Vacas magras … e um site interessante!

Caros retrogamers: o blog tem recebido poucas atualizações nas últimas semanas em virtude de uma série de compromissos meus, mas esse período de vacas magras vai acabar logo. Nos próximos dias, teremos mais uma etapa da nossa intrépida Maratona Atari, a segunda parte do Especial Adventures-Texto, análises de novos emuladores do Dingoo e por aí vai. Quem vivê, verá!


Mas, por enquanto, vamos ficar apenas com uma breve (e muito útil) novidade: o site GAME BOY ONLINE, no qual você pode jogar um monte de jogos do Game Boy clássico e do Game Boy Color diretamente no seu browser, sem a necessidade de ter qualquer emulador (ou roms) no seu computador. São mais de OITOCENTOS (!) games destes consoles portáteis, prontos para serem jogados em qualquer computador com acesso à internet. E ainda tem recursos de save state. Tá bom ou quer mais? Esse vale à pena guardar nos “favoritos” …

http://www.gameboyonline.com

Review: o DINGOO nacional da Dynacom

Com o preço a R$ 149,00 numa promoção do Ponto Frio, não deu pra resistir: comprei um Dingoo nacional, produzido pela Dynacom.

O Dingoo, para quem não sabe, é um videogame portátil chinês lançado em 2009, com algumas funções multimídia (roda vídeos e música) e voltado principalmente para a emulação de videogames antigos.

Vou fazer aqui um pequeno review do aparelho e de suas funcionalidades, mas quero deixar claro que não estou avaliando as capacidades do Dingoo como um todo, mas sim tão somente do sistema operacional padrão do aparelho, da forma como ele vem configurado de fábrica em sua versão nacional da Dynacom. Pelo menos até o momento, eu não instalei o popular sistema operacional alternativo Dingux nele, nem instalei nenhum tipo de software novo ou alternativo. Este é, portanto, um review do Dingoo da Dynacom, do jeito como ele sai da caixa.

1) HARDWARE e MANUAIS: apesar de carregar o estigma de ser um “troço barato inventado pelos chineses”, o Dingoo em nenhum momento parece um aparelho frágil ou ordinário. O design é uma imitação do Nintendo DS (sem a tela superior), mas o aparelho é sólido e bem construído. Só o botão liga/desliga parece ser meio “vagabundo”. Os demais botões funcionam bem e possuem boa sensibilidade, e o console é uma das coisas mais leves e portáteis que eu já vi na minha vida. O Nintendo DS e o primeiro modelo do PSP são quase uns tijolos na comparação com o minúsculo Dingoo.


Nem tudo são flores, no entanto. A ideia de colocar a entrada de fones de ouvido na lateral foi uma grande mancada, pois o fio dos fones acaba atrapalhando o jogador. A alternativa mais eficaz para contornar esse problema é colocar os fones na saída A/V, pois funciona da mesma forma. O único incoveniente é que, fazendo isso, o som continua saindo também pelos speakers do aparelho. Portanto, se você estiver usando os fones para não incomodar outras pessoas por perto, a saída A/V não é uma alternativa.

Os botões superiores, no topo do console, poderiam ser maiores ou mais espaçados. Usá-los não é tão confortável quanto no GBA, no PSP ou no Nintendo DS, mas não chega a ser uma coisa que compromete a jogabilidade.

Os fones de ouvido que acompanham o aparelho são surpreendentemente bons, ouvi dizer que são melhores do que os fones do Dingoo original importado. O aparelho vem acompanhado por um manual impresso muito resumido, mas uma versão mais completa em PDF é disponibilizada na memória do Dingoo e pode ser lida em qualquer computador. Da minha parte, achei o material suficientemente informativo e esclarecedor.


A tela do Dingoo, é preciso dizer, não chega a ser nenhuma maravilha. Ela é bem inferior às telas do PSP ou do Nintendo-DS. Basta inclinar o console um pouquinho para o lado e você já começa a não enxergar mais o que está na tela. O nível ideal de brilho e visibilidade só é alcançado com o console numa posição específica em relação ao jogador. Li comentários de que a tela do Dingoo da Dynacom é significamente inferior ao do modelo importado, mas não tenho como garantir se essas observações procedem. De qualquer forma, a tela não é ruim. Ainda acho que ela é melhor do que a do GBA-SP, o modelo de Game boy Advance que eu tive (e ainda tenho) e que já me parecia bom na sua época.

