20 anos do GAME BOY

O próximo review do CEMETERY GAMES será de um game do Mega Drive e estará disponível na semana que vem. Mas eu não poderia deixar passar essa data tão especial sem fazer uma homenagem ao GAME BOY, lançado em 21 de abril de 1989 no Japão (agosto de 1989 nos EUA, tendo chegado à Europa no ano seguinte).

Como todos sabemos, o hoje icônico portátil revolucionou o mercado de games e deu origem aos sucessores Game Boy Color (1998), Game Boy Advance (2001) e Nintendo DS (2004), sendo que todos venderam como água.

Os números do sucesso do portátil da Nintendo falam por si só: o Game Boy clássico e o Color venderam, juntos, 118 milhões de unidades mundo afora. A linha posterior, Game Boy Advance, vendeu 81 milhões de unidades.

Eu tive o prazer de ter contato com o Game Boy original quando criança, por volta de 1992, tendo curtido na época games como Super Mario Land, Tennis, Alleyway e o grande hit Tetris, game popularizado pelo Game Boy e que nos anos seguintes ganhou versões para tudo o que é máquina de rodar jogo (se bobear, saiu até para fornos de microondas e interfones).

Aguardem para breve um review de jogo do Game Boy clássico, em homenagem aos 20 anos dessa maquininha inesquecível, que nos legou muitos games legais e praticamente criou o mercado de consoles portáteis, hoje comandado pelo DS da Nintendo e pelo PSP da Sony.

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RIVER RAID (Atari 2600, 1982)

Lançado pela Activision no já distante ano de 1982, RIVER RAID é uma obra-prima da primeira metade dos anos 80, lembrado com entusiasmo por dez entre dez jogadores da época. O game é o primeiro shot’em up com scroll vertical de sucesso da história, apresenta uma jogabilidade intuitiva e eficiente e gráficos muito bonitos e detalhados para os padrões tecnológicos do Atari 2600.

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Em River Raid, o jogador controla um pequeno avião que sobrevoa um rio repleto de alvos militares inimigos: aviões, helicópteros, navios e até pontes. Pelo caminho, são encontradas diversas estações de combustível, e sobrevoá-las garante o abastecimento do avião. Segundo informava a embalagem original do game, River Raid é o nome da missão, cujo objetivo é “quebrar o bloqueio inimigo e destruir suas pontes para interromper o avanço de suas tropas“.

Impressionava, na época, o visual bem acabado e os gráficos bem definidos do jogo, o que nem sempre era comum no Atari 2600. O mesmo pode ser dito da jogabilidade, precisa, simples e intuitiva, o que faz com que River Raid continue, inclusive, jogável e divertido ainda hoje.

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Um dos aspectos notáveis do game é o cenário enormemente extenso – e não randômico  –  do jogo. Em outras palavras, o campo de jogo é “fixo”, sendo sempre o mesmo todas as vezes em que se inicia uma partida. Isso pode parecer uma banalidade para os padrões atuais, mas não custa lembrar que o game ocupava míseros 4 KB de memória (menos do que ocuparia fazer uma lista de supermercado feita no Bloco de Notas do Windows).

Para criar uma extensão de terreno tão grande com tão pouca memória, foi usada em River Raid uma técnica envolvendo algoritmos lineares, ou seja, o cenário é gerado por algoritmos, mas calculados de forma linear com valor inicial fixo. Um feito notável da programadora Carol Shaw.

“Programadora”? Sim, outro destaque histórico de River Raid é que ele foi inteiramente desenvolvido por Carol Shaw, a primeira programadora profissional de games de que se tem notícia. O primeiro game comercial dela foi o 3D Tic Tac Toe (jogo da velha tridimensional), de 1979. Mas foi com River Raid que a moça arrebentou, eternizando-se como a criadora deste que é indiscutivelmente um dos melhores games da 2ª geração de consoles.

