
Com o preço a R$ 149,00 numa promoção do Ponto Frio, não deu pra resistir: comprei um Dingoo nacional, produzido pela Dynacom.
O Dingoo, para quem não sabe, é um videogame portátil chinês lançado em 2009, com algumas funções multimídia (roda vídeos e música) e voltado principalmente para a emulação de videogames antigos.
Vou fazer aqui um pequeno review do aparelho e de suas funcionalidades, mas quero deixar claro que não estou avaliando as capacidades do Dingoo como um todo, mas sim tão somente do sistema operacional padrão do aparelho, da forma como ele vem configurado de fábrica em sua versão nacional da Dynacom. Pelo menos até o momento, eu não instalei o popular sistema operacional alternativo Dingux nele, nem instalei nenhum tipo de software novo ou alternativo. Este é, portanto, um review do Dingoo da Dynacom, do jeito como ele sai da caixa.
1) HARDWARE e MANUAIS: apesar de carregar o estigma de ser um “troço barato inventado pelos chineses”, o Dingoo em nenhum momento parece um aparelho frágil ou ordinário. O design é uma imitação do Nintendo DS (sem a tela superior), mas o aparelho é sólido e bem construído. Só o botão liga/desliga parece ser meio “vagabundo”. Os demais botões funcionam bem e possuem boa sensibilidade, e o console é uma das coisas mais leves e portáteis que eu já vi na minha vida. O Nintendo DS e o primeiro modelo do PSP são quase uns tijolos na comparação com o minúsculo Dingoo.

Nem tudo são flores, no entanto. A ideia de colocar a entrada de fones de ouvido na lateral foi uma grande mancada, pois o fio dos fones acaba atrapalhando o jogador. A alternativa mais eficaz para contornar esse problema é colocar os fones na saída A/V, pois funciona da mesma forma. O único incoveniente é que, fazendo isso, o som continua saindo também pelos speakers do aparelho. Portanto, se você estiver usando os fones para não incomodar outras pessoas por perto, a saída A/V não é uma alternativa.
Os botões superiores, no topo do console, poderiam ser maiores ou mais espaçados. Usá-los não é tão confortável quanto no GBA, no PSP ou no Nintendo DS, mas não chega a ser uma coisa que compromete a jogabilidade.
Os fones de ouvido que acompanham o aparelho são surpreendentemente bons, ouvi dizer que são melhores do que os fones do Dingoo original importado. O aparelho vem acompanhado por um manual impresso muito resumido, mas uma versão mais completa em PDF é disponibilizada na memória do Dingoo e pode ser lida em qualquer computador. Da minha parte, achei o material suficientemente informativo e esclarecedor.

A tela do Dingoo, é preciso dizer, não chega a ser nenhuma maravilha. Ela é bem inferior às telas do PSP ou do Nintendo-DS. Basta inclinar o console um pouquinho para o lado e você já começa a não enxergar mais o que está na tela. O nível ideal de brilho e visibilidade só é alcançado com o console numa posição específica em relação ao jogador. Li comentários de que a tela do Dingoo da Dynacom é significamente inferior ao do modelo importado, mas não tenho como garantir se essas observações procedem. De qualquer forma, a tela não é ruim. Ainda acho que ela é melhor do que a do GBA-SP, o modelo de Game boy Advance que eu tive (e ainda tenho) e que já me parecia bom na sua época.
O sistema operacional básico do Dingoo é simples e eficiente, mas não é livre de problemas. Comecei a usar meu Dingoo há apenas três dias e já houve um momento no qual o console simplesmente não ligava mais (nem ligado na tomada), me obrigando a inserir um palito de dentes no minúsculo botão “reset” na lateral. Feito isso, tudo voltou ao normal.
2) VÍDEOS: a compatibilidade do Dingoo com diferentes formatos de vídeo é simplesmente impressionante. Ele roda todo tipo de AVI, RMVB, MP4 e WMV sem maiores dificuldades. Neste quesito, o Dingoo é muito mais amigável e compatível do que o PSP, por exemplo. Mas isso não significa que o Dingoo seja uma “máquina dos sonhos” na hora de ver vídeos. Ele tem dois problemas sérios: primeiro, a tela minúscula, sensivelmente menor do que a do Nintendo DS e muito menor do que a do PSP. Segundo – e pior – é o fato do Dingoo “engasgar” com vídeos mais longos. Se você colocar para rodar um vídeo com 20 ou 30 minutos de duração, o Dingoo o exibirá sem “soluços”. Mas se for um vídeo de uma ou duas horas, a reprodução do vídeo sofrerá constantes pulos, arruinando a experiência. De qualquer forma, para ver vídeos pequenos, o Dingoo é uma boa pedida. Sem falar que o tamanho diminuto da tela pode ser contornado ligando-se o Dingoo na televisão, através da saída A/V.
3) MÚSICA: o Dingoo é uma ótima opção de player portátil de MP3. A coisa é absolutamente sem mistérios, é só arrastar os arquivos e pastas para dentro do diretório de música do console e pronto. Na minha opinião, é ótimo poder abastecer um player com músicas diretamente pelo Windows Explorer, sem precisar de softwares proprietários para “sincronizar” o aparelho e coisas do tipo, comuns em aparelhos como o Ipod da Apple e o Zen da Creative. O player de música é bastante simples, sem maiores recursos, mas eficiente e funcional.

