Na primeira metade dos anos 90, a Sega construiu uma sólida reputação como criadora de grandes games protagonizados por personagens da Disney. O Cemetery Games apresenta agora uma retrospectiva, em duas partes, dessa história que trouxe ao mundo alguns dos jogos que mais arrancam suspiros dos retrogamers da atualidade.
Em dezembro de 1990, a situação do Mega Drive da Sega era relativamente confortável. Nos últimos dois anos, o console desfrutava da distinção de ser o mais poderoso videogame que existia (seu rival direto, o Super Nes, havia sido lançado há poucas semanas no Japão e ainda não estava disponível nos Estados Unidos ou na Europa). Além disso, a plataforma já contava com vários games aclamados, como Golden Axe, Altered Beast, Super Monaco GP e The Revenge of Shinobi.
No entanto, faltava um mascote para o Mega Drive, que pudesse rivalizar com o poderoso Mario da Nintendo. Alex Kidd, que tinha sido basicamente o mascote da Sega na era Master System, não fez uma boa transição para o Mega Drive (o game Alex Kidd in the Enchanted Castle, de 1989, nunca foi um grande sucesso de crítica ou público, ao contrário do aclamado Alex Kidd in Miracle World do Master System). Você pode estar pensando “pô, mas e o SONIC?”, mas vale lembrar que esse ícone dos games só daria o ar da graça em junho de 1991, estrelando seu primeiro game.
Pode parecer difícil de acreditar, mas entre dezembro de 1990 e junho de 1991, o mascote do Mega Drive e o rosto mais associado ao console era … o MICKEY MOUSE! É, eu estou falando sério.
As razões são fáceis de compreender. No final de 1990, a Sega lançou para o Mega Drive um dos melhores games originais do console já vistos até então: CASTLE OF ILLUSION. Era um jogo de plataforma com gráficos impressionantes para a época, cenários elaborados e divertidos, uma trilha sonora caprichada e memorável e que apresentava um Mickey que parecia quase vivo de tão bem desenhado e animado. Na trama, Mickey estava curtindo o dia com sua namorada Minnie, quando então a invejosa e malvada bruxa Mizrabel rapta a garota do herói e a leva para o seu covil, o perigoso Castelo das Ilusões. O plano diabólico da bruxa velha é usar Minnie num terrível feitiço para restaurar a juventude da vilã.
Castle of Illusion simplesmente apavorou nas revistas de videogame ao redor do mundo, deixando os jogadores boquiabertos e babando. Foi sem dúvida o game mais “quente” do Mega Drive pelos próximos seis meses que viriam, até a chegada do furacão Sonic – The Hedgehog. Castle of Illusion também ajudou a manter a reputação do Mega Drive como plataforma de jogos exclusivos, já que a maior parte dos bons títulos do console até então eram conversões de games de arcade.
![th_Mickey Mouse - Castle of Illusion (U) [!]000](https://cemeterygames.com/wp-content/uploads/2010/02/th_mickey-mouse-castle-of-illusion-u-000.jpg?w=660)
Outra razão para o sucesso se devia ao fato de que Mickey vivia um período de imensa popularidade naquela época pré-internet, em que a gurizada lia muito mais quadrinhos da Disney do que hoje em dia. Além disso, embora o personagem já tivesse aparecido em outros games anteriormente, nenhum deles chegava nem perto de Castle of Illusion no quesito audiovisual, na boa jogabilidade, no design de fases criativo e no potencial de marketing do título, das excelentes ilustrações, etc.