O sistema operacional básico do Dingoo é simples e eficiente, mas não é livre de problemas. Comecei a usar meu Dingoo há apenas três dias e já houve um momento no qual o console simplesmente não ligava mais (nem ligado na tomada), me obrigando a inserir um palito de dentes no minúsculo botão “reset” na lateral. Feito isso, tudo voltou ao normal.

2) VÍDEOS: a compatibilidade do Dingoo com diferentes formatos de vídeo é simplesmente impressionante. Ele roda todo tipo de AVI, RMVB, MP4 e WMV sem maiores dificuldades. Neste quesito, o Dingoo é muito mais amigável e compatível do que o PSP, por exemplo. Mas isso não significa que o Dingoo seja uma “máquina dos sonhos” na hora de ver vídeos. Ele tem dois problemas sérios: primeiro, a tela minúscula, sensivelmente menor do que a do Nintendo DS e muito menor do que a do PSP. Segundo – e pior – é o fato do Dingoo “engasgar” com vídeos mais longos. Se você colocar para rodar um vídeo com 20 ou 30 minutos de duração, o Dingoo o exibirá sem “soluços”. Mas se for um vídeo de uma ou duas horas, a reprodução do vídeo sofrerá constantes pulos, arruinando a experiência. De qualquer forma, para ver vídeos pequenos, o Dingoo é uma boa pedida. Sem falar que o tamanho diminuto da tela pode ser contornado ligando-se o Dingoo na televisão, através da saída A/V.

3) MÚSICA: o Dingoo é uma ótima opção de player portátil de MP3. A coisa é absolutamente sem mistérios, é só arrastar os arquivos e pastas para dentro do diretório de música do console e pronto. Na minha opinião, é ótimo poder abastecer um player com músicas diretamente pelo Windows Explorer, sem precisar de softwares proprietários para “sincronizar” o aparelho e coisas do tipo, comuns em aparelhos como o Ipod da Apple e o Zen da Creative. O player de música é bastante simples, sem maiores recursos, mas eficiente e funcional.

4) GAMES 3D: o Dingoo possui alguns “games próprios” com gráficos que lembram o PsOne. O 7 Days – Salvation, em particular, é considerado o ícone dos jogos exclusivos do Dingoo. O console da Dynacom vem com alguns destes games na memória (incluindo o 7 Days), mas eu sinceramente não tenho qualquer interesse por eles e nem cheguei a jogá-los.

5) EMULADORES: finalmente chegamos ao cartão de visitas do Dingoo. E aí, como o Dingoo da Dynacom se sai emulando videogames antigos? Vamos conferir!

O Dingoo da Dynacom se gaba, já na parte externa da caixinha, de emular 14 sistemas diferentes: Nintendo (o NES, ou Nintendo 8-bits), Super Nintendo, Game Boy, Game Boy Color, Game Boy Advance, Mega Drive, Neo Geo, Capcom (arcades com placas CPS-1 e CPS-2), PC-Engine, Atari Lynx, Atari 7800, Odyssey (conhecido lá fora como Odyssey2), Jungle Tac e Dingoo 3D. Na verdade, os jogos 3D do Dingoo são originais do console, e não “emulados”. Já “Jungle Tac” é o nome da empresa que produz alguns joguinhos simples, estilo flash, que vêm na memória do Dingoo. Nenhum deles é muito impressionante.

Já adianto: além dos games Jungle Tac e dos 3D, as únicas roms que já vêm na memória do Dingoo são de NES. E não se anime, é um punhado de games medíocres, virtualmente desconhecidos e dispensáveis. Você só começará a realmente se divertir com o seu Dingoo depois de ligá-lo no computador e abastecê-lo com suas roms favoritas. Particularmente, não tive nenhum problema ou dificuldade para que o aparelho fosse rapidamente reconhecido pelo Windows Vista (e pelo Windows 7, num outro computador).


A emulação de NES (Nintendo 8-bits) é o carro-chefe do Dingoo. O emulador é uma belezinha, com alta compatibilidade, games rodando sem redução de frame-rate, em tela cheia, com gráficos e sons fiéis ao console real. Enfim, uma maravilha. Se o seu objetivo é ter um NES de bolso, você pode comprar o Dingoo da Dynacom sem pensar duas vezes.   

