Fright Night (“A Hora do Espanto“), de 1985, é um dos filmes de terror hollywoodianos mais conhecidos dos 80s e encarna muito bem algumas tendências do cinema de horror daquela década, que passava a frequentemente flertar com o humor (alguns chamam o estilo de “terrir”). Mas o terror “soft” de “A Hora do Espanto” era mais do que suficiente para que eu, durante a infância, morresse de medo até do cartaz do filme (que, convenhamos, é sensacional).
Nos anos 90, já um pouquinho mais corajoso, vi o filme pela primeira vez e virei fã. Desde então, “A Hora do Espanto” segue como um dos meus filmes de horror favoritos de todos os tempos, e eu certamente já o assisti algumas dezenas de vezes (a última, aliás, foi na noite passada, já em clima de Halloween).
Bem, então você pode imaginar o meu ESPANTO quando, há alguns anos atrás, já em estágio bem avançado da vida adulta, eu aleatoriamente vim a descobrir que existiu, nos anos 80, um game de computador baseado em “A Hora do Espanto“. Foi um choque. Minha reação foi algo do tipo “COMO É POSSÍVEL QUE EU NUNCA TENHA FICADO SABENDO DISSO ATÉ HOJE!?”.
Passado o choque inicial, ficou fácil de entender os motivos para este fato (que certamente teria me deixado de cabelos em pé na primeira metade dos anos 90) ter passado longe do meu conhecimento. Primeiro: esse jogo foi lançado única e exclusivamente para o microcomputador Amiga, da Commodore. O Amiga até chegou a ter um pequeno público cativo aqui no Brasil, no começo dos anos 90 – sobretudo entre entusiastas de edição de vídeo. Mas era uma plataforma bem cara e bastante incomum para qualquer criança ou adolescente de classe média da época. Durante toda a minha vida, eu só conheci um único sujeito que tinha um Amiga em casa, e isso foi em 1994, quando o padrão já estava no fim do seu ciclo de vida comercial. Se este jogo tivesse sido lançado para MSX, ZX Spectrum ou PC, certamente eu não teria levado 30 anos para tomar conhecimento da existência dele.
Mas existe outro motivo. O fato é que Fright Night, o jogo, não fez muito sucesso, nem muito barulho, nem foi recebido com particular entusiasmo pela mídia especializada da época. A razão disso não chega a ser nenhum mistério: além de ter sido lançado três anos depois do filme (muito tarde, portanto, para capitalizar em cima do sucesso da película hollywoodiana), o fato é que o jogo simplesmente não é muito bom.
Eu sei, eu sei: parece difícil de acreditar nisso com base nas fotos do jogo. O Fright Night do Amiga não apenas possui um visual caprichado como ótimos efeitos sonoros. A ambientação dificilmente poderia ser melhor, e os sprites grandes e gráficos caprichados produzem um inevitável entusiasmo inicial no jogador – mas esse entusiasmo não dura mais do que uns poucos minutos.
Apesar da apresentação irretocável, o game coloca tudo a perder ao apostar em uma jogabilidade muito limitada e em uma mecânica extremamente básica, que chega a lembrar aqueles antigos minigames da Tiger Electronics (lançados aqui no país pela Tec Toy, pela linha “Série Master”). Fright Night é um lindo game de 16 bits na apresentação audiovisual, mas vira um minigame monótono quando o assunto é gameplay.
Uma característica peculiar do Fright Night do Amiga é que, ao invés de ser protagonizado pelos heróis do filme (o afoito adolescente Charley Brewster e o relutante matador de vampiros Peter Vincent), o game coloca o jogador na pele do vilão da película – o sedutor, moderno e urbano vampiro Jerry Dandrige.