Em 1992, o jogo ganharia sua única continuação, WORLD OF ILLUSION, exclusivo do Mega Drive. Embalado pelo sucesso de games como Quackshot e The Lucky Dime Caper (dos quais falaremos mais adiante), o Pato Donald aparece neste título como protagonista ao lado de Mickey. World of Illusion é muito legal e, em termos de gráficos, é até superior a Castle of Illusion. Porém, o público do Mega Drive nesta época já estava com as atenções absolutamente centralizadas nos dois games da série Sonic lançados até então, e por isso World of Illusion não fez o mesmo barulho de seu antecessor.
A SÉRIE ILLUSION NO MASTER SYSTEM E GAME GEAR
Ainda em 1990, a Sega prestigiou seu videogame mais velho com uma excelente versão de Castle of Illusion. Mais do que uma adaptação ou conversão, o Castle of Illusion do Master System era praticamente um novo game, com design de fases totalmente diferente do original, apenas aproveitando a mesma premissa básica e jogabilidade semelhante.
É claro que o visual ficou bem mais simples do que aquilo que se viu no poderoso Mega Drive, mas o resultado mesmo assim era um dos melhores games de plataforma já vistos num console de 8-bits. Uma versão idêntica foi lançada para o Game Gear, e foi sem dúvida um dos melhores jogos das primeiras levas de títulos que saíram para o portátil da Sega.
World of Illusion nunca chegou a ter versões para 8-bits, mas no mesmo ano o Master System recebeu sua própria continuação de Castle of Illusion. O jogo se chamava Land of Illusion e, no ano seguinte, teve versão também para o Game Gear (também quase idêntica). Mais sofisticado que o game anterior do Master, Land of Illusion transferia a ação de dentro do castelo para cenários abertos e bem diversificados, exibindo o avanço de Mickey na aventura através de um mapa no melhor estilo Super Mario World.
Land of Illusion foi um dos últimos grandes jogos lançados para o Master System, que em 1992 já era um console ultrapassado em fim de carreira (embora ainda tenha tido uma vida útil saudável no Brasil pelo menos até 1995, sem falar que continua sendo comercializado em diferentes encarnações até hoje).
A morte do Master System nos mercados japonês e americano não impediu que a série Illusion nos 8-bits da Sega viesse a ter uma segunda continuação: Legend of Illusion. Lançado em 1995 para o Game Gear (que ainda estava relativamente saudável no mercado, apesar da dominação quase hegemônica do concorrente Game Boy), o jogo foi convertido para o Master System em alguns mercados onde o console ainda tinha público, como o Brasil.
Nessa altura do campeonato, boa parte dos gamers nem lembrava mais de Castle of Illusion e um jogo estrelado por Mickey Mouse já não causava mais a mesma empolgação do que em 1990, pois nessa época já havia uma enxurrada de bons games estrelados por personagens da Disney tanto em consoles da Sega quanto da Nintendo. Em virtude disso, Legend of Illusion não teve maiores destaques e, até hoje, muitos fãs de Castle of Illusion sequer sabem que o jogo chegou a ter duas continuações!
Depois de Castle of Illusion, a boa fama da Sega como produtora de games com personagens Disney se confirmaria com o badalado QUACKSHOT (1991) e, no mesmo ano, sofreria um abalo com o criticado FANTASIA. Mas isso já é assunto para a segunda parte da nossa retrospectiva!