A alegria continua com a emulação do GAME BOY clássico (o primeiro portátil da Nintendo) e do GAME BOY COLOR. A emulação é excelente, e a única coisa que fica devendo um pouco é o aspecto da tela em relação ao que se veria num Game Boy real. O único formato do emulador que deixa a tela nas proporções corretas faz a tela de jogo ficar muito reduzida. Os formatos que aproveitam bem a tela do Dingoo distorcem levemente o visual dos gráficos do Game Boy (o que não ocorre nos emuladores para PSP, por exemplo, que compensam esse alargamento da tela com filtros gráficos). Se você já jogou algum cartucho de Game Boy no GBA, vai lembrar que era possível aumentar a tela “esticando” a imagem, e que isso distorcia um pouco os gráficos. É mais ou menos assim que fica a emulação de Game Boy no Dingoo. Mas não é nada gritante e não chega a prejudicar a experiência. No mais, a emulação é perfeita.


Igualmente surpreendente é a emulação de GAME BOY ADVANCE. A compatibilidade é alta e o emulador é muito bom, com fidelidade nos gráficos e sons. Só não dá para dizer que o emulador é “perfeito” porque, para os games rodarem bem, é indispensável configurar o emulador para que role algum tipo de “frameskip” (automático ou pré-definido). Mas não é nada para desanimar, o frameskip é baixo e discreto, não prejudica muito nem nos games de ação. O único jogo de GBA que testei que me pareceu REALMENTE prejudicado pelo frameskip foi o Street Fighter II Turbo Revival. Mas, no geral, a emulação é muito boa, eventualmente com alguns slowdowns discretos e um pouco de frameskip em alguns jogos, mas sem maiores prejuízos práticos para a jogabilidade.


Outra boa surpresa do Dingoo é o emulador de CPS-1, uma antiga placa de arcades da Capcom, que foi utilizada em diversos games. Com esse emulador, você pode jogar as versões arcade de games como Final Fight, Cadillac and Dinossaurs, The Punisher, Knights of the Round e outros. A emulação é ótima, apresentando apenas um pouco de frameskip em alguns jogos. O único game CPS-1 que testei e que não funcionou foi o Ghouls ‘n Ghosts.


O emulador de Super Nes me surpreendeu. Eu não esperava absolutamente nada dele, pois todo mundo sempre diz que a emulação de Super Nes no Dingoo é muito ruim. Confesso que achei o emulador melhor do que eu esperava. Testei alguns games nele (Super Double Dragon, Super Castlevania IV, Turtles in Time, Final Fight 1 e 2) e todos rodaram suficientemente bem, desde que – é claro – você configure o emulador para que ele execute os games com 2 quadros de frameskip sempre. E nem tente emular games mais exigentes, como Starfox, pois certamente o resultado não será bom. Além disso, o único formato de rom de Super Nes que o Dingoo reconhece é o com extensão “.smc”. Apesar das limitações, o emulador é suficientemente bom com diversos títulos do Super Nes.

Até aqui, tudo muito bom. Agora vamos para as minhas decepções. O emulador de Mega Drive é uma vergonha obscena. Apesar de o manual dizer que ele reconhece as roms do Mega nos formatos BIN e SMD, na prática ele só reconhece os SMD. Para você ter uma ideia, TODAS as roms de Mega Drive que eu tenho estão no formato BIN. Como se não bastasse, o emulador roda os jogos com inaceitável lentidão. Para todos os efeitos práticos, considere que o Dingoo da Dynacom – em sua configuração standard – simplesmente NÃO EMULA Mega Drive. O mesmo pode ser dito do Odyssey2, cujas roms também não são reconhecidas.

Por enquanto, ainda não cheguei a testar os emuladores de CPS 2, Atari Lynx, PC Engine, Neo-Geo e Atari 7800. Vou ficar devendo as informações sobre estes sistemas.

A saída de áudio e vídeo do Dingoo funciona muito bem, e eu consegui ligar o console na minha televisão sem maiores problemas. Joguei um pouco de Nintendo 8-bits na televisão, e o visual fica muito parecido com o que se vê ao ligar um console antigo de verdade na TV. As cores ficam levemente “estouradas” e os gráficos não têm aqueles filtros especiais que suavizam a imagem. Ou seja, o resultado não fica como aqueles emuladores que rodam em PC em monitores de alta definição, mas sim como se fosse um NES antigo de verdade ligado numa TV atual. Eu achei muito bom. Pena que não é possível entrar com um segundo joystick para jogar os games no modo two players –  isso seria o máximo!

