude Van Damme. O resultado foi uma das melhores “localizações” já vistas até hoje nos videogames, uma vez que criou um novo game que se sustentava por suas próprias qualidades e que acabou ficando muito legal.
ÉPOCA PRESENTE OU FUTURO PÓS-APOCALÍPTICO?
O game original Hokuto no Ken se passava num futuro pós-guerra nuclear. Mesmo quem não era familiarizado com o mangá podia perceber isso apenas olhando os prédios semidestruídos no horizonte da primeira fase do jogo.
Mas e Black Belt? O jogo se passa no presente ou também num futuro distópico? Aparentemente, no presente. Os cenários urbanos que aparecem na segunda e na quinta fase parecem contemporâneos, sem nenhum sinal de catástrofes ou guerras. Mas, para confundir bem a coisa toda, a parte traseira da caixinha nacional do jogo, feita pela Tec Toy, afirmava que o jogo se passava num futuro pós-guerra. Já o excelente site americano Hardcore Gaming 101 atesta que o jogo se passa no presente – o que ainda me parece a idéia mais lógica.
UM BEAT’ EM UP CLÁSSICO
Sempre tive uma adoração especial por Black Belt em virtude do fato de ele ser o primeiro game de Master System que me recordo de ter conhecido. O ano era entre 1988 e 1990, e nessa época eu tinha um Atari e já achava grande coisa. Quando vi esse jogo, meu queixo foi ao chão. Só faltei babar. Gráficos limpos e definidos, musiquinhas caprichadas, violência comendo solta (com os inimigos EXPLODINDO ao serem golpeados), lutas com chefões enormes, etc. Era tudo o que uma criança poderia querer!
Mas chega de babação de ovo, porque está na hora de destrinchar Black Belt …

Riki começa sua aventura em um cenário interiorano em algum lugar da Ásia, enfrentando hordas desses carecas barrigudos sem camisa. O legal é que esses “soldados rasos” do jogo simplesmente EXPLODEM em pedaços quando derrotados, deixando o jogo dinâmico e violento.
Além dos “soldadinhos rasos” e dos chefões de fase, Riki enfrenta também diferentes “subchefes” em cada fase. O primeiro deles é esse otário de cabelo loiro e comprido, que fica atirando umas porcarias no herói.

O segundo subchefe é esse babaca vestido de Pequeno Príncipe, que fica atacando com esse bastão.

Mais um subchefe. Agora é um maníaco querendo esfaquear o protagonista. Pau nele!!!

Haja paciência para MAIS UM subchefe nessa primeira fase! A bola da vez é literalmente uma bola: um gordo estroncho querendo cagar Riki a pau.

Riki finalmente chega ao confronto com Ryu, o primeiro chefão do jogo. Repare em como os personagens e cenários ficam enormes e detalhados nesta parte do game. Esse imbecil que se veste de roxo é relativamente difícil de derrotar (considerando que é o primeiro chefe e deveria ser o mais fácil). O golpe que tira energia dele é o soco, e é preciso pegar a “manha” de quando atacar e quando se afastar dos ataques do adversário.

Ao derrotar o inimigo, aparece esse palavrão em japonês no meio da tela, e Riki começa a socar o inimigo cada vez mais rápido, arrebentando-lhe as fuças. Considerando que o jogo foi especialmente adaptado para o público ocidental, não custaria terem colocado o texto acima em INGLÊS, não acham?

Na segunda fase, a ação rola numa zona portuária, com uma grande cidade ao fundo. Os carecas barrigudos dão lugar a esses fortões de cara pintada, calças coladas e … o que é isso que eles estão usando? Botas de couro? Ou uns enfeites na perna. Hmmmmmm ….

O chefão dessa fase é Hawk, um babaca de calças verdes que atira faquinhas. Matar o cara é coxinha, é só chegar perto dele e chutá-lo na cara sem dó. Possivelmente é o chefe mais fácil do jogo.

E olha o palavrão em japonês ali de novo!

Na terceira fase a ação se desloca novamente para um cenário interiorano/rural. Esses chatos de quimono vermelho são os inimigos “padrão” nesta fase.

