STARBLADE (1991, Arcade, Sega CD)

Quando eu era pré-adolescente, gostava de ir no então recém-inaugurado shopping aqui da minha pequena cidade para, dentre outras coisas, jogar um game de naves que tinha uns gráficos incríveis, e que rodava dentro de uma cabine que fazia o jogador se sentir o próprio Último Guerreiro das Estrelas. O game era Starblade, da Namco, uma espécie de Star Fox em primeira pessoa, com gráficos vetoriais.


Apesar da mecânica simples (o jogo é naquele estilo “rail shooter“, com caminho automático, onde a única preocupação do jogador é basicamente ser bom de mira), o clima de batalha no melhor estilo Star Wars e os gráficos fantásticos para os padrões da época garantiam uma experiência empolgante. É bom lembrar que, no mundo pré-Playstation (ou seja, até a primeira metade dos anos 90), gráficos tridimensionais eram algo raro e impressionante, e causavam uma sensação de imersão muito grande na comparação com os gráficos “bitmap” que dominavam a cena dos videogames.


Em 1994, foi lançada uma versão de Starblade para o Sega CD. Só fui conhecê-la recentemente, mas imagino que essa versão não deve ter comovido muita gente, pois em 1994 o jogo já não era mais assim tão impressionante (basta ver que, um ano antes, já tinha sido lançado para o Super Nes o clássico Star Fox, cujos gráficos eram mais ou menos próximos aos de Starblade). Para piorar, a versão do Sega CD ficava devendo bastante em termos de velocidade e de visual.


O maior problema do Starblade do Sega CD é que (para economizar memória e processamento, certamente) nem todas as naves e estruturas são renderizadas. Deixa eu explicar melhor: você está ali, atirando em naves poligonais renderizadas e pensando “uau, mas que gráficos legais para os padrões dos consoles de 16-bits” e, de repente, surge na sua frente uma frota de naves sem texturas, feitas de meia dúzia de retas, que parecem saídas de um jogo de algum microcomputador dos anos 80. Essa mistura de elementos coloridos e renderizados com outros precários e transparentes acaba prejudicando sensivelmente o visual do game como um todo, representando uma experiência visual menos eficiente do que o original dos arcades. A limitada paleta de cores do Sega CD, bastante pobre em comparação com o que os arcades dos anos 90 já apresentavam, também era outro problema visível na conversão.


Isso não significa que o Starblade do Sega CD não tenha seus méritos. O primeiro deles é que o jogo usa e abusa dos “superpoderes” do Sega CD. Tenho a nítida impressão de que há mais efeitos de rotação, piruetas e loopings nessa versão doméstica de Starblade do que no próprio original do arcade. Em termos de “atmosfera de guerra estelar”, a versão do Sega CD se sai muito bem.

Outra vantagem é que o jogo também é sensivelmente mais fácil do que o jogo do arcade, que era de arrancar os cabelos e tinha uma dificuldade calculada para fazer o jogador perder fichas minuto a minuto. Mas, para os hardcores, não há problema – o jogo do Sega CD conta com um modo de dificuldade “hard” para satisfazer os masoquistas de plantão.


Em termos de roteiro, Starblade não poderia ser mais simples: uma estação bélica hostil de proporções planetárias chamada Red Eye (qualquer semelhança com a Estrela da Morte de Star Wars obviamente não é mera coincidência) está se dirigindo ao Mother Planet, presumivelmente o planeta de origem do herói encarnado pelo jogador. O objetivo é, no comando de um pequeno caça estelar, encarar uma frota de naves inimigas, entrar na superfície de Red Eye, penetrar o interior da estação e destruir o seu reator central. Enfim, como dá pra ver, para ser mais cópia de Guerra nas Estrelas do que isso, só se tivessem colocado sabres de luz, gente fazendo coisas levitarem com a força do pensamento e pequenos ursos de pelúcia armados com lanças morando no meio de uma floresta!


Uma versão melhorada de StarBlade, chamada de Starblade Alpha, foi lançada em 1996 para o 3DO e para Playstation. Nunca cheguei a jogar essa versão, mas vi alguns vídeos do game rodando no Playstation e posso assegurar que os gráficos foram bastante trabalhados nessa versão, sendo que o visual é arrasadoramente superior ao original dos arcades (a versão do Sega CD, então, fica parecendo um game de ZX Spectrum).

Enfim, Starblade foi um game que apavorou nos arcades do começo dos anos 90, e continua sendo um rail shooter divertido e uma boa experiência de tiroteio espacial retrogamer. Se você quer curtir a experiência original (embora perdendo bastante, naturalmente, pela falta da cabine high tech do arcade, que representava grande parte da imersão), sugiro emular o jogo do arcade no MAME. Se você quer a experiência mais retrogamer possível, fique com a decente versão do Sega CD. E, se estiver com vontade de jogar Starblade na melhor de todas as suas encarnações, vá atrás do game do Playstation. Capriche na pontaria e que a Força esteja com você!

