SPY HUNTER (1983, Arcades e ZX Spectrum)

Já analisamos anteriormente aqui no Cemetery Games o clássico game CHASE H.Q, de 1989, que colocava o jogador em frenéticas perseguições policiais contra criminosos perigosos e implacáveis, simulando uma espécie de visão em 3D, com profundidade, no melhor estilo Out Run.

No entanto, bem antes disso – mais precisamente no ano de 1983, a Bally Midway lançou nos arcades um precursor do estilo, no velho estilo bidimensional com visão “de cima”. Tratava-se de um jogo bastante inovador, sem paralelos na sua ação frenética, que claramente homenageava os filmes de James Bond. Tratava-se de Spy Hunter, um dos jogos favoritos da minha infância e que o tempo tratou de transformar num clássico.

Em Spy Hunter, o jogador encarna um agente secreto numa perseguição a criminosos ao longo de uma estrada. Para fazer frente aos veículos inimigos, o carro do nosso herói é equipado com metralhadoras. Mas todo cuidado é pouco: a estrada está cheia de motoristas inocentes, que devem ser poupados enquanto o jogador acaba com a raça dos bandidos sem permitir que eles terminem com a viagem do protagonista.

Spy Hunter fez muito sucesso nos arcades, mas eu nunca joguei a versão original na infância ou adolescência e só vim a conhecê-la há alguns anos, em plena era da emulação. Ora, mas alguém então poderia se perguntar por que eu disse que o jogo era um dos meus favoritos quando criança. A resposta é simples: por causa da versão do game para o microcomputador ZX Spectrum.

O Spy Hunter do Spectrum foi o único que eu conheci por muito tempo e, na minha cabeça, Spy Hunter simplesmente era um game do Spectrum. Para minha sorte, tratava-se de uma bela conversão do game do arcade. As versões para Commodore 64 e NES por vezes são apontadas como as melhores, mas o fato é que o Spy Hunter do Spectrum era uma conversão extremamente competente em termos de jogabilidade e diversão, apesar de já não impressionar tanto quanto na época do lançamento nos arcades, já que a versão do Spectrum só foi lançada dois anos depois, em 1985.

O Spy Hunter do Spectrum se destaca pelo scroll fluído e de qualidade, bem como pelos bons gráficos. Claro, nem tudo são flores. Na versão que eu jogava (para o modelo do Spectrum que tinha 48k de RAM, basicamente o modelo standard do micro britânico nos anos 80), a música era completamente ausente, com os efeitos sonoros se resumindo a barulhos de tiros. Além disso, a velocidade do jogo, embora boa, era sensivelmente menos frenética do que no original do arcade.

De longe, o que eu mais gostava em Spy Hunter – e o que continua, para mim, sendo o ponto alto do jogo – era a possibilidade de sair da estrada e continuar em frente numa lancha, combatendo inimigos nas águas ao lado da rodovia. Em diversos momentos, a estrada apresentava bifurcações que levavam o automóvel do jogador até um pequeno porto, a partir da onde o veículo automaticamente se transformava numa lancha, voltando novamente a ser um automóvel quando uma saída do rio para a estrada fosse localizada.

Esse elemento dava uma dinâmica completamente inovadora para o jogo, que subitamente passava de uma corrida de automóveis com tiroteio para uma batalha aquática de lanchas. Em alguns pontos do jogo, essa transição era obrigatória – o jogador era subitamente avisado que a ponte próxima havia sido destruída e, portanto, pegar o acesso lateral e continuar pelo rio era simplesmente a única alternativa existente. Ah, e como são estreitas aquelas sinuosas vias de acesso para o rio! Incontáveis vezes, tanto lá no final dos anos 80 quanto hoje em dia, eu acabei por destruir meu carro nos canteiros laterais antes de conseguir acessar o rio.

Ainda hoje, os momentos em que o herói sai do carro para a lancha e segue rio acima representam, para mim, o ápice da diversão em Spy Hunter. Não posso imaginar uma maneira mais fidedigna de representar, num jogo da geração dos videogames de 8-bits, a ação cinematográfica típica dos filmes de 007.

Surpreendentemente, a ação aquática de Spy Hunter não era um elemento previsto quando do desenvolvimento do game, tendo sido adicionada posteriormente, quando o jogo já estava basicamente pronto. Segundo Brian Colins, uma das quatro pessoas envolvidas na equipe de desenvolvimento de Spy Hunter, “quando o jogo já estava completamente funcional, nós percebemos que seria bastante simples recriar a arte já feita e permitir que o nosso herói lutasse na água assim como em terra. O então recém-contratado animador Steve Ulstad foi responsável pelo desenvolvimento da maioria dos veículos aquáticos“.

Spy Hunter surpreende pela riqueza de elementos (lembre-se, estamos falando de um game de 1983!). Além da arma básica, caminhões aliados eventualmente equipam seu automóvel com mísseis e com óleo, que pode ser derramado na pista para ferrar com os inimigos. E não pense que você enfrentará apenas automóveis, não senhor! Caso você pegue a lancha, encontrará adiante invariavelmente um rio tomado de embarcações hostis. E, para piorar, eventualmente é preciso enfrentar um helicóptero – e haja míssil nessas horas!

Basicamente, o jogo era composto de três veículos “do herói” (o automóvel principal, a lancha e o caminhão que fornecia armas), três veículos de civis inocentes (a motocicleta, uma espécie de Fusca e um outro carro de aspecto comum) e seis veículos “do mal”: o Switch Blade (com garras laterais para furar os pneus do automóvel do herói), o Enforcer (parece uma limousine de mafiosos), o Road Lord (parece um carro-forte), o helicóptero (apelidado de Mad Bomber) e duas variedades diferentes de lanchas inimigas. Para ser sincero, não sei dizer com absoluta certeza se todos estes veículos se encontram presentes na versão do Spectrum, mas acredito que sim.

Como já vimos, além dos facínoras homicidas que querem te transformar em presunto, as estradas estão também repletas de motoristas inocentes. Não pense que você sairá impune caso sacrifique acidentalmente algum deles. O jogador não perde pontos, mas fica sem receber pontos durante um certo período de tempo.  Nas palavras de Brian, “era importante não recompensar o homicídio indiscriminado, por mais que isso pudesse ser divertido“.

Apesar de suas inevitáveis limitações técnicas na comparação com o original dos arcades, para mim não tem discussão: Spy Hunter é para ser jogado no Spectrum e fim de papo! Com nota 89% dada pela então célebre revista britânica Crash (especializada em games de Spectrum) e merecedor da distinção A Crash Smash (que era o “selo de qualidade” da revista), o Spy Hunter do micro britânico sempre foi e sempre será, para mim, a versão definitiva deste clássico oitentista de ação em alta velocidade.

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