E cá estamos nós com mais uma seção nova no Cemetery Games: reviews de Playstation! Caramba, parece que foi ontem que o primeiro console da Sony era sinônimo de “gráficos revolucionários” e de um novo paradigma que fazia os sistemas anteriores parecerem pré-históricos. Mas o tempo passa para todas as tecnologias e hoje o “todo-poderoso” Playstation também já é uma velharia, sendo que divertir-se com a biblioteca de títulos do console já é um exercício de retrogaming. Portanto, ele já merece seu lugarzinho aqui no Cemetery Games, embora sempre com um invencível preconceito em virtude deste console safado ter sido o responsável pelo sepultamento dos games 2D e da maravilhosa quarta geração de consoles. Mas nós somos tolerantes e aceitaremos o “PsOne” na nossa mesa retrogamer – torcendo para que o Mega Drive e o Super Nes não o cubram de sopapos!
Para inaugurar a nossa seção Playstation por aqui, nada melhor do que começar por um game que, na sua época, fazia uma ponte entre o novo e o velho: Castlevania Chronicles, lançado pela Konami em 2001 (época, aliás, em que o Playstation já caminhava para os seus últimos suspiros, na medida em que o seu poderoso sucessor, o Playstation-2, já havia sido lançado no mercado no ano anterior).
Castlevania Chronicles é, basicamente, uma conversão para Playstation de um dos jogos mais obscuros da famosa série da Konami: Akumajou Dracula (o mesmo nome japonês do primeiro Castlevania do NES), lançado em 1993 apenas no Japão. O jogo, até então, nunca havia sido lançado fora do mercado nipônico e era uma exclusividade de um microcomputador que era muito popular no Japão no começo dos anos 90, o poderoso Sharp X68000, cujas capacidades gráficas estavam mais ou menos no mesmo patamar do que o Mega Drive. Isso fez o jogo ser apelidado de Akumajou Dracula X68000 (ou Castlevania X68000).
O fato de o jogo ter o mesmo nome do pioneiro Castlevania do NES não é coincidência. O game do Sharp X68000 era essencialmente um remake do clássico do NES, mas com gráficos e música muito superiores e fases diferentes (apesar de alguns níveis, como o primeiro, serem quase idênticos). Assim como ocorreu com Super Castlevania IV do Super NES, o Castlevania X68000 era uma mistura de remake com “reimaginação” do primeiro confronto de Simon Belmont com Drácula.
O jogo original do Sharp X68000 em Castlevania Chronicles (acima) e o Castlevania original do NES (abaixo). As melhorias no visual falam por si só.
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Castlevania Chronicles, portanto, representou uma boa surpresa para os fãs ocidentais da série, trazendo pela primeira vez o obscuro Castlevania X68000 para os mercados europeus e americano. Mas a Konami fez mais: além de oferecer aos jogadores um modo “original” (ou seja, o game do Sharp X68000 convertido de maneira absolutamente fidedigna), o game do Playstation inovou ao apresentar um modo “arrange“. Em resumo: pequenas mudanças visuais aqui e ali (a mais chamativa é o visual de Simon Belmont, mais colorido e completamente diferente do original) e uma trilha sonora mais modernosa e sofisticada.
No entanto, o maior mérito da versão “arrange” diz respeito à possibilidade de selecionar o nível de dificuldade do jogo. O Castlevania X68000 era infame por sua dificuldade absurdamente elevada, assustadora até para os padrões intimidantes da série. A Konami, felizmente, introduziu três níveis de dificuldade na versão “arrange” – Easy, Normal e Hard – e com isso tornou o jogo acessível para todos os perfis de jogadores, e não apenas para hardcores maníacos pela série Castlevania. Os velhos menos habilidosos, entre os quais me incluo, agradecem!
Castlevania Chronicles é ótimo e simplesmente imperdível para os fãs da série. É mais ou menos como jogar o primeiro Castlevania do NES numa versão “com esteróides”, com gráficos e trilha sonora de 16-bits e, além disso, com um monte de fases inéditas. Mas, apesar de ser uma diversão incontestável, o jogo passa longe da perfeição. O modo “arrange”, apesar das adições oportunas, pecou pela pobreza de melhorias. Os gráficos são basicamente os mesmos do antigo game do Sharp X68000, e ficam abaixo da qualidade que se vê, por exemplo, no magnífico Super Castlevania IV do Super Nes. Além disso, a nova trilha sonora da versão “arrange” peca por ser “dançante” demais, criando um clima de “remix de boate” que não contribui para o clima de horror gótico do jogo.
A “modernizada” que a Konami deu ao visual de Simon Belmont também é discutível, para dizer o mínimo. É verdade que o “sprite” do herói era excessivamente marrom no original, mas precisavam redesenhar ele com cabelos compridos e pintados de ROSA?!? Com botas altas, pernas e braços musculosos de fora, um colante de couro, chicotinho e longos cabelos pink, Simon Belmont ficou mais parecido com um dançarino de boate gay do que com um caçador de vampiros! Só faltou a Konami dar uma bolsinha Victor Hugo para o personagem. Fico imaginando a cara de perplexidade do Drácula, quando viu seu arqui-inimigo vestido com esse “visú”! É verdade que, desde Symphony of the Night (1996), a série Castlevania passou a ser povoada por personagens andróginos, mas o fato de tal estética funcionar com personagens como Alucard não significa que sirva, também, para o protagonista do pioneiro jogo da série.
Espartilho, plumas negras, correntinha, delineador, cabelão rosa … Simon Belmont tá um luuusho nessa versão, não acham?