THE TERMINATOR (1993, Sega CD)

Lançado em 1984, o filme “O Exterminador do Futuro” (The Terminator) celebrizou o ator Arnold Schwarzenegger como um ícone dos filmes de ação e se tornou uma das produções mais memoráveis e icônicas dos anos 80, gerando uma lucrativa franquia que rende frutos até hoje. Uma produção modesta (custou menos de 7 milhões de dólares), o filme rendeu quase 80 milhões de dólares pelo mundo afora e, além do sucesso na época, jamais perdeu o seu reconhecimento (o filme conta com o invejável – e incomum – score de 100% no site Rotten Tomatoes, que agrega reviews de filmes). O pessoal da minha geração cresceu assistindo as reprises do filme na finada Sessão das Dez no SBT, e todos nós nos cagávamos de medo do sinistro ciborgue assassino vindo do futuro, principalmente quando ele aparecia na sua verdadeira forma de esqueleto de metal, no fim do filme!


Bem, uma produção tão bem sucedida e icônica deve ter gerado um monte de games na época, certo? Errado: NENHUM jogo de videogame baseado no primeiro filme foi lançado nos anos 80 para nenhuma plataforma. O motivo é desconhecido. Talvez tenham havido problemas de licenciamento, ou pode ser que essa ausência tenha conexão com a conhecida crise no mercado de videogames que assolou o setor entre 1983 e 1984. De qualquer forma, o certo é que um game baseado no filme só viria a ser lançado seis anos depois da película – tratava-se do medíocre e pouco conhecido The Terminator, lançado pela Bethesda Softworks em 1990 para PCs.

Mas, então, ocorreu um fenômeno. Sete anos depois do célebre filme original, saiu uma continuação. Terminator 2 – Judgment Day foi lançado em 1991 e até hoje é considerado uma das continuações mais sensacionais da história do cinema. Tecnicamente, o filme é incomparavelmente superior ao primeiro, e a qualidade do filme sob todos os aspectos é tamanha que muita gente o considera melhor, no final das contas, do que o seu sensacional antecessor. O filme marcou época e foi um dos grandes acontecimentos da cultura pop do começo dos anos 90. E, é claro, gerou uma pilha de jogos de videogame baseados nele.


Nesse ponto, as empresas do setor levaram aproximadamente 0,000012 segundo para se darem conta do seguinte: “Epa, peraí um pouco! Nós vamos encher os bolsos de dinheiro EM DOBRO! Sim, porque não faremos apenas games baseados no novo filme, mas também novos games baseados no primeiro filme, que ainda não foi devidamente explorado nos videogames! Urrú, grana!!!“.

É por causa desses singelos fatos que se constata o fenômeno de todos os games baseados no primeiro filme serem posteriores ao segundo filme (exceto pelo já mencionado game da Bethesda). Entre 1992 e 1994, games baseados no primeiro The Terminator foram lançados para NES, Super Nes, Master System, Mega Drive, Game Gear e Sega CD. O pior de todos, sem dúvida, é o game do NES – uma abominável combinação de jogabilidade tacanha, gráficos horríveis e efeitos sonoros inaceitáveis. A versão do Super NES é um pouco melhor, mas também é uma tristeza, e já foi devidamente avacalhada aqui no Cemetery Games.

A Sega se saiu bem melhor nessa fornada de games tardiamente inspirados no filme oitentista. O game do Mega Drive é bem legal, e seu maior defeito é ser constituído de apenas quatro fases, que são acentuadamente difíceis (até para compensar a curtíssima duração que, de outro modo, o jogo teria). Joguei o game do Mega Drive na época em que ele foi lançado, e sempre gostei do visual e da ótima atmosfera do jogo. As versões do Master System e do Game Gear são essencialmente idênticas a do Mega Drive, apenas com gráficos e sons mais simples.

Surpreendemente, quem se saiu melhor nessa história toda foi o Sega CD. Era comum, na época, ver a Sega lançando para o console games que eram idênticos às versões do Mega Drive, e que tinham como único diferencial uma trilha sonora de maior qualidade. Esse tipo de lançamento “matado” (chamado de “shovelware“) era objeto de muitas críticas ao Sega CD, mas não foi o que ocorreu nesse caso. The Terminator, lançado em 1993 para o Sega CD, era um game exclusivo, totalmente diferente de qualquer outra versão. E ele botava no chinelo até mesmo o bom jogo do Mega Drive. Na comparação, The Terminator do Sega CD apresentava um número muito maior de fases, gráficos melhores, mais ação e tiroteio e, principalmente, uma trilha sonora original incrível, de qualidade excepcional.

Um dos nomes envolvidos nessa elogiada trilha sonora é o conceituado Tommy Tallarico, hoje conhecido como um dos co-fundadores da famosa série de concertos Video Games Live. Apesar de todas as demais qualidades do jogo do Sega CD, não é exagero dizer que o principal motivo de ele ser lembrado até hoje é em virtude de sua espetacular trilha sonora, que flerta com o heavy metal, com o eletrônico e com o progressivo. Utilizando uma tecnologia chamada Q-Sound, até então inédita nos videogames, a trilha foi amplamente aclamada na época pela qualidade das composições.