6) CONCLUSÃO: VALE À PENA?

Um Nintendo 8-bits de bolso, com saída para TV, que ainda emula satisfatoriamente todos os Game Boys da história (Classic/Color/Advance) e quebra o galho rodando alguns arcades da Capcom e alguns games do Super Nes. Tudo isso por R$ 150,00. Vale à pena? Caramba, mas é CLARO que sim! Sem falar que o Dingoo é o mais portátil de todos os portáteis, algo extremamente confortável de carregar por aí (e, por esse precinho, dá para andar com o Dingoo pelas ruas sem maiores receios). Além disso, ele ainda pode render bons momentos rodando vídeos e servindo como Mp3 player. Um belo brinquedinho!

No entanto, cabe lembrar que o preço normal do Dingoo da Dynacom não é esse que eu paguei. O Ponto Frio está anunciando o aparelho agora por R$ 259,00 (mas em promoção, em certos dias, por R$ 189,90). Eu diria que, até a faixa dos duzentos reais, o Dingoo vale a compra. Acima disso, me parece um pouco caro. Dá vontade de rir quando lembro que a Dynacom lançou o aparelho no Brasil inicialmente por mais de R$ 400,00.

Além disso, é bom lembrar que o Dingoo é o “xodó” dos retrogamers de todo o mundo, e possui uma fortíssima cena independente de desenvolvedores de software. Ninguém é obrigado a ficar limitado às configurações de fábrica do aparelho da Dynacom. A instalação do sistema operacional Dingux, por exemplo, abre para o jogador uma ampla gama de novos emuladores, inclusive de Master System e Game Gear, bem como de emuladores de Mega Drive que prestam, ao contrário do que vem com o Dingoo.

Na minha opinião, o PSP é muito melhor do que o Dingoo quando o assunto é emuladores (até porque o PSP emula com absoluta perfeição os games de PsOne, o que ainda é um sonho distante para o Dingoo, mesmo fazendo uso do Dingux). Mas se você considerar que um PSP custa em torno de R$ 700,00 enquanto que o Dingoo pode ser comprado por 1/4 desse valor, fica evidente que o custo/benefício do Dingoo é muito bom. Enfim, essa pequena bugiganga “xing-ling” é capaz de ganhar o coração de qualquer retrogamer, e – desde que seu preço seja razoável – é uma compra altamente recomendada.

MEMÓRIAS RETROGAMERS DE VERÃO: REVISTAS DE VIDEOGAME NA PRAIA – Parte Final

E já que o verão 2011 está acabando, vamos para a quarta e última parte do nosso Especial Revistas de Videogame na Praia.

Dessa vez, nós vamos voltar para o verão do ano de 1993, em algum ponto entre janeiro e fevereiro. Estou com 11 anos de idade e passando férias na casa da praia em Balneário Atlântico, próxima de Torres (RS). Provavelmente entediado até a alma pelo tédio absoluto de dias e dias sem ter nada para fazer (naquela época eu não tinha MP3 player, notebook ou console portátil para me entreter), peguei minha bicicleta e pedalei até a praia vizinha, Rondinha, onde havia uma banca de revistas (é, você entendeu direito, a minha praia era TÃO minúscula que não tinha nem uma banca).

Chegando lá, dou de cara com a última edição da revista VIDEOGAME. A irresistível capa exibia a arte de Out of This World, game que até então eu ainda não tinha jogado mas sobre o qual já havia lido (numa revista CPU que falava da versão do microcomputador Amiga). Além disso, tinha o Homem-Aranha, o Capitão América, Tom & Jerry e Street Fighter II (naquela época, o fabuloso “istríti” era o assunto dominante em todas as conversas no pátio da escola, durante os recreios). Então eu peguei os trocos que tinha no bolso (não deve ter sobrado muita coisa) e comprei a revista.


Uau, essa foi uma edição inesquecível da Videogame! De cara, a revista começava com um anúncio: “Nessas férias, viaje num Super Nintendo“. “Quem me dera!”, eu pensava.

Logo adiante, rolava uma reportagem de página inteira sobre a Menacer, a bazuca do Mega Drive, que vinha acompanhada de um cartucho com seis minigames ordinários. Mas na época eu era completamente desprovido de senso crítico e tudo soava como maravilhosas novidades, então eu lia sobre aqueles jogos de lançamento do acessório – “Space Station Defender“, “Ready, Aim Tomatoes” e coisas do tipo e ficava genuinamente impressionado.