![Mickey Mouse - Castle Of Illusion [BRA]](https://cemeterygames.com/wp-content/uploads/2010/02/mickey-mouse-castle-of-illusion-bra.jpg?w=660)
![th_Mickey Mouse - Castle of Illusion (U) [!]001](https://cemeterygames.com/wp-content/uploads/2010/02/th_mickey-mouse-castle-of-illusion-u-001.jpg?w=400&h=300)

![th_Mickey Mouse - World of Illusion (U) [!]001](https://cemeterygames.com/wp-content/uploads/2010/02/th_mickey-mouse-world-of-illusion-u-001.jpg?w=400&h=300)




















































Além dos “soldadinhos rasos” e dos chefões de fase, Riki enfrenta também diferentes “subchefes” em cada fase. O primeiro deles é esse otário de cabelo loiro e comprido, que fica atirando umas porcarias no herói.









O chefão da terceira fase é GONTA, um dos personagens mais memoráveis do jogo. Lembro que, antigamente, costumava considerá-lo como um chefão difícil de vencer. Na verdade, só o que você precisa para matar esse gordo com facilidade é ter a manha de usar a voadora na hora certa.





Se você tinha alguma dúvida de que tinha caído num bairro gay, dá uma olhada nisso: dois caras de cabelo loiro comprido, óculos escuros e calças rosas querendo fritar Riki com lança-chamas! Da onde esses caras saíram, de um videoclip do POISON?!?
Essa aí é a Rita, e matar essa desgraçada é um inferno! Adivinha só: não existe um golpe único que tire energia dela. Riki precisa acertar golpes sequenciados na inimiga, ou seja, um chute, depois um soco, depois um soco agachado e depois uma rasteira – não necessariamente nessa ordem. Se você não acertar a safada com o golpe certo, ele não tira energia nenhuma da vilã. Que saco, hein? E mais uma coisa: quem é aquele otário que aparece no quadro ao fundo e nos bustos laterais? O cara parece um narcotraficante sul-americano. E o pior é que o jogo nem se preocupa em esclarecer esse mistério. Será que é o maridão da Rita?










Essa é a primeira tela do game: é aqui que tudo começa. Repare que Indy, no filme, é adolescente nessa parte da história. O pessoal que desenvolveu o game não observou esse “pequeno” detalhe …
Tá vendo esses 20 centímetros de água aí? Parece uma piscina infantil, mas Indiana Jones MORRE automaticamente se encostar nesse aguinha …
Olha a Cruz do Coronado ali em cima! Só que você precisa dar a volta pela caverna de cima para pegá-la. E depois terá que cometer suicídio, porque simplesmente não dá para voltar pelo mesmo caminho porque Indy NÃO AGARRA a corda pela qual veio de jeito nenhum!!!
Indy acabou de pegar a Cruz do Coronado. Ele veio por aquela cordinha da direita, mas ele SE RECUSA a pegar nela e voltar pelo caminho de onde veio. Este game é cheio desses bugs que dificultam a jogabilidade …
Essa segunda fase é provavelmente a mais barbadinha do jogo. Mas é preciso ter a manha de como pular por cima da girafa, que é o obstáculo mais chato da fase. Já sabe como funciona, né: encostou, morreu!
Repare que os programadores tomaram algumas “liberdades criativas” nessa fase. As catacumbas são cheias de esqueletos presos nas paredes, como se fosse uma prisão ou câmara de torturas. Mas quem viu o filme lembra que essa catacumba era um esconderijo de cristãos, sendo que todos os restos mortais guardados lá estavam em condições respeitosas de sepultamento, e não presos por correntes nas paredes, como se fosse uma prisão medieval. Além disso, reparem em como o escudo do cavaleiro das cruzadas é pequeno. No filme, ele é enorme, mas no jogo parece mais uma máscara ou um enfeite barato.
No filme, Indiana Jones escala o castelo pelo lado de fora por uns 40 segundos. Os programadores acharam que a cena merecia virar uma das seis fases do jogo! Não teria sido mais legal uma fase baseada na fuga com a motocicleta?
Essa é talvez a fase mais chata do game, apesar de bem curta. Não fica claro por onde se deve ir e qualquer passo mínimo em falso representa a morte. Os defeitos na jogabilidade, ignorados nas outras fases, falam alto aqui.
Corre que o jogo tá perto do fim!!!
Mais uma fase curta que não agrada. Tudo depende de saber o caminho por onde ir, mas para descobrir isso, só jogando (e morrendo) várias vezes. O cenário é extremamente repetitivo e só começa a variar perto do fim da fase, quando não precisaria, já que o caminho se torna único. E, antes de achar o bimotor (parte inferior direita do zepelin) é preciso pegar o diário do pai de Indy (parte superior esquerda do zepelin).
Última fase!!!
Lembra do filme? O caminho forma o nome de Deus em hebraico – Jeová – mas na grafia original, começando com “I”. Primeiro, o jogo dá a dica para o jogador, para depois essa sequência de letras ser repetida no fim da fase.
Reparem que o game é malandro, e coloca um “J” ali ao lado do “I” para induzir o jogador babaca ao erro. Mas é claro que só um mongolão completo vai esquecer a “dica” dada pelo jogo 20 segundos antes na fase. O problema não é o conhecimento de hebraico do jogador, e sim a jogabilidade. Um toque mínimo errado e Indy cai por encostar na letra errada! E não dá para demorar demais, porque o tempo corre rápido. Olha o Santo Graal ali, tá pertinho!!!
Depois de todas essas agruras, o jogador é recompensado com um dos piores finais da história dos videogames: nada além dessa tela parada, com esse Indiana Jones horrivelmente mal desenhado, que sequer lembra o Harrison Ford! Certamente, ver o final não é um bom motivo pra jogar esse game …