E cá estamos nós de volta, caros retrogamers! Eu sei: 2014 foi um ano devagar para o Cemetery Games. Hora de tirar o atraso! A jogatina retrô não termina nunca, e hoje nós vamos cair de cabeça em uma das melhores aventuras da época dos videogames de 8-bits: Jurassic Park, do Master System, debulhado até o final!
Verdade seja dita: na época da Terceira Geração dos videogames, a Nintendo dominava o mundo. As vendas do seu aclamado console NES (o popular “Nintendo 8-bits”) respondiam por invejáveis 90% do mercado mundial de games naqueles tempos, e as outras plataformas disponíveis dividiam os míseros 10% restantes. Foi uma época difícil para o Master System, o glorioso videogame de 8-bits da Sega. Ele era tecnicamente superior ao concorrente, mas não tinha chances contra o popular console da Nintendo e o seu imenso suporte de empresas third-parties produtoras de jogos.
Mas não foi em tudo que o Master saiu perdendo. Primeiro, porque em alguns poucos mercados específicos (especialmente no Brasil, com o competente marketing da Tec Toy) ele conseguiu derrotar a “caixa cinza” da Nintendo em termos de vendas e popularidade. Segundo porque, ancorado na receptividade razoavelmente sólida de seu irmão portátil, o Game Gear (virtualmente idêntico ao Master System em termos de hardware), o console de 8-bits da Sega acabou tendo uma longevidade maior do que a do próprio NES. Enquanto que 1992 foi praticamente o último ano bom para o NES em termos de lançamentos de qualidade, o Master System continuou ostentando games novos de ótima qualidade por pelo menos mais dois anos depois disso. É esta constatação que nos leva à análise deste que é um dos melhores jogos da excelente biblioteca de títulos do Master System, lançado em 1993, aos “45 minutos do segundo tempo” da vida útil do console, nada menos do que oito anos depois do lançamento do Master.
Se tem uma coisa que os conhecedores de videogames sabem é esta: jogos baseados em filmes, via de regra, são porcarias. Era verdade lá no começo dos anos 1980, continua sendo verdade nos dias atuais e era igualmente verdade na primeira metade dos anos 1990. Jurassic Park pode ter sido um filme espetacular, mas isso não impediu que o filme desse origem a diversos games medíocres lançados para vários consoles nos anos posteriores à estreia da película. Você poderá encontrar games decepcionantes baseados em Jurassic Park no NES, no Game Boy, no Super Nes, no Sega CD e no Mega Drive. Mas não no Master. O console de 8-bits da Sega, nesta questão em particular, matou a pau e trouxe ao mundo não apenas um dos melhores jogos de aventura da era 8-bits como, também, um dos games baseados no clássico filme de Spielberg mais legais já vistos até hoje (se não o melhor de todos).
O que torna o Jurassic Park do Master tão legal? São diversos fatores. De cara, o que chamava a atenção na época era a qualidade dos gráficos. Os personagens são bem definidos e os cenários são muito caprichados, frequentemente apresentando detalhes de fundo que eram
sofisticados para os padrões dos games de 8-bits (como o vento nas árvores, dinossauros se movendo ao fundo, quedas de água, etc). Apesar de ter apenas cinco fases, a diversidade dos backgrounds é muito grande e dá um ar cinematográfico para o jogo, tornando memoráveis diversos momentos da aventura.
A jogabilidade é simples e limitada, mas funcional. Sem dúvida, o maior destaque é a possibilidade de usar três diferentes armas (disparo de tranquilizantes, canhão aéreo e dinamites). Em algumas fases, a arma “normal” resolve todos os problemas. Mas, em diversos momentos do jogo, o uso estratégico da arma contra ataques aéreos e das dinamites é crucial para que o jogador consiga avançar. Outro acréscimo interessante para a dinâmica do jogo é que o Dr. Grant não se limita a apenas atirar em dinossauros e pular, tendo também a habilidade de se pendurar em diferentes superfícies.
Tal habilidade adiciona alguns momentos divertidos ao jogo, no melhor estilo Indiana Jones, com o protagonista tendo que escapar de incêndios, jatos de lava, rochedos espinhosos e por aí vai. Rolam (literalmente) até algumas pedras gigantes em direção ao herói, aproximando ainda mais o paleontólogo de Jurassic Park do arqueólogo eternizado nos cinemas por Harrison Ford. Esta capacidade do game de passar uma sensação de aventura, com cenários legais e perigos variados, talvez seja a principal característica que torna tão legal e interessante o Jurassic Park do Master System.