De fato, River Raid é tão bom que a única crítica que se pode fazer a ele é que o game possui certas falhas de perspectiva. Explico: olhe para as fotos do game. Agora me diga: o avião está sobrevoando um rio dentro de um canyon, com montanhas em ambos os lados, ou está meramente sobrevoando um rio em terreno plano? Se considerarmos que o avião voa dentro de um canyon, não haveria como ele colidir com aviões inimigos que atravessam horizontalmente a tela, pois esses aviões necessariamente estariam em altitude muito superior. Mas, se considerarmos que o avião sobrevoa um rio em terreno plano, então não haveria razão para ele colidir com as margens do rio.

Como visto, o próprio game parece não ter se decidido sobre essa questão em particular, e o mesmo pode ser dito dos ilustradores de cartuchos, como demonstram as imagens abaixo. Até hoje, esse é um mistério que ninguém resolveu. Mas feche o olho para este detalhe banal da física e você estará diante de um clássico absoluto, visionário, inovador e acima de qualquer crítica imaginável.

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O avião de River Raid sobrevoa um rio cercado por um canyon? A segunda ilustração de cartucho sugere que sim, a primeira que não e esta última (nacional) mostra claramente o avião voando bem acima do nível do rio, o que não reflete a realidade do jogo, na qual o avião colide com as laterais se for muito para o lado.


RIVER RAID II?

Depois de alguns anos, o programador David Lubar desenvolveu para o Atari a pouca conhecida sequência do clássico de Carol Shaw. River Raid II tem uma proposta diferente de jogo, com diferentes fases e foco numa jogabilidade mais técnica. O jogador precisa, por exemplo, decolar de um porta-aviões, além de regular a todo tempo a altura em que voa seu avião (parece que Lubar se deu conta dos equívocos físicos do game original). Apesar de bem intencionado, River Raid II não fez sucesso. Provavelmente contribuiu para isso o fato de o game ter gráficos horríveis, muito inferiores aos do primeiro game, além de uma mecânica menos divertida.

RIVER RAID III?

Agora vamos falar de um mistério: vários cartuchos aqui no Brasil, na época, ostentavam o game “River Raid III“, como por exemplo alguns cartuchos de 4 games da Milmar, daqueles com chave-seletora. O pequeno problema é que nunca foi lançado nenhum River Raid III! Fica o mistério.

Como aqui no Brasil era relativamente comum mudarem o nome dos jogos (“Halloween” do Atari foi batizado de “Sexta-Feira 13” por aqui), é provável que o “River Raid III” fosse na verdade simplesmente o  River Raid II, ou mesmo algum outro game de estilo semelhante, mas sem nenhuma relação direta.

CURIOSIDADES:

* River Raid foi o primeiro game a ser banido na Alemanha pelas autoridades, em 1984, sob o fundamento de que “provia às crianças educação paramilitar” (!!!) e de que jogá-lo causava nos jovens “raiva, agressividade, pensamento errático e dores de cabeça“. É mole? O que será que esse pessoal diria ao ver as crianças jogando Gran Theft Auto hoje em dia?

O banimento oficial de River Raid perdurou até 2002, por conta do relançamento do jogo como parte da coletânea Activision Anthology do Playstation 2. Hoje, o game é considerado “livre para todas as idades” por lá. Portanto, de duas, uma: ou a sociedade atual realmente se acostumou com a banalização total da violência, ou as autoridades alemãs da época tinham merda na cabeça. Eu fico com a segunda opção.

* Na época, o game foi convertido para os microcomputadores MSX, Spectrum, IBM PC e Commodore 64, só para ficar nos mais famosos, além de ser lançado também para os consoles Intellivision, ColecoVision e Atari 5200. Hoje, como parte da coletânea Activision Anthology, River Raid encontra-se também disponível para Playstation 2, Game Boy Advance, PSP e Windows.

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River Raid no microcomputador Commodore 64. Repare que o “problema do canyon” foi corrigido, na medida em que o avião agora pode voar para os lados, para fora da área do rio.

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Embora o Colecovision fosse sensivelmente superior ao Atari 2600 em termos de hardware, essa versão de River Raid ficou devendo em gráficos para o original.