Na sequência, uma página que jamais esqueci: a relação dos “videogames do ano  de 1992 nos EUA”, segundo a então prestigiosa revista Eletronic Gaming Monthly. Naquela época, qualquer notícia vinda dos EUA soava como uma mensagem intergaláctica vinda diretamente do Planeta da Tecnologia Avançada. Não era como hoje, em que pessoas ao redor de todo o mundo assistem previews e reviews em vídeo na internet, todos ao mesmo tempo, independentemente de estarem em Nova York ou na Ilha da Páscoa!


A matéria informava que Street Fighter II tinha sido eleito o jogo do ano entre todos os sistemas (“oh, que surpresa!”), jogo do ano do Super Nes e ainda que havia ganho na categoria “melhor final”. Sonic 2 ganhou como jogo do ano para Mega Drive, sendo que a versão Game Gear ganhou como jogo do ano para consoles portáteis. Teenage Mutant Ninja Turtles III ganhou como game do ano para NES, enquanto que Super Star Wars foi escolhido como a melhor adaptação de filme para game do ano. Em uma única página, a matéria apresentava um verdadeiro desfile de games imperdíveis!

Vamos à seção de notícias da revista: a Capcom anunciava Street Fighter II Champion Edition nos arcades (olha o “istríti fáiter” aí de novo!) e a Nintendo anunciava um novo chip que integraria alguns cartuchos de Super Nes, chamado SFX. É, meus amigos, Starfox estava quase vindo ao mundo! A parte irônica é ler que “a Nintendo japonesa adiou, mais uma vez, o lançamento de seu CD-ROM (o leitor de jogos em CD para o Super Nintendo)”. Será que a gente entra na máquina do tempo, volta para 1993 e avisa o pessoal da revista que nós estamos em 2011 e que, pelo menos até agora, o tal CD-ROM do Super Nes nunca foi lançado?


E olha a surpresa mais adiante: o tão falado Game Genie, o acessório que permitia usar cheat-codes nos jogos do NES, sendo lançado oficialmente no Brasil pela CCE! Cara, esse Game Genie deu o que falar na época. A Nintendo chegou a processar a fabricante do acessório – que nunca foi licenciado pela empresa – alegando que ele “reprogramava” indevidamente os jogos do console. Também, considerando que os jogos do NES eram infernalmente difíceis (na sua grande maioria), não me espanta que alguém tenha pensado em ganhar dinheiro tornando aqueles games sádicos um pouquinho mais acessíveis para o jogador médio.


A revista apresentava um detonado de três páginas de Captain America and the Avengers do Mega Drive. Eu lembro que olhava as fotos e achava que o jogo deveria ser MUITO legal! Tinha o Capitão América, o Homem de Ferro, o Arqueiro, o Caveira Vermelha, um robô gigante, um polvo mecânico que atacava no fundo do mar. Até cheguei a jogá-lo algum tempo depois, e na época confesso que achei o game razoável, embora hoje ele me pareça uma bela porcaria.

Jennifer Capriati Tennis no Mega Drive? Hmmmm, eu NUNCA gostei de games de esportes (salvo raríssimas exceções). Passo. O que mais temos nessa edição? Super One on One – Jordan vs Bird. Outro game de esportes? Passo também!


Uau, agora sim! Uma matéria de página única exibe as “primeiras imagens” de Young Indiana Jones do Mega Drive. Os gráficos eram lindos e o jogo prometia mesmo. Chego a ter vergonha de admitir que, até hoje, não tirei um tempinho para conhecer esse game cujas fotos me impressionaram tanto na época …


Na sequência, vinha um detonado de quatro páginas do Out of This World do Super Nes, mostrando cenas de todo o jogo, com seus gráficos então revolucionários. Era de babar, não tem outra coisa que eu possa dizer além disso. Era ler os textos, ver as fotos e ficar sonhando acordado para que Deus fizesse um Super Nes se materializar ali na minha frente!


