Todo jogador das antigas lembra do Sega 32X, mas caso você tenha passado os anos 90 na escola primária ou aprendendo a caminhar, aqui vai uma explicação resumida do que vinha a ser esse bicho: em 1994, o Mega Drive já contava com seis anos de vida. Era o videogame mais bem sucedido da história da Sega e disputava o mercado de consoles de 16-bits, taco a taco, com o Super Nintendo (jamais existiu, antes ou depois, outra geração de videogames em que o mercado foi tão disputado). No entanto, apesar dos seus muitos méritos, o console já dava sinais de cansaço. Sabendo que a próxima geração ainda precisaria de um pouco mais de tempo para dar as caras, a Sega teve a “genial” ideia de lançar um periférico para o Mega Drive. Um aparelho que, acoplado ao console, tornaria ele sensivelmente mais poderoso do que o Super Nintendo – uma espécie de geração “4.5”. Nascia o Sega 32X.
E como essa história acabou? Quem é das antigas, sabe bem: o 32X se tornou um dos maiores fiascos da história dos videogames, teve morte prematura antes do final do ano de 1995 e saiu de cena com a risível quantidade de apenas 40 games lançados para a plataforma. Foi o começo da derrocada da Sega como fabricante de consoles.
Mas isso, meus amigos, não é o pior de tudo. Se pelo menos o aparelho tivesse sido contemplado com bons games na sua curta vida útil, isso bastaria para dar a ele um lugarzinho tardio de honra na história. Mas não foi o que aconteceu. Como se não bastasse o fato de ter recebido apenas 40 games, o pior de tudo é que a imensa maioria desses títulos vai do medíocre ao realmente ruim, tornando a biblioteca de jogos do 32X uma das mais vergonhosas de todos os tempos, não apenas no critério quantitativo como também no critério qualitativo. E Cosmic Carnage é, com certeza, um belo exemplo dessa triste verdade.
Lançado pela Sega em 1994, Cosmic Carnage é um dos poucos games do 32X lançados exclusivamente para esta plataforma. E sim, ele é ruim – ruim de doer!
Na trama de Cosmic Carnage, um bando de perigosos criminosos alienígenas está sendo movido para uma colônia penal, mas os bandidos acabam criando uma rebelião e tomando o controle da nave. O problema é que, na batalha, a nave fica seriamente avariada. Então, os malignos criminosos intergaláticos lançam um sinal de socorro que acaba atraindo uma nave militar. Os aliens marginais atacam a nave e, no combate, ambas ficam destruídas, sobrando apenas um módulo de fuga para um indivíduo. Agora, os quatro soldados sobreviventes da nave militar e os quatro criminosos alienígenas sobreviventes terão que se degladiar, num combate mano-a-mano, para decidir na porrada quem ficará com o desejado escape pod.
Não é a história mais imbecil que você já viu na vida? Mas acredite: a trama está longe de ser a pior coisa do jogo!
Cosmic Carnage é basicamente um fighting game que tentava pegar carona no grande sucesso que as séries Mortal Kombat e Street Fighter faziam na época, mas ele peca em todos os aspectos que fizeram a fama de seus concorrentes. A pior coisa em Cosmic Carnage, sem dúvida, é a jogabilidade tosca, truncada e ineficiente. Não importa o personagem que você escolha, todas as lutas mais parecem uma briga de velhos aleijados num asilo.
A animação dos lutadores é igualmente precária. Para ser sincero, mal dá para acreditar que esse é um fighting game lançado anos depois do clássico Street Fighter II. Sua jogabilidade tacanha fica devendo até na comparação com alguns games do estilo lançados nos anos 80 para sistemas de 8-bits. É, a coisa é assim grave mesmo.
Os gráficos de Cosmic Carnage não chegam a ser horríveis, mas são muito fracos para um sistema que tinha a ambição de ser “uma evolução” dos sistemas de 16-bits. Visualmente, Cosmic Carnage lembra um jogo mediano normal de Mega Drive ou Super Nes – exceto pelo uso excessivo do efeito de zoom, scaling e da ampla paleta de cores, o que evidentemente foi feito pela Sega apenas para servir como “demonstração de poder” do 32X, exibindo à exaustão efeitos que o Mega Drive, sozinho, não era capaz de produzir. A verdade, no entanto, é que tudo isso acrescenta muito pouco (“nada” talvez fosse um termo mais apropriado) ao jogo.
Para que tudo em Cosmic Carnage fosse uniformemente ruim, a Sega parece não ter dado muita importância para o design dos cenários também. Todas as locações são desinteressantes e burocráticas, falhando por completo em repetir uma das grandes qualidades de Street Fighter II ou Mortal Kombat, que era a rica diversidade de cenários interessantes. A equipe de desenvolvimento de Cosmic Carnage parece ter se preocupado só em mostrar as capacidades de scaling e cores do 32X, pois claramente não houve maiores esforços no desing dos lutadores, nem dos cenários, nem no aprimoramento da jogabilidade, nem em … bom, em nada, enfim.
Eu diria que a coisa “menos ruim” em Cosmic Carnage é a trilha sonora. As músicas não chegam a ser memoráveis, mas são razoáveis e soam bem. Pena que o estímulo auditivo não seja suficiente para aliviar o jogador da angústia de assistir duas múmias paralíticas se degladiando de forma desajeitada na tela, com um cenário burocrático qualquer no fundo.
Conclusão: nenhuma paixão por games antigos ou gosto pelo retrogaming justifica gastar nenhum tempo de sua vida conhecendo Cosmic Carnage. O jogo é realmente um símbolo da má-qualidade do 32X enquanto plataforma, e ajuda bastante a compreender as razões pelas quais o aparelho foi pro saco tão rapidamente. O jogo é sério candidato a um dos piores fighting games dos anos 90, e realmente sou obrigado a reconhecer que não me orgulha nem um pouco o fato de ter esse jogo entre minha coleção de cartuchos do 32X. Fique longe!