Aqui é hora de encarar um subchefe, que parece o maluco das facas da primeira fase.
O chefão da terceira fase é GONTA, um dos personagens mais memoráveis do jogo. Lembro que, antigamente, costumava considerá-lo como um chefão difícil de vencer. Na verdade, só o que você precisa para matar esse gordo com facilidade é ter a manha de usar a voadora na hora certa.

Prepare-se para enfrentar os ninja mais fracotes que o mundo já viu. Essa quarta fase tem como “soldados rasos” esses ninjinha fajutos, que só servem para apanhar.

Esse afrescalhado com chicote, que parece um domador de leões desempregado, é o subchefe desta fase.

Mais um subchefe: agora são dois gordos que parecem tuaregues ou figurantes do Lawrence da Arábia.

É aqui que o jogo começa a ficar difícil: esse ONI é um pé no saco de vencer! O negócio é ficar bem no canto esquerdo da tela, acertando-lhe um chute sempre que ele vier para cima de você. O cara sempre acerta um golpe em Riki fazendo isso, mas se você fizer a coisa direitinho o inimigo vai morrer antes.

O legal é que, ao morrer, Oni desaparece deixando apenas o seu gorrinho no chão. Tchauzinho, BABACA!!!

Essa fase é meio ordinária porque recicla, na maior cara de pau, o cenário da segunda fase. Só o que muda é a hora do dia, já que aparentemente está anoitecendo. Outra coisa que não dá pra deixar de comentar são os inimigos dessa fase, que são uns negões aparentemente usando batom e blusas brancas. Pelo jeito, Riki foi parar num bairro gay!
Se você tinha alguma dúvida de que tinha caído num bairro gay, dá uma olhada nisso: dois caras de cabelo loiro comprido, óculos escuros e calças rosas querendo fritar Riki com lança-chamas! Da onde esses caras saíram, de um videoclip do POISON?!?
Essa aí é a Rita, e matar essa desgraçada é um inferno! Adivinha só: não existe um golpe único que tire energia dela. Riki precisa acertar golpes sequenciados na inimiga, ou seja, um chute, depois um soco, depois um soco agachado e depois uma rasteira – não necessariamente nessa ordem. Se você não acertar a safada com o golpe certo, ele não tira energia nenhuma da vilã. Que saco, hein? E mais uma coisa: quem é aquele otário que aparece no quadro ao fundo e nos bustos laterais? O cara parece um narcotraficante sul-americano. E o pior é que o jogo nem se preocupa em esclarecer esse mistério. Será que é o maridão da Rita?

Como se não bastasse ter que acertar sempre diferentes golpes para tirar energia de Rita, tem mais essa: o último golpe nela precisa ser necessariamente um soco quando ela ataca com a voadora. MORRE, infeliz!!!

Enfim chegamos até Wang, o último chefão. Esse trouxa com cara de mongo é osso duro de roer. O negócio é cair de voadoras em cima dele, mas ele perde energia muito devagar. O que mais irrita, no entanto, é a detecção de colisão “roubada” nessa luta. Riki pode visivelmente acertar golpes em Wang sem que eles sejam contabilizados como golpes certeiros. Já Wang acerta Riki só de passar perto do herói. Haja saco pra matar esse cretino.

Derrotado, Wang cambaleia um pouco …

… e então morre de pé, com o braço pra cima. Inexplicável, né? Na verdade, isso acontece porque os programadores de Black Belt foram vagabundos e não se deram ao trabalho de mudar isso, que acontece no Hokuto no Ken original porque o último chefão se transforma em PEDRA quando derrotado. Em Black Belt, ficou simplesmente sem sentido.

Riki finalmente encontra sua namorada …

… e sai carregando a moça nos braços.

O jogo termina dizendo que Riki trouxe paz ao mundo temporariamente. Paz AO MUNDO?!? Só porque salvou sua namorada de uma gangue de retardados? Parece que aqui os programadores de Black Belt também esqueceram de não misturar o jogo com o original Hokuto no Ken. E a tela final já convida o jogador a começar o game de novo. Estimulante, não? Bom, é isso, THE END!