Uma matéria de duas páginas ensinava uma série de “apelações” (não se usava por aqui a palavra “combo” ainda) com o Ryu em Street Fighter II (sim, ele DE NOVO). Logo em seguida, duas páginas mostrando o excelente Super Double Dragon do Super Nes (adoro esse jogo!). Após, um detonado de Spider-Man – Return of the Sinister Six do NES. Eu adorava o Homem-Aranha naquela época, e babei muito em cima de cada foto desse game, imaginando que deveria ser maravilhoso e divertidíssimo. Muitos anos depois, eu finalmente fui jogar esse game e … bem, digamos que ele não é tãão bom assim. Tá, eu admito, a jogabilidade é péssima e o jogo é fraquinho. Tá, tá, é ruim PRA CARAMBA! Também, até a Videogame (que era uma mãezona na hora de avaliar os jogos) deu, naquela época, nota 6 para o jogo (e nota 5 para os gráficos) …


Para meu espanto completo – e reformulando tudo o que sabíamos sobre videogame até então – a revista apresentava uma matéria sobre o game Metal Slader Glory do NES, o primeiro jogo do console a contar com OITO megabits de memória! “Uau, mas como é possível???? Todo mundo sabe que o NES só tem jogos de até quatro megas!“. Pra mim, foi um choque. E mais chocante ainda é constatar, quase vinte anos depois, que esse revolucionário game jamais foi lançado fora do Japão. Dá pra acreditar?


A seção da revista dedicada ao Master System trazia detonados de Tom & Jerry – The Movie e da versão para o Master de The Simpsons – Bart vs the Space Mutants, game que havia sido uma febre um ano e meio antes, quando foi originalmente lançado para o NES. Já a seção Game Boy exibia Super Mario Land 2 e Mega Man 3, e vocês não fazem ideia do quanto aquilo me fazia tremer de vontade de ter um Game Boy. Mega Man e Super Mario, num videogame portátil? Fala sério, eu provavelmente teria dado a minha alma por um Game Boy com esses cartuchos …

Num lance sobrenatural de premonição, a matéria seguinte era sobre Batman Returns do Game Gear, e aqui pelo jeito as minhas preces renderam, pois cerca de seis meses depois eu ganharia meu Game Gear e um dos três games que o acompanhavam era precisamente … Batman Returns! Êita nóis!


Por fim, me lembro de ter ficado absolutamente perplexo e embasbacado com o fotorealismo das imagens do game Heart of China do PC. E não estou exagerando ao falar em “fotorealismo”, pois o jogo era um adventure basicamente constituído de fotografias exibidas em gráficos VGA, que tinham uma qualidade suprema para a época. Falar de PC, naqueles tempos, era algo como falar de bruxaria, de alquimia, de entidades superpoderosas que estavam restritas ao alcance de uns poucos miliardários. Vocês podem achar que estou exagerando (e talvez eu esteja), mas é mais ou menos assim que uma criança de 11 anos enxergava um PC 286 ou 386 com monitor VGA naquela época.

Lá no final da revista, aparecia um anúncio dos joysticks da série Pro da Chips do Brasil. Poucos meses antes, eu havia ganho meu microcomputador MSX Expert, da Gradiente, e o joytick que eu usava nele era um Pro-1 dessa linha, que imitava o design do joystick original do Mega Drive.


Bem, caros amigos retrogamers. Acabou o verão 2011 e, com ele, chega ao fim a nossa retrospectiva em quatro partes sobre as minhas memórias das velhas revistas que alegraram meus verões passados. Relembramos revistas de 1993, 1992 e 1991, ou seja, coisas de quase vinte anos atrás. Bons tempos, em que Mega Drive e Super Nes eram o suprassumo da tecnologia e em que o Nintendo 8-bits e o Master System ainda eram consoles empolgantes e cheios de vida. Espero que vocês tenham apreciado essas breves memórias compartilhadas tanto quanto eu gostei de dividí-las com vocês. A história dos videogames continua em permanente evolução e, no que depender dos retrogamers de plantão, o passado glorioso dos games jamais será esquecido. Até a próxima!

MEMÓRIAS RETROGAMERS DE VERÃO: REVISTAS DE VIDEOGAME NA PRAIA – Parte III

Verão de 1992. Janeiro ou fevereiro daquele ano, não lembro com certeza. Um vizinho/amigo de praia aparece com uma revista cuja matéria de capa era “O MUNDO MÁGICO DOS GAMES, mostrando o Super Mario, Bart Simpson e uma assustadora serpente gigante. Mas não se tratava de uma revista de videogames, e sim do finado periódico Globo Ciência, mais precisamente da edição nº 5, lançada em dezembro de 1991.