Esse tipo de proposta era absolutamente incomum naqueles tempos. Só consigo lembrar de um único outro game de terror dos anos 80 que colocava o jogador no papel do vilão: The Texas Chainsaw Massacre, lançado em 1983 para o clássico Atari 2600. Baseado no lendário filme “O Massacre da Serra Elétrica”, o jogo colocava o jogador no comando do psicopata assassino Leatherface.
A trama de Fright Night é bastante simples e direta: você é Jerry Dandrige e precisa sobreviver sete noites consecutivas, alimentando-se de sangue ao mesmo tempo em que dá cabo de alguns humanos insolentes que invadiram sua mansão – e que planejam enfiar uma estaca no seu coração. Para dar a esses bisbilhoteiros aquilo que eles merecem, Dandrige precisa sair explorando a mansão ao longo da noite para encontrar e beber o sangue de todos que encontrar pelo caminho. No cardápio de snacks noturnos do vampiro, está todo o núcleo de “mocinhos” do filme: Charley, Peter, Amy e o tresloucado “Evil” Ed – além de uma variedade de garotas atraentes que o vampiro atraiu até o local com intenções nada nobres.
Parece mamão com açúcar, mas não será assim tão fácil. Primeiro, porque a mansão de Dandrige é repleta de monstros e assombrações que vão se tornando progressivamente mais agressivas ao longo das noites, e que não hesitam em atacar o próprio dono da casa. Segundo, porque as agradáveis e homicidas incursões noturnas de Dandrige precisam necessariamente terminar antes do nascer do sol, para que ele possa retornar ao seu caixão e garantir a sua preciosa rotina de sono diurno.
Como se vê, Fright Night tinha tudo para ser um excelente game, pois combina ótimos gráficos e sons com uma premissa interessante. O problema é que tudo acaba se resumindo em atravessar de uma tela para outra, subir e descer escadas, procurar vítimas e retornar ao caixão para garantir a sobrevivência de Dandrige por mais uma noite. Não há nenhum combate propriamente dito e a única “ação” do protagonista é a capacidade de pular para desviar de inimigos (as vítimas são automaticamente liquidadas assim que o vampiro encosta nelas).
Com isso, todo o desafio do jogo acaba encarnado no elemento “corrida contra o relógio” e nos padrões de ataque irritantes de aparições voadoras, que fazem o protagonista perder quantidades enormes de energia a cada colisão. O resultado é um game pequeno (são apenas 23 telas, cada uma representando um aposento da mansão de Dandrige), curto (uma partida média dura apenas uns poucos minutos e, se você dominar por completo o jogo, é possível terminá-lo em 25 minutos) e, ao mesmo tempo, bastante difícil e invariavelmente frustrante.
A mídia especializada da época teve percepções divididas, mas majoritariamente críticas, a respeito da qualidade geral do game. A revista ST Amiga (número 11, de maio de 1989) deu uma avaliação final de 88% para o jogo. A conclusão final do review destacava o seguinte: “Apesar dos visuais realmente impressionantes e de uma trilha sonora que deixa todo o resto para trás, Fright Night carece de profundidade suficiente para torná-lo viciante por longos períodos. Com o único objetivo de sugar o sangue de todos os humanos e evitar a atenção dos monstros, não é exatamente o tipo de jogo que vai exigir muito do seu cérebro. Ainda assim, é incomum assumir o papel do vilão, e com o espetáculo visual oferecido, é certo que fará sucesso“.
A revista Your Amiga foi menos generosa na avaliação. Em sua edição de julho de 1989, a revista deu nota 60/100 para o jogo, observando que: “Há alguns bons detalhes em Fright Night: os sprites são grandes e bem animados, os cenários são bem desenhados — embora um pouco sombrios e perversos em algumas partes —, mas a jogabilidade é lamentavelmente insuficiente. Foi divertido por uma hora“. Já a Amiga User International (edição de junho de 1989) deu nota 5/10 para o game.
A ACE (Advanced Computer Entertainment), por sua vez, em sua edição 21 de junho de 1989, foi provavelmente a publicação da época que mais espinafrou o jogo, dando a ele uma risível nota de 277/1000. Na avaliação da revista, “Fright Night demorou muito para ser lançado — e a espera não valeu a pena. O conceito do jogo é sem graça, a área de jogo é pequena, a animação é fraca (Gerry parece e se move mais como Elvis Presley do que o próprio Elvis) e a jogabilidade é frustrante. Não é um jogo que valha a pena adicionar à sua coleção“.
As avaliações contemporâneas não chegam a ser muito mais piedosas. No site de retrogaming Lemon Amiga, especializado na plataforma, Fright Night tem um score médio de 4.58 com base em 62 votos.
Mesmo severamente prejudicado por uma mecânica tão simplória, o Fright Night do Amiga é uma curiosidade retrogamer simplesmente irresistível para fãs do filme, assim como para entusiastas de games de horror. Se eu tivesse acesso a um Amiga com este jogo na primeira metade dos anos 90, certamente teria fechado os olhos para todos os defeitos do game e teria ficado empolgadíssimo em jogá-lo. Na época, eu ficaria com arritmia cardíaca só de ver a arte do cartaz do filme reproduzida numa tela de computador com tanta qualidade e fidelidade.
Fright Night é um lindo game de horror, cujos gráficos caprichados e sons arrepiantes conseguem criar uma excelente atmosfera de terror. Se você for capaz de tolerar a mecânica pobre (que mais parece saída de algum jogo da geração do Atari 2600) e o gameplay limitado e tosco, não há como não se divertir com as aventuras noturnas homicidas de Dandrige dentro de sua belíssima e horripilante mansão. A diversão não dura mais do que alguns minutos, mas é garantida – e você sempre pode retornar na noite seguinte para novos espantos.
Agora, vamos explorar mais um pouco desse obscuro terror retrogamer …
Só essa tela de abertura já seria o suficiente para me deixar alucinado, lá no começo dos anos 90. E pensar que esse game foi lançado em 1988. Caramba, isso era MUITA qualidade gráfica para a época! De babar!
Algumas partes do game surpreendem pela abundância de elementos de gore e splatter. Dá uma olhada nesse quarto! Parece a cozinha do Hannibal Lecter!

“Welcome to Fright Night … FOR REAL!”

Essa fantasma voadora é um dos obstáculos incômodos da mansão.

A fantasma voadora tem uma irmã gêmea que gosta de assombrar a mansão fazendo topless. Sexy e exótico, mas letal. Passe longe.

Essas mãozinhas saindo do chão infestam toda a mansão do vampirão. Mas, a menos que você seja muito desastrado e descoordenado, elas não chegam a atrapalhar muito.

Dandrige encontra o caçador de vampiros Peter Vincent. Fim da linha pra você, vovô!

Dá uma conferida na decoração satânica básica deste agradável e aconchegante recinto!

Charley, o adolescente fã de filmes de terror, dá de cara com Dandrige. Agora ferrou! The armies of the night are coming, fedelho! Dá o fora da minha casa!
Saca só a “carinha fofa” de satisfação que Dandrige faz depois de beber o sangue de uma vítima!

Olha o “Evil” Ed aí! Curiosamente, os desenvolvedores do jogo colocaram nele a peruca vermelha – que ele passa a utilizar no filme só depois que já foi mordido por Dandrige. Vai entender …

Amy, a namorada de Charley, também não será poupada!

“Me disseram que você falou mal do game Fright Night do Amiga! Vou pegar você!”















