É interessante lembrar que o game do Master foi lançado absolutamente sem nenhum barulho, numa época em que o console já era indiscutivelmente obsoleto, ao contrário do que aconteceu com a aclamada e celebrada versão de Jurassic Park do Mega Drive, que na época brilhava nas vitrines das lojas e nas revistas de videogames. O jogo do Mega era muito sofisticado em termos visuais, apresentando alguns dinossauros digitalizados diretamente com base nos modelos vistos no filme original. O irônico é que o jogo do Mega, apesar de sua produção sofisticada e visual incrível para a época, é no final das contas um jogo bastante aborrecido, enjoativo e com péssimo design de fases. Não tem nem comparação: a versão do Master é incomparavelmente mais legal.
Bem, e a versão do Game Gear? Trata-se basicamente do mesmo jogo, apenas em uma escala apropriada para a telinha do portátil (tipo um zoom), como era comum nas adaptações de jogos do Master para o Game Gear. A diferença mais notável está na caracterização do protagonista. No Master System, o herói do jogo é claramente o Dr. Alan Grant, como aparece no filme, de chapéu, calça e camisa. De forma estranha e bizarra, o protagonista na versão do Game Gear é simplesmente um sujeito loiro vestido como uma roupa cinza esquisita. Cogitei que a Sega poderia ter mudado o protagonista na versão do Game Gear. Por sorte, tenho o cartucho original desse jogo, na caixa e com manual. Consultando o manual, não há nenhuma referência explícita a quem é o herói controlado pelo jogador. Apesar da caracterização esquisita, acredito que se trata mesmo do Dr. Grant. Durante o jogo, ele aparentemente carrega um chapéu nas costas, mas uma cena perto do fim do jogo mostra que o objeto em suas costas é na verdade uma mochila. Só Deus sabe por que a Sega resolveu mudar o “sprite” do personagem da versão Master, que era bem definido e de acordo com o filme, e substituí-lo por um Dr. Grant sem chapéu e vestido com um colante cinza. A única hipótese racional que posso cogitar é que, por algum motivo, o “sprite” original do personagem não ficou bom na tela reduzida do Game Gear, obrigando a Sega a redesenhar o herói.
De qualquer forma, o Jurassic Park do Game Gear é virtualmente idêntico ao do Master System, embora sensivelmente mais fácil em diversas partes e menos desafiante no geral (o que também era comum nas adaptações de games do Master para o portátil). Se trata de um excelente jogo para a época, ainda mais se levarmos em consideração que era um game lançado para um console portátil. No entanto, entre as duas, ainda prefiro a versão do Master System, que apresenta um Dr. Grant melhor caracterizado e uma melhor exibição dos bonitos e caprichados cenários, que ficam um pouco limitados na tela do Game Gear.
Chega de papo. Chegou a hora de colocar o chapéu, entrar no Parque dos Dinossauros e encarar o game do começo ao fim! Vamos lá!
Chegando na ilha.
Helicóptero pousando na ilha.
As cenas do começo do jogo contam que os computadores que mantinham o parque seguro começaram a falhar. Por conta disso, várias cercas elétricas pararam de funcionar e dinossauros escaparam em quatro diferentes áreas da ilha. Ao contrário da trama do filme, na qual o Dr. Alan Grant busca escapar com vida da ilha, no game o seu objetivo é normalizar a situação, capturar os animais que fugiram e garantir que o parque possa abrir e ser um sucesso. Uma pergunta: para esta missão, não seria melhor terem chamado um exército de soldados ao invés de um paleontólogo solitário?
O mapa permite que você escolha a ordem das missões a serem completadas, em diferentes áreas da ilha.
Ok, vamos começar pelo Tricertops! Repare no vento balançando as árvores ao fundo.
Cuidado para não virar churrasco. O negócio aqui é escalar os galhos.
Ai, mamãe, um dinossauro!!! Este é provavelmente o “chefe” mais barbadinha do jogo, mas mesmo assim requer um pouco de prática. Esta é uma boa hora para experimentar outras armas.
