Miami Vice foi a série de TV símbolo da cultura pop dos anos 80. Policiais bacanas com roupas descoladas, em carrões, perseguindo criminosos em belos cenários com músicas cheias de feeling como pano de fundo – tudo em Miami Vice transpirava o que era o pop oitentista e, ao mesmo tempo, definia como ele seria dali em diante. Quando, em 2002, a produtora Rockstar quis fazer um episódio da série Grand Theft Auto situada nos anos 80, não pensou duas vezes antes de copiar a estética de Miami Vice de cima a baixo, situando o jogo na fictícia cidade de Vice City, com todas as homenagens e referências possíveis e imagináveis à antiga série de TV.
No entanto, o lado triste dessa história é que a série Miami Vice nunca rendeu nenhum jogo de videogame que presta. Um jogo horroroso baseado na série foi lançado em 1986 para os microcomputadores Commodore 64, Amstrad CPC e ZX Spectrum, e muito tempo depois, em 2004, a produtora Davilex lançou outra abominação chamada Miami Vice para Playstation 2 e PCs. Foi só em 2006 que um bom jogo (muito bom, aliás!) chamado Miami Vice – The Game veio a ser lançado (somente para o PSP), mas ele já era baseado no filme de mesmo nome, e não na série de TV.
Tá, mas – afinal de contas – por que diabos nós estamos falando tanto sobre Miami Vice?!? Ocorre que, no final dos anos 80, um game lançado pela Taito se inspirou claramente na série de TV e conseguiu capturar muito bem o espírito da série, o que nenhum game antes dele havia feito. Trata-se do primeiro game de perseguição policial automobilística a fazer grande sucesso e, de certa forma, definir o gênero. O nome deste game? CHASE H.Q!
Em Chase H.Q, o jogador assume o controle dos policiais Tony Gibson e Raymond Broady (sendo um branco e um negro, é óbvio – no melhor estilo Miami Vice). Os heróis são membros da Chase Special Investigation Department, que aparentemente é um departamento da polícia especializado em correr atrás de criminosos em alta velocidade.
Tecnicamente, o jogo é um Out Run combinado com perseguição policial. Logo se vê que o clássico de corrida da Sega influenciou muito Chase H.Q, seja nos carros estilosos, seja na preocupação com a variedade dos cenários. A novidade aqui ficava por conta do elemento da perseguição policial, que não se resumia a meramente “alcançar” os bandidos dentro do tempo disponível. Nada disso: ao chegar perto do carro do criminoso, é necessário abalroar o veículo várias vezes, até que o automóvel do meliante pegue fogo e ele seja obrigado a se entregar. Um procedimento policial nada convencional, não acham?
A mecânica do jogo é a seguinte: no começo de cada fase, Nancy – a aliada dos heróis junto à sede da Chase (ou seja, a Chase Headquarters que dá nome ao jogo) – informa a dupla de policiais que há um criminoso em fuga. Os heróis perseguem o bandido até detoná-lo, prendem o sujeito e lá vem uma nova ligação de Nancy. São cinco fases dentro desse esquema, na qual os agentes da lei perseguirão Ralph (o Estripador de Idaho); Carlos (o ladrão armado de Nova York); uma gangue de bandidos de Chicago; um sequestrador de Los Angeles e, por último, nada mais nada menos do que um espião do Leste Europeu (lembre-se, o game é da época da Guerra Fria). E não pense que a missão será bolinho por causa que são apenas cinco fases. Na verdade, você vai precisar suar muito a camiseta para chegar na segunda ou terceira fase, pois o game é bastante desafiante.
Chase H.Q foi muito bem recebido por crítica e público, e deu origem a duas sequências nos arcades, que não se tornaram tão conhecidas: Special Criminal Investigation (1989) e Super Chase: Criminal Termination (1992). A primeira sequência ganhou várias conversões domésticas (Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, Commodore 64, PC-DOS, Master System, Turbografx 16, ZX Spectrum), enquanto que a segunda ficou restrita aos arcades. Curiosamente, em 1993 a Taito lançou Super Chase H.Q para o Super Nes, mas – apesar do nome – o jogo é mais baseado em Criminal Termination do que propriamente no Chase H.Q original.
No geral, as conversões de Chase H.Q para plataformas domésticas não fizeram tanto sucesso. A célebre exceção, no entanto, vai para a versão do game lançada em 1989 para o microcomputador ZX Spectrum (a versão para Amstrad CPC foi muito elogiada também). Lançada pela Ocean Software ao invés da Taito, a versão do Spectrum foi aclamada na época de seu lançamento, e até hoje aparece sistematicamente em qualquer lista decente de melhores games de Spectrum de todos os tempos.
Frequentemente considerado como o melhor jogo de corrida do microcomputador britânico, o Chase H.Q do Spectrum ficou em número 1 na lista dos 100 Melhores Games de Spectrum de Todos os Tempos feita pelos leitores da revista Your Sinclair (uma das três revistas voltadas ao Spectrum mais tradicionais da época, junto com a Crash Magazine e a Sinclair User). Falando nelas, o Chase H.Q do Spectrum tirou nota 9.5 na Crash e 9.0 na Sinclair User.
O game do Spectrum, obviamente, não tem a mesma qualidade visual do arcade. O seu maior mérito, no entanto, é de ter conseguido adaptar a atmosfera e a jogabilidade do arcade dentro das limitações do hardware do Spectrum (que já dava sinais de cansaço na época). Apesar do visual monocromático, esta versão de Chase H.Q ficou desafiante, divertida e empolgante, o que é bem mais do que se pode dizer, por exemplo, da versão do Master System.
Enfim, Chase H.Q não é Miami Vice. Mas, com certeza, foi o mais perto que a célebre série de TV chegou de ser traduzida para um bom jogo de videogame na época da terceira geração de consoles. Claro que, muito tempo mais tarde, todos nós fomos brindados com o maravilhoso GTA – Vice City, mas isso já é outra história …
Kara muito bom o post, serviu para matar a saudade desses jogos!
Mas só um detalhe, a segunda versão especial criminal investigations não ficou somente restrita aos arcades não!
Em 1994 se não me falha a memória,foi lançada uma versão para master ,na época não cheguei a jogar,mas `a alguns anos,por pura nostalgia comprei um desses master com 131 jogos na memória, bela p*** de emulação, mas esse jogo estava la entre os 131!
Feliz ou infelizmente, doei o master para meu enteado………
Oi, Jorge Luiz! Sim, você tem razão. Mas eu observei isso no review, na parte em que diz que “a primeira sequência ganhou várias conversões domésticas (Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, Commodore 64, PC-DOS, Master System, Turbografx 16, ZX Spectrum), enquanto que a segunda ficou restrita aos arcades”. Eu falava da primeira sequência de Chase H.Q (ou seja, do Special Criminal Investigation) e não do primeiro jogo, que é o próprio Chase H.Q hehehe. Abraço! 🙂
O MSX também ganhou sua versão do jogo, nada mais do que uma conversão do jogo do Spectrum:
http://www.generation-msx.nl/msxdb/softwareinfo/2827
Nunca joguei a versão do MSX! Será que é mais lenta do que a original do Spectrum, como era comum nas conversões diretas de games do micro britânico para o MSX?
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bons tempos!
Nunca joguei o jogo mas lendo aqui achei bem interessante pretendo jogar e já adicionei a lista que tenho no celular.