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Castlevania Chronicles também foi criticado, na época, pela atitude “mão-de-vaca” da Konami. Caramba, por que dar esse nome de coletânea para um lançamento e incluir nele somente UM único game velho? Certamente Castlevania Chronicles teria feito bem mais barulho na época (e seria mais valorizado hoje) se a Konami tivesse sido um pouco mais generosa e incluído um pouco mais de material, como a velha trilogia Castlevania do NES, o antigo arcade Haunted Castle, o velho Vampire Killer do MSX ou até mesmo (sonhar não custa nada) o magnífico Super Castlevania IV do Super Nes (que já tinha sido lançado há dez anos quando Castlevania Chronicles saiu).
O game do Playstation, no final das contas, ficou devendo em termos de custo/benefício. Talvez a intenção da Konami com esse título tenha sido de iniciar uma coleção de “resgates históricos” da série no Playstation. Se esse era o objetivo, infelizmente a iniciativa não deu frutos e as “crônicas” de Castlevania se limitaram a este único lançamento de 2001, que – apesar de seus defeitos – é um título simplesmente indispensável para qualquer fã de Castlevania, especialmente dos games mais antigos da série.
Putz, eu tenho esse jogo ainda. É sensacional, comprei na época que eu estava maluco por jogos Castlevania. Ele não é meu favorito, mas ainda assim me diverti com ele.
Tu esqueceu de dizer que ainda existem alguns extras no CD como uma entrevista com o criador da saga e algumas artworks que vão aparecendo conforme você progride no modo Arrange.
Bem observado, cara! Castlevania Chronicles vem com uma rápida entrevista com Koji Igarashi, ou “Iga”. Muita gente acha que ele é o criador da série, mas na verdade o primeiro Castlevania no qual ele esteve envolvido foi o Rondo of Blood (“Dracula X Chi no Rondo” no Japão), lançado em 1993. Igarashi só veio a se tornar uma figura tradicionalmente associada à série após sua participação como Diretor-Assistente do aclamado Symphony of the Night, em 1996. Desde então, ele atuou como produtor de quase todos os games da série lançados posteriormente, incluindo este remake do Psone, Harmony of Dissonance e Aria of Sorrow (do Game Boy Advance), Lament of Innocence (para o Playstation-2, e que foi o primeiro game 3D da série desde os tempos dos dois jogos do N64), os três Castlevanias lançados para o DS, a magnífica coletânea The Dracula X Chronicles do PSP e por aí vai. Abraço!
Eu também tinha esse jogo no PSX, e achava bem legal. De fato as músicas ficaram meio dançantes demais, mas eu até que curtia a versão de Vampire Killer incluída.
Agora, esse visual do Simon, de fato, complica! ^_^
kra, estava com esse jogog estes dias e o visula do Simon realmente é meio gay.
eles deveriam ter se esforçado mais nos gráficos e também ter feito um remake do castlevania 3. No mais, um bom remake.
seu blog é ótimo, se estiver a afim de trocar links é só falar, passa lá no meu retroblog http://www.telejogos.blogspot.com
realmente o visula do simon é estranho, e algumas musicas ficaram devendo mesmo, mas no geral é um bom game.
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Boa matéria, mesmo que eu não concorde com tudo. Eu já havia terminado o “original mode” no emulador de X68000, me decepcionei com o sprite gay e a trilha sonora de boate gogoboy.
A parte que eu não concordo diz respeito aos gráficos: Os do Super Castlevania 4 não chegam perto dos do X68000, a começar pelo cenário todo feito de blocos pequenos do SNES. A música concordo que as do SC 4 do SNES são incríveis, assim como a jogabilidade. Mas gráfico…bom, não tem estátuas chorando sangue com o tamanho de 3 telas no SNES hehe.
Eu peço desculpas por contrariar o autor, que ao chamar de “magnífico” o do SNES mostrou que tem já uma certa predileção pelo título, mas é um caso onde o que precisa ser reavaliado é o fator nostalgia x qualidade.
E aí, Lobo Guará! Não se desculpe, o negócio aqui é discutir diferentes impressões retrogamers mesmo! E você tem razão: eu sou absolutamente suspeito para falar de Super Castlevania IV, que é o meu jogo favorito de toda a série.
Você tem razão ao destacar que o Castlevania X68000 tem mais detalhes visuais e caprichos estéticos do que o game do Super Nes, mas me parece que Super Castlevania IV tem ambientações mais interessantes e diversificadas. Mas o principal fator de superioridade está na jogabilidade, que é sensacional em SC IV. Já o Castlevania X68000 reprisa aquela jogabilidade meio “durona” dos títulos do NES.
Não me entenda mal, eu AMO os Castlevania I e III do NES. Mas sou da opinião que nenhum outro game no estilo clássico (ação/plataforma linear) da série alcançou uma jogabilidade tão refinada quanto SC IV. De qualquer forma, acho esse Castlevania do X68000 – ainda mais nessa versão do PsOne – um ótimo e imperdível capítulo da série.
Abraço!
Bem, tenho vários Castlevanias aqui comigo, inclusive esse do review… Na minha opinião, o melhor de todos é o Castlevania III: Dracula´s Curse, seguido bem de perto pelo Castlevania IV e pelo Bloodlines. O Chronicles é legal, mas só isso. E realmente, os gráficos não são tão bons assim se comparados aos do Castlevania IV do SNES, ainda mais se considerarmos que é de uma mídia com muito mais espaço, que é o CD…
É um bom jogo, mas, se comparado com os outros da série, é apenas mais um.
Eu tinha essa versão para o meu PlayStation pra época e me lembro de ter curtido bastante cheguei a zerar.