INDIANA JONES AND THE LAST CRUSADE (Master System, 1990)

Lembro bem de quando tinha 8 anos de idade, em 1989, e fui ao cinema ver o maravilhoso filme Indiana Jones e a Última Cruzada. Toda aquela ação, aquelas aventuras incríveis, o personagem lendário, era coisa para marcar a infância de qualquer criança.

Dois ou três anos depois, tomei conhecimento deste game de plataforma baseado no filme. Ele ganhou versões para quase tudo o que era máquina de rodar jogo da época – Nes, Game Boy, Game Gear, Commodore 64, Mega Drive – mas as únicas versões que eu joguei bastante na época foram as do Spectrum, MSX (idêntica a do Spectrum) e a do Master System. Em pouco tempo, ele se tornou um dos meus games favoritos de todos os tempos, o que ainda é, apesar de seus inegáveis defeitos.

Hoje, conhecendo todas as versões do game, posso dizer sem medo de errar: a versão do Master System é, de longe, a melhor de todas. Mas isso está longe de significar que o game é perfeito. A verdade é que Indiana Jones and the Last Crusade era um game de plataforma medíocre e ruim na maioria dos sistemas em que foi lançado, e o mérito da versão do Master System não é o de ser um game maravilhoso, mas sim de pelo menos ser razoavelmente bom.

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Talvez a coisa que mais se destaque na versão do game para o Master é a qualidade dos gráficos. O visual é “limpo” e colorido e os gráficos são bem definidos, o que é mais do que se pode dizer da maioria das outras versões do jogo. A animação do personagem também é bem feita, com “sprites” bem desenhados.

O design de fases é bem interessante, buscando reproduzir o andamento do filme. Indy começa numas cavernas, procurando a Cruz do Coronado (fase 1). Perseguido por bandidos, foge correndo por cima de um trem cheio de animais circenses (fase 2). Em Veneza, desvenda catacumbas em busca do escudo de um cavaleiro templário (fase 3). Sabendo que seu pai foi raptado pelos nazistas, parte para resgatá-lo num castelo na Alemanha (fase 4). Depois, dentro de um zepelin que parte da Alemanha, precisa dar no pé procurando a saída para um pequeno avião bimotor (fase 5). Por fim, no templo onde está escondido o Santo Graal, precisa vencer uma série de armadilhas mortais para chegar até o cálice sagrado.

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Infelizmente, isso provavelmente encerra tudo de positivo que pode ser dito deste game.

Vamos agora aos aspectos negativos. Primeiro – e mais grave do que qualquer outra coisa – este é um daqueles games antigos que se utiliza do ridículo, desprezível e irritante recurso do “tempo limitado”. Ou seja, em todas as fases, além de ter que fugir de inimigos variados, o jogador pode cair morto a qualquer instante vitimado pela simples contagem do tempo! Durante todo o jogo, os segundos vão sendo cronometrados de forma decrescente e, para evitar a morte por tempo esgotado, Indy precisa encontrar pequenas ampulhetinhas espalhadas pelas fases. Trata-se de um recurso ridículo e irritante, que distrai o jogador em relação aos outros elementos do jogo e frequentemente causa mortes injustas, tornando o jogo frustrante e prejudicando a diversão.

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Outra coisa ruim do jogo são alguns problemas nos “detalhes”, que parecem denotar um mau acabamento na produção do jogo. Por exemplo, imagine que Indiana Jones está parado numa plataforma, logo em frente a outra, e que entre elas existe uma pequena fissura. Se Indy encostar nessa fissura, ainda que as proporções do jogo indiquem que isso mal seria suficiente para ele torcer o pé, o personagem CAIRÁ para o nível logo abaixo, como se tivesse caído num enorme buraco! É uma coisa meio difícil de explicar em palavras, mas quando você vê acontecendo na tela, fica perplexo, pois não faz nenhum sentido.

E não é só! Na primeira fase, há um canto das cavernas no qual, se Indy entra, não tem como sair: é preciso esperar o tempo acabar para perder uma vida e recomeçar de outro ponto da fase. Ridículo !

Outro exemplo: se você colocar o personagem na frente de uma escada, ele não agarrá nela. Você tem que PULAR em direção a uma escada ou corda para se firmar nela, e às vezes precisa até mesmo recuar o herói para colocá-lo num ângulo e distância que faça o pulo resultar na ação desejada. Num game em que o tempo corre e é curto, obstáculos e perdas de tempo como essas são bem irritantes. Sem falar que esses “tropeços” na jogabilidade se tornam problemas mais graves em algumas fases – principalmente na quarta (castelo nazista).

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Falando em irritante, esse é um termo que abrange vários aspectos da experiência de jogar esse game. Explico: é irritante que Indy perca toda sua energia e MORRA ao simplesmente encostar num inimigo; é irritante que Indy morra ao simplesmente encostar na água; é irritante que Indy morra ao encostar num buraco cheio de ossos humanos (mesmo que ele tenha caído de uma altura insignificante) e sem dúvida é irritante que inimigos já mortos às vezes ressurjam do nada quando o herói volta para uma parte da fase pela qual já passou.

Essas deficiências, somadas, tornam o game mais difícil do que deveria ser. Mesmo assim, com um pouco de prática, várias situações acabam se tornando previsíveis e o desafio se mostra mais modesto. De qualquer forma, o jogo é na verdade bem curto e o jogador tem dois continues à disposição, então não é tão difícil chegar ao fim do jogo com um pouco de insistência e treino.