Encantado pela reportagem de capa (e aproveitando o fato de que meu amigo já tinha enchido o saco da revista), acabei comprando-a dele – ou trocando por alguma outra coisa que eu tinha (o que parece mais provável, pensando bem, considerando o fato de que eu tinha dez anos de idade na época). Li e reli a matéria de capa inúmeras vezes, BABANDO nas informações e imagens ali contidas!

Até onde lembro, foi lendo essa revista que eu ouvi falar, pela primeira vez na minha vida, de EPROM (o que nós hoje chamamos de ROM, ou seja, a memória do cartucho onde os games eram gravados). A matéria se estendia por respeitáveis oito páginas, e era extremamente rica em informações na comparação com a pobreza ignóbil que reinava na incipiente “imprensa especializada” nacional daqueles tempos. Ainda assim, a matéria escorregava em algumas inevitáveis pérolas, como quando chamava o Super Mario (o personagem, não o jogo) de “Mario Bros”, como se este fosse o nome do bigodudo da Nintendo!


A reportagem também viajava na maionese quando situava o pioneiro game Pong no “final dos anos 60” (o jogo foi lançado em 1972) e dizia que o Neo Geo era um console de 32 bits (!!!). Nem a própria SNK exagerava tanto: apesar do console ser, tecnicamente, de 16 bits, a empresa alardeava que ele era um videogame de “24 bits”. Ainda assim, a Globo Ciência pisou fundo no acelerador do exagero, fazendo seus leitores acreditarem que já existia um console de “32 bits” em dezembro de 1991, época em que até o Super Nes ainda era uma chocante novidade. O exagero também comia solto na descrição dos arcades, que segundo a revista eram “jogos de lazer (?) que chegam bem perto de produzir a realidade virtual“. Tá, pode parar de rir agora.


Para aqueles que acham que o NES repetiu por aqui a sua hegemonia verificada no resto do mundo, a reportagem nos ajuda a lembrar que “o Master System (…) permanece com a liderança das vendas entre os consoles de terceira geração“, e que “a dobradinha Sega-Tec Toy” detinha na época “70% do mercado nacional“. Eram os anos de ouro da boa e velha Tec Toy. Segundo a matéria, “com apenas três anos de vida, a Tec Toy firmou-se como a maior fabricante de games e jogos eletrônicos do país e hoje já é a segunda maior fabricante de brinquedos do Brasil, suplantada apenas pela tradicional Estrela“. Hoje, 19 anos depois, a Tec Toy encontra-se no lamentável estado que todos nós conhecemos, reduzida a uma marca sem qualquer importância e vivendo do passado, insistindo na constrangedora comercialização de réplicas vagabundas e simplificadas do Master System e do Mega Drive. Para quem viveu naquela época, é triste de ver …


Copiando o marketing da Tec Toy sobre a então recém-lançada versão em português do Phantasy Star do Master System, a matéria “informava” que “estima-se que um RPG, nas mãos de um bom jogador, garanta pelo menos três meses de desafios, mistérios e intrigas, antes de se conseguir chegar ao final do cartucho“. Segundo a revista, nos RPGs “o jogador mete-se em situações imprevisíveis, vagando por estranhos mundos e ambientes concebidos pela informática“. Você pode achar engraçado, mas era assim mesmo: na época, existia um pouco dessa perplexidade generalizada diante do gênero RPG. Ninguém parecia saber explicar direito como é que funcionava aquele tipo inovador de jogo, e quais características – no limite – distinguiam um RPG de um game de aventura ou estratégia. No começo dos anos 90, o RPG ainda era visto com perplexidade e mistificação aqui no Brasil, apesar do fato de que os americanos (e principalmente os japoneses) já estavam vidrados nesse gênero há anos.


Para matar todos os fedelhos de inveja, a matéria terminava com uma entrevista com os rapazes da Hot Line da Tec Toy. O emprego dos caras era, basicamente, passar o dia jogando videogame – e sendo pago para isso! Por onde será que andam esses caras (que já devem ser quarentões) hoje em dia?


Ficou interessado neste pequeno pedaço da história da mídia gamer do Brasil? Então clique no link abaixo para fazer o download de um PDF com a capa da revista e com a íntegra da matéria, um pequeno brinde exclusivo do Cemetery Games para vocês, escaneado diretamente do meu jurássico exemplar original da revista. Até a próxima, caros retrogamers!

http://sharex.xpg.com.br/files/7947317731/Globo_ciencia_dez_1991.pdf.html