DIE HARD (1991, NES)

die_hard2

Fala sério, pessoal: dessa vez, vocês acharam que o Cemetery Games tinha ido para a cova de vez, não é mesmo? Ficamos nada menos do que nove meses (!) sem nenhuma atualização. Complicado, né? Vida de adulto não é fácil!

Mas, mesmo com os muitos compromissos da vida prática cotidiana, o Caveira que vos fala segue firme no Cemetery Games, que é osso duro de roer e … DURO DE MATAR! E, falando em Duro de Matar, é quase Natal! E de que maneira melhor poderíamos comemorar o Natal por aqui senão analisando a adaptação para videogame de um dos filmes natalinos mais divertidos dos anos 80?

Para quem eventualmente passou as últimas três décadas congelado ou vivendo numa caverna em Marte, vale lembrar que Duro de Matar (Die Hard, no original) é um filme de 1988 estrelado por Bruce Willis. Na trama, ele interpreta o policial John McClane, que vai para Los Angeles para passar o Natal com a esposa e com os filhos. Tudo corre com certa tranquilidade enquanto ambos estão numa festa de Natal no luxuoso prédio Nakatomi Plaza, quando subitamente a festa é interrompida por uma dúzia de terroristas armados até os dentes … e só McClane poderá frustrar os terríveis planos do grupo criminoso.

Die_Hard_03
Peraí … eu disse “uma dúzia” de terroristas? Hmmmm, receio ter más notícias para você, caro amigo retrogamer. É o seguinte: a dúzia de bandidos do filme foi magicamente transformada em nada menos do que 40 (é, eu disse QUARENTA!) terroristas no game. Sabe Ali-Babá e os quarenta …? Ok, ok, você entendeu. É, QUARENTA terroristas! Com metralhadoras. Sim, o jogo é difícil sim.

Nunca vou me esquecer da primeira vez em que ouvi falar do Die Hard do NES! Foi em 1991, quando eu tinha uns dez anos de idade, lendo a edição nº 6 da saudosa revista Ação Games. De repente, uma matéria dentro da revista anuncia o seguinte:

Quem se amarrou no filme Duro de Matar, com Bruce Willis, vai gostar de saber que esta superaventura terá em breve uma versão para videogame. Título para Nintendo 8 bits, Die Hard está sendo desenvolvido pela Activision com o uso de recursos de inteligência artificial – uma sofisticada linguagem de programação que faz os personagens do game ficarem mais espertos. Com ela, os inimigos reagem conforme as atitudes do jogador e complicam muito a sua vida. Vamos esperar seu lançamento nos States para conferir se este game é duro de matar mesmo.

E eu pensei “Uau, inteligência artificial, esse jogo vai ser o máximo!”.

Não se empolgue demais, fiel leitor. O Die Hard do NES está longe de ser um game excepcional. Na verdade, muita gente acha o game uma tremenda de uma porcaria. O jogo tem lá os seus defeitos, mas acho que ele é interessante e merece ser conferido – especialmente por retrogamers que sejam fãs do clássico filme oitentista!

Die_Hard_01
A velha Ação Games pode ter exagerado um pouco no alarde, mas a história da “inteligência artificial” tem lá um fundo de verdade. Os inimigos no game são bem ágeis e dão bastante trabalho, e realmente se mostram mais “espertos” do que o normal em jogos da época. Frequentemente, os terroristas aparecem do nada atirando e ficam em movimento, fugindo de seus tiros e se escondendo pela fase. Para os padrões atuais, sem dúvida é muito pouco para alguém pensar em chamar isso de “inteligência artificial”. Mas, para os padrões dos “bad guys” de jogos do velho Nintendo 8-bits, os terroristas de Die Hard realmente davam bastante trabalho.

Die_Hard_02
O visual do jogo é mediano. Por um lado, o game tentou capturar diversos elementos visuais do filme, inclusive alguns detalhes de decoração em alguns andares e algumas sutilezes incomuns em games da época (se você atirar nas janelas internas, por exemplo, o chão ficará coberto de cacos de vidro e machucará o herói se você caminhar por cima dos cacos). Por outro lado, os gráficos são bem medíocres para um game de NES lançado em 1991. A animação do protagonista é particularmente horrenda, sendo que McClane mais parece um pirata com uma única perna de pau, mancando desajeitadamente enquanto caminha. As telas com textos, que vão aparecendo ao longo do jogo, reproduzem com razoável competência a feição dos atores do filme. Mas não chega a ser nada capaz de salvar o visual sem graça do game.