Em termos de trilha sonora, o jogo é lamentável. Apesar de as telas de apresentação contarem com uma satisfatória versão “8-bits” do clássico tema dos filmes de Indiana Jones, a música no jogo se restringe a isso. Todas as fases se passam em silêncio absoluto, contando apenas com eventuais barulhos de queda, tiros e chicotadas. Se os desenvolvedores do game acharam que isso ajudaria a dar clima e atmosfera, deveriam ter pensado melhor.

Enfim, Indiana Jones and the Last Crusade passa longe de ser uma obra-prima. Mas os games protagonizados pelo personagem que surgiram nas primeiras quatro gerações de videogames são, em sua maioria, tão ruins que esse acaba sendo, inquestionavelmente, um dos melhores. Com um pouco de paciência e insistência, é possível encarar os seus diversos defeitos e se divertir nesse old-game que, apesar dos pesares, tem seu charme e é inegavelmente atraente para os aventureiros de plantão, que cresceram fascinados pelos filmes de Indiana Jones.

Breve resumo da aventura …

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen0021Essa é a primeira tela do game: é aqui que tudo começa. Repare que Indy, no filme, é adolescente nessa parte da história. O pessoal que desenvolveu o game não observou esse “pequeno” detalhe …

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen004Tá vendo esses 20 centímetros de água aí? Parece uma piscina infantil, mas Indiana Jones MORRE automaticamente se encostar nesse aguinha …

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen009Olha a Cruz do Coronado ali em cima! Só que você precisa dar a volta pela caverna de cima para pegá-la. E depois terá que cometer suicídio, porque simplesmente não dá para voltar pelo mesmo caminho porque Indy NÃO AGARRA a corda pela qual veio de jeito nenhum!!!

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen010Indy acabou de pegar a Cruz do Coronado. Ele veio por aquela cordinha da direita, mas ele SE RECUSA a pegar nela e voltar pelo caminho de onde veio. Este game é cheio desses bugs que dificultam a jogabilidade …

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No começo de cada fase, rolam imagens como essa, acompanhadas de uma musiquinha INSUPORTÁVEL!

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen014Essa segunda fase é provavelmente a mais barbadinha do jogo. Mas é preciso ter a manha de como pular por cima da girafa, que é o obstáculo mais chato da fase. Já sabe como funciona, né: encostou, morreu!

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A imagem mostra Indy encontrando o túmulo do cavaleiro templário, como no filme.

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen019Repare que os programadores tomaram algumas “liberdades criativas” nessa fase. As catacumbas são cheias de esqueletos presos nas paredes, como se fosse uma prisão ou câmara de torturas. Mas quem viu o filme lembra que essa catacumba era um esconderijo de cristãos, sendo que todos os restos mortais guardados lá estavam em condições respeitosas de sepultamento, e não presos por correntes nas paredes, como se fosse uma prisão medieval. Além disso, reparem em como o escudo do cavaleiro das cruzadas é pequeno. No filme, ele é enorme, mas no jogo parece mais uma máscara ou um enfeite barato.

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen021No filme, Indiana Jones escala o castelo pelo lado de fora por uns 40 segundos. Os programadores acharam que a cena merecia virar uma das seis fases do jogo! Não teria sido mais legal uma fase baseada na fuga com a motocicleta?

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen022Essa é talvez a fase mais chata do game, apesar de bem curta. Não fica claro por onde se deve ir e qualquer passo mínimo em falso representa a morte. Os defeitos na jogabilidade, ignorados nas outras fases, falam alto aqui.

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen024Corre que o jogo tá perto do fim!!!

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen025Mais uma fase curta que não agrada. Tudo depende de saber o caminho por onde ir, mas para descobrir isso, só jogando (e morrendo) várias vezes. O cenário é extremamente repetitivo e só começa a variar perto do fim da fase, quando não precisaria, já que o caminho se torna único. E, antes de achar o bimotor (parte inferior direita do zepelin) é preciso pegar o diário do pai de Indy (parte superior esquerda do zepelin).

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen028 Última fase!!!

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen031Lembra do filme? O caminho forma o nome de Deus em hebraico – Jeová – mas na grafia original, começando com “I”. Primeiro, o jogo dá a dica para o jogador, para depois essa sequência de letras ser repetida no fim da fase.

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen036Reparem que o game é malandro, e coloca um “J” ali ao lado do “I” para induzir o jogador babaca ao erro. Mas é claro que só um mongolão completo vai esquecer a “dica” dada pelo jogo 20 segundos antes na fase. O problema não é o conhecimento de hebraico do jogador, e sim a jogabilidade. Um toque mínimo errado e Indy cai por encostar na letra errada! E não dá para demorar demais, porque o tempo corre rápido. Olha o Santo Graal ali, tá pertinho!!!

indiana-jones-and-the-last-crusade-1990lucasartsen039Depois de todas essas agruras, o jogador é recompensado com um dos piores finais da história dos videogames: nada além dessa tela parada, com esse Indiana Jones horrivelmente mal desenhado, que sequer lembra o Harrison Ford! Certamente, ver o final não é um bom motivo pra jogar esse game …

3 pensamentos sobre “INDIANA JONES AND THE LAST CRUSADE (Master System, 1990)

  1. Dê uma olhada na versão de Amiga, tem gráficos um pouco melhores, mas eu acho que muitos problemas de jogabilidade que você levantou também afetam aquela versão.

    (Eu também cheguei a jogar a versão de PC em modo CGA, era um pouco melhor que a do MSX em termos de velocidade.)

  2. Eu na epoca q comprei meu master 3 com alex kid na memo, comprei junto esse game, dava muita raiva mesmo das formas bestas como agente podia morrer… mas é um bom jogo

  3. Belo post esse Henrique sobre o jogo do Indiana Jones ainda não joguei mas está na minha lista pra ser jogado apreciei muito cada detalhe sobre as fases faladas quando for jogar ficarei bem atento.

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