O ano era 1996 ou 1997 quando, certo dia, algum amigo me passou um joguinho despretensioso de naves. O estilo shot’em up estava longe de estar na moda naqueles dias, era um gênero associado com gráficos bidimensionais, e todo mundo só queria saber de first person shooters (Duke Nukem 3D, Quake, etc), Need for Speed, Tombraider e games repletos de vídeos que vinham em vários CDs e coisas “high tech” do tipo.
Na época, meu computador era um PC 486 DX/4 100Mhz. Era uma maquininha ainda razoável, mas que já deixava a desejar para games (o suprassumo naquela época era um Pentium 166Mhz). Lembro que Quake rodava muito mal naquela minha máquina, Diablo também, e alguns games como Duke Nukem 3D e Tombraider só rodavam bem em 320×200 (resolução na qual ficavam horríveis, pois eram feitos para serem jogados em 640×480 – os chamados gráficos “Super VGA”, que eram o máximo para a época). Mas mesmo assim eu joguei muitos games legais naquele velho computador, e um dos mais inesquecíveis foi justamente aquele despretensioso shot’em up com gráficos legais e que rodava muito bem na minha máquina: TYRIAN.
Apesar de gostar do estilo, nunca fui propriamente “fissurado” por shot’em ups, mas certamente um dos motivos do sucesso de Tyrian é que o jogo é simplesmente irresistível. Seja por causa da trilha sonora incrível, por causa dos gráficos coloridos e detalhados ou por causa da ação frenética, dificilmente alguém consegue jogar cinco minutos desse jogo sem ser conquistado por ele.
A trilha sonora de Tyrian é um espetáculo à parte, e na época fazia o jogador ter orgulho das capacidades de seu kit multimídia (se você não faz ideia do que isso seja, outra hora eu explico). As composições casam perfeitamente com a ação do jogo, e despertam no jogador aquele ânimo de passar fogo em tudo o que se mexe na tela. São várias faixas memoráveis, uma melhor do que a outra.
Outra coisa que sempre gostei em Tyrian é o fato de que o jogo é difícil, mas não em excesso. Shot’em ups, muitas vezes, são verdadeiras sessões de tortura masoquista, onde o jogador é colocado no meio de um irritante e frustrante bullet hell e precisa aceitar o fato de que irá morrer dez vezes por minuto até perder a paciência e ir jogar alguma outra coisa menos cruel. Tyrian investe numa linha “desafiante, mas possível”, com um nível de dificuldade aceitável e fases que podem ser vencidas com o empenho e a prática do jogador.
Além disso, durante as fases, o jogador coleta pedras preciosas que lhe dão créditos para fazer upgrades na sua nave, no intervalo entre uma fase e outra. Esses upgrades logo tornam a sua modesta nave numa verdadeira trombeta galáctica do apocalipse, pronta para transformar em sucata as naves inimigas.
Apesar de ter sido lançado sem maiores pretensões, marketing ou festejos por parte da mídia especializada, Tyrian ganhou o coração dos donos de PC na época. A tradicional revista PC Gamer deu um score de 87% para o jogo, e a Computer Gaming World o elegeu como “Game de Ação do Ano”. Além do grande reconhecimento inicial, com o passar dos anos Tyrian ganhou status de cult. Duas coisas contribuíram para isso: primeiro, o lançamento, em 1999, de Tyrian 2000 – uma nova versão do jogo, contendo um episódio extra. Em segundo lugar, a liberação do game, em 2004, como um freeware. Até hoje não consigo acreditar que um dos melhores shot’em ups de PC de todos os tempos (O melhor, na minha opinião) foi tornado gratuito!
Com o passar dos anos, jogar Tyrian foi se tornando algo, por vezes, complicado. No começo dos anos 2000, o emulador DosBox ainda não era popular, e Tyrian apresentava graves problemas de compatibilidade com o sistema operacional que eu usava na época (não lembro agora se era o Windows 98 ou Windows 2000). Tyrian 2000 era um pouco mais amigável nesse sentido, mas mesmo assim incomodava eventualmente. Mesmo com o DosBox, jogar Tyrian oferecia algumas complicações, pois o jogo exigia algumas mudanças nas configurações até que tudo (qualidade do som, velocidade do jogo, etc) ficasse certinho.
A ótima notícia, para os fãs de Tyrian, é que recentemente o game passou a ser dado de brinde pelo site Good Old Games. Alguém poderia pensar “ué, grande coisa, esse jogo já é freeware há seis anos”. Mas atenção para os “detalhes”: essa versão dada pelo GOG já vem perfeitamente configurada para Windows Vista e Windows 7, portanto é só baixar e curtir Tyrian em toda a sua perfeição. É o fim da dor de cabeça para emular o jogo! Como se não bastasse, o GOG ainda está dando de presente, em formato MP3, a trilha sonora completa de Tyrian! Agora você pode conferir a obra do talentoso Alexander Brandon no seu Ipod ou similar, e apreciar uma das melhores trilhas de games de PC já feitas. Não perca tempo, faça um rápido cadastro lá no site e agarre o game de “navezinhas” mais legal já feito para DOS ou Windows!
Este é realmente um dos melhores SHMUPS já feitos e para quem tem um PSP, existe um port para o pretinho básico da tia SONYa!
Eu sou um entusiasta do PSP para emulação, acho que ele é ainda melhor do que o Dingoo (sem falar nos ótimos games próprios do console). É bem mais caro, mas vale à pena. Mas depois que o GOG.com liberou o Tyrian de graça para Windows 7, perdi o interesse no port para PSP. Agora estou jogando ele no meu netbook novo, e fica uma belezinha.