Die_Hard_07
Um dos motivos pelos quais boa parte dos jogadores das antigas não gosta desse game é porque ele é um daqueles jogos do tipo “e agora, que diabos que devo fazer e para onde raios devo ir?”. O jogo não é linear e dá poucas pistas sobre o que você deve fazer. É quase como ele se fosse uma mistura de jogo de ação com adventure. O problema é que o lance de explorar os andares do prédio e descobrir o que fazer se torna particularmente estressante quando, a qualquer momento, hordas de terroristas maníacos podem aparecer do nada descarregando suas metralhadores na direção da sua fuça!

Die_Hard_08
Basicamente, o objetivo é matar todas as quatro dezenas de bandidos e impedir que eles consigam abrir as trancas do cofre que guarda uma fortuna de milhões de dólares dentro do prédio (para quem não lembra do filme, este é o motivo pelo qual os malfeitores estão ali). Uma das coisas que eu aprendi me aventurando pelo game é que, no topo do prédio, você pode encontrar um mapa do 5º andar – onde há um computador que, se destruído, atrapalha os planos dos terroristas de abrir as trancas automáticas do tal cofre. Lá no telhado, dá pra encontrar também um míssil.

Die_Hard_06
O jogador conta com apenas uma vida. Felizmente, a barra de energia não é tão pequena assim, e pode ser reabastecida com o consumo de … latinhas de Coca-Cola! Se você achou isso uma excentricidade, espere até saber que, na verdade, neste jogo McClane tem DUAS barras de energia: uma para sua saúde “em geral”, e outra para … seus pés! Sim, se a energia dos seus pés (!!!) ficar muito baixa, o herói começará a andar bem devagar. Felizmente, assim como a energia “geral” pode ser aumentada com as latinhas de Coca, a energia dos pés de McClane pode ser recuperada com os kits de primeiros-socorros encontrados pelos diferentes andares. Quem viu o filme vai entender que os produtores do jogo tentaram ser fieis ao filme com essa história dos “pés machucados” … mas que ficou meio bizarro, ficou.

Die_Hard_05
Um game de ação/aventura que se passa dentro de um arranha-céu com 35 andares enormes pode dar a falsa ideia de que o game é imenso e muito longo, mas não se engane. No modo de jogo normal, apenas os andares de 31 a 35 são acessíveis (exceto por incursões em andares específicos, como é o caso do quinto andar). Na verdade, se você sabe direito o que fazer, Die Hard é um jogo que pode ser terminado em vinte ou trinta minutos.

Die_Hard_04
Conclusão: Die Hard está longe de ser um dos games de ação mais memoráveis do NES. O visual é pouco estimulante e o jogo no geral é frustrante. Apesar disso, é louvável a intenção da Activision de criar um game que traduzisse tantos elementos do filme quanto fosse possível. Ao invés de produzir um tiroteio genérico e colocar o nome do filme, os caras da Activision fizeram o melhor possível para converter a aventura de McClane do cinema para um game de 8-bits – e, nesse aspecto, o Die Hard do Nes ficou muito interessante para os fãs do filme, que acabam se divertindo com as diversas referências: tem McClane com os pés descalços pisando em cacos de vidro, se arrastando por dutos de ventilação, ouvindo as conversas dos terroristas pelo rádio, subindo e descendo pelos andares pelo elevador e pelas escadas, trocando chumbo com uma infinidade de terroristas, etc.

Die_Hard_10
Die Hard não é ação videogâmica de 8-bits da melhor qualidade, como o clássico Contra, mas é uma bela opção para um Natal retrogamer. Se você é fã do filme, precisa conhecer – isto é, se você tiver coragem de encarar quarenta terroristas dotados de uma “inteligência artificial” meio duvidosa (estou fazendo piada aqui, mas o pior é que os desgraçados dão um trabalho danado mesmo!).

500full-die-hard-screenshot

Um Feliz Natal, amigos retrogamers … e “Yippee-ki-yay, motherfucker“!!!

Die_Hard_09Carnificina videogâmica de 8-bits … nada mau para um cara velho, hein?