A história do jogo segue à risca o filme: estamos no ano 2029 e o mundo foi destruído numa guerra contra as máquinas, que se tornaram inteligentes e auto-suficientes. A humanidade chega à beira da extinção até que surge um líder chamado John Connor, que mobiliza as forças da resistência humana e vira o jogo contra as máquinas, colocando-as perto da derrota. Para evitar esse infortúnio, as máquinas desenvolvem um mecanismo de deslocamento temporal e enviam ao passado um exterminador – um robô humanóide revestido de pele humana. O objetivo do exterminador é, no ano de 1984, localizar a mãe do líder da resistência e matá-la, impedindo o nascimento de John Connor. Ao descobrir o plano, Connor envia ao passado um soldado de sua extrema confiança, o destemido Kyle Reese, que terá a missão de encontrar Sarah Connor antes do exterminador e salvá-la do assassino robótico.


O jogador encarna Kyle Reese e as primeiras fases são ambientadas no futuro pós-apocalíptico, sendo que Reese precisa enfrentar os exércitos robóticos em seu caminho até encontrar a máquina do tempo para ir atrás do exterminador. As quatro primeiras fases do jogo se passam no futuro. A primeira mostra Reese em meio a escombros de prédios, a segunda se passa em colinas cheias de inimigos e as duas próximas ocorrem dentro das instalações militares das máquinas. Reese chega justo na hora em que o exterminador está sendo transportado ao passado, e chega a ter um breve confronto com ele. De repente, o inimigo some e Reese entra na máquina atrás do exterminador, rumo ao ano de 1984.

As duas fases seguintes se passam nas ruas de Los Angeles no ano de 1984. Reese, aqui, enfenta um problema que não tinha no filme – bandidos de rua. Você irá se apavorar com a absurda quantidade de meliantes e marginais de toda a espécie que aparecerão pelo caminho, fazendo de tudo para hostilizar o pobre visitante do futuro. O objetivo de Reese é chegar até uma casa noturna chamada Tech Noir, o lugar onde ele se encontra pela primeira vez com Sarah Connor no filme, lembra? No game, aparentemente o Tech Noir é o único bar de Los Angeles, já que Reese precisa percorrer quilômetros e quilômetros até chegar lá, sendo que o cenário é cheio de luminosos apontando o caminho do “bar”, deixando subentendido que não há outro bar na cidade além daquele que você sabe que tem que encontrar.

A sétima fase é o Tech Noir. No filme, Reese precisava se preocupar “apenas” com o Schwarzenegger vindo do futuro. No game, como pão de pobre sempre cai com a margarina virada pro chão, o herói tem que encarar mais uma leva de fascínoras arruaceiros. Aparentemente, o Tech Noir deixou de ser um bar e virou ponto de encontro de gangs, já que o lugar fervilha de bandidos querendo arrancar o couro de Reese sem nenhuma razão aparente. Infelizmente, não poderei antecipar mais do game para vocês porque não consegui passar dessa sétima fase.


The Terminator é um dos games mais legais do Sega CD, e é um título original que merece ser conhecido, nem que seja apenas para conferir uma das trilha sonoras mais iradas da quarta geração de videogames. Mas nem tudo são flores nessa versão em CD de The Terminator. Sob alguns aspectos, o game deixa a desejar. Primeiro: os vídeos que aparecem no começo do jogo e entre as fases (todos tirados de cenas do filme) estão entre os mais horríveis já vistos no Sega CD. O tamanho deles é reduzido, a resolução é baixíssima, a paleta de cores é limitada e o número de quadros por segundo é digno de um “gif” animado desses que se vê na internet . O Sega CD não era exatamente uma maravilha no quesito “vídeos com qualidade”, mas na média apresentava coisas bem mais decentes do que os vídeos ominosos que foram colocados em The Terminator.

Outra coisa que aborrece nesse game é a ausência de continues. O jogo é difícil pra caramba e o jogador conta apenas com um punhado de vidas. Acabaram-se as vidas, acabou-se o game, pouco importando se você estava na segunda, terceira ou sétima fase. Bem-vindo de volta ao começo do jogo! Não tem saves, não tem passwords, não tem continue, não tem NADA! Sofra, jogador infeliz! Por conta disso, não preciso nem dizer que sugiro que você, desde logo, selecione a dificuldade “Easy” no menu de opções no começo do jogo.

A ação do jogo é bem legal e o tiroteio come solto, mas em vários momentos o jogador sente falta de poder atirar com mais liberdade para todas as direções, como ocorre na famosa série Contra, por exemplo. Frequentemente, você irá querer atirar em diagonal num inimigo e não conseguirá. Quando Reese está numa escada, ele atira em diagonal “automaticamente”, mas nem sempre isso permite que o jogador consiga atirar para onde gostaria. Menos mal que, na maioria das vezes, a granada de mão resolve algumas destas situações incômodas.

Enfim, The Terminator é simplesmente imperdível para os fãs do filme, para os fãs de games de ação de 16-bits e pra quem gosta de trilhas sonoras de games. O Sega CD foi uma plataforma relativamente fracassada e que ganhou muitos games medíocres, mas The Terminator é uma honrosa exceção e uma excelente diversão para os retrogamers de plantão.