Um já foi, só faltam mais … todos os outros! Oh boy ….
No começo de cada fase, rola esta pequena cena de perseguição. Diferentes dinossauros tentarão alcançar e destruir o seu veículo. Meta bala neles! Não é nada muito difícil e conta apenas como fase bônus, então não se preocupe muito. É mais para relaxar. Quem não gosta de atirar em animais extintos para amenizar o stress, né?
Estamos agora em busca do Braquiossauro.
Olha que cenário lindo, com dinossauros se movendo ao fundo. A Sega fez de propósito, só para mostrar que o Master System era foda. É por isso que a gente ama esse videogame até hoje! 🙂
Olha um dino de corpo inteiro aí, em primeiro plano, atacando o Dr. Grant com a cabeça. Agora está convencido de que o Master era foda? Só tome cuidado para não ser engolido por um dinossauro enquanto fica admirando as belezas naturais do parque.
Esse clone de Monstro do Lago Ness é o chefão desta fase. Use a arma contra ataques aéreos e deixe o animal nocauteado.
Mais um no chão! Próximo!
Reconheceu o monstrinho horroroso ali no canto esquerdo? É um Dilofossauro, o bicho ardiloso que mata o gordo traíra no filme, lembra?
Jerônimooooooo!!!!
Estamos quase chegando no pterodáctilo!
O pterodáctilo está longe de ser o chefão mais complicado do jogo. Mas esta batalha em meios às árvores, nas alturas, é um dos momentos tensos da aventura.
Não comemore: agora é hora de ir atrás do … Velociraptor! 😦
Acredite: esse inferno de lava e labaredas é a parte mais fácil desta missão. Quando começam a aparecer os primeiros velociraptors, daí a coisa começa a complicar.
Aí está o chefão Velociraptor, que vai te colocar na sepultura diversas vezes até você pegar a manha de como matá-lo numa boa. Depois que você pega o jeito, não é difícil. Mas dá algum trabalho.
Ufa, velociraptor atrás das grades. Agora a gente pode ir pra casa, né? O que, como assim? Que história é essa? Um Tiranossauro-Rex no centro de comando da ilha? Você tá brincando, né?
Lembra da cena do T-Rex correndo atrás do jipe no filme? Agora você reviver esta tensa emoção no game. Mas não se engane: o pior ainda está por vir.
Cientistas desesperados fogem às pressas do Centro de Comando do parque. Sorte a deles, que podem dar no pé.
Bem-vindo ao inferno! Esta última fase é um pesadelo com diversos tipos de dinossauros e sistemas de proteção com laser (!) atacando o pobre Dr. Grant. Pior: a fase é um verdadeiro labirinto, cheio de portas que levam a lugares desconexos, exigindo uma boa dose de paciência até que o caminho certo seja encontrado. Utilize diferentes armas para lidar com cada inimigo e dê cada passo com muito cuidado, pois a morte espreita em cada porta.
Dr. Grant chega em um corredor com diversas portas, e aqui rola uma das maiores sacanagens da história dos videogames: TODAS as portas (com exceção de uma) o levarão de volta para o começo da fase, para que você reviva todo este inferno novamente. Não se deixa enganar: corra direto para a última porta do andar, lá bem no final do corredor.
E chegamos ao T-Rex. Aqui, não tem manha: é uma batalha sofrida de vida ou morte. Use as dinamites para fazer com que as caixas na parte superior da tela caiam em cima do inimigo. Prepare-se para apanhar muito. Se você não guardou alguns kits de medicamentos para recuperar sua energia no meio da batalha, então já pode ir comprando o caixão. Esse chefão é um verdadeiro desgraçado e colocar ele no chão dá um belo trabalho.
Parabéns, chegamos ao final do game! O Dr. Grant aprisionou todos os animais, a segurança na ilha foi restabelecida e o Jurassic Park foi inaugurado com grande sucesso, tornando-se uma atração adorada por crianças e adultos de todo o mundo. Isso é que é final feliz … bem mais feliz do que o do filme (que já era mais feliz do que no livro original). Mas quem se importa? O que interessa é que salvamos o dia e destrinchamos um dos melhores games do Master System. Até a próxima, pessoal! 🙂