4) GAMES 3D: o Dingoo possui alguns “games próprios” com gráficos que lembram o PsOne. O 7 Days – Salvation, em particular, é considerado o ícone dos jogos exclusivos do Dingoo. O console da Dynacom vem com alguns destes games na memória (incluindo o 7 Days), mas eu sinceramente não tenho qualquer interesse por eles e nem cheguei a jogá-los.
5) EMULADORES: finalmente chegamos ao cartão de visitas do Dingoo. E aí, como o Dingoo da Dynacom se sai emulando videogames antigos? Vamos conferir!
O Dingoo da Dynacom se gaba, já na parte externa da caixinha, de emular 14 sistemas diferentes: Nintendo (o NES, ou Nintendo 8-bits), Super Nintendo, Game Boy, Game Boy Color, Game Boy Advance, Mega Drive, Neo Geo, Capcom (arcades com placas CPS-1 e CPS-2), PC-Engine, Atari Lynx, Atari 7800, Odyssey (conhecido lá fora como Odyssey2), Jungle Tac e Dingoo 3D. Na verdade, os jogos 3D do Dingoo são originais do console, e não “emulados”. Já “Jungle Tac” é o nome da empresa que produz alguns joguinhos simples, estilo flash, que vêm na memória do Dingoo. Nenhum deles é muito impressionante.
Já adianto: além dos games Jungle Tac e dos 3D, as únicas roms que já vêm na memória do Dingoo são de NES. E não se anime, é um punhado de games medíocres, virtualmente desconhecidos e dispensáveis. Você só começará a realmente se divertir com o seu Dingoo depois de ligá-lo no computador e abastecê-lo com suas roms favoritas. Particularmente, não tive nenhum problema ou dificuldade para que o aparelho fosse rapidamente reconhecido pelo Windows Vista (e pelo Windows 7, num outro computador).

A emulação de NES (Nintendo 8-bits) é o carro-chefe do Dingoo. O emulador é uma belezinha, com alta compatibilidade, games rodando sem redução de frame-rate, em tela cheia, com gráficos e sons fiéis ao console real. Enfim, uma maravilha. Se o seu objetivo é ter um NES de bolso, você pode comprar o Dingoo da Dynacom sem pensar duas vezes.
A alegria continua com a emulação do GAME BOY clássico (o primeiro portátil da Nintendo) e do GAME BOY COLOR. A emulação é excelente, e a única coisa que fica devendo um pouco é o aspecto da tela em relação ao que se veria num Game Boy real. O único formato do emulador que deixa a tela nas proporções corretas faz a tela de jogo ficar muito reduzida. Os formatos que aproveitam bem a tela do Dingoo distorcem levemente o visual dos gráficos do Game Boy (o que não ocorre nos emuladores para PSP, por exemplo, que compensam esse alargamento da tela com filtros gráficos). Se você já jogou algum cartucho de Game Boy no GBA, vai lembrar que era possível aumentar a tela “esticando” a imagem, e que isso distorcia um pouco os gráficos. É mais ou menos assim que fica a emulação de Game Boy no Dingoo. Mas não é nada gritante e não chega a prejudicar a experiência. No mais, a emulação é perfeita.

Igualmente surpreendente é a emulação de GAME BOY ADVANCE. A compatibilidade é alta e o emulador é muito bom, com fidelidade nos gráficos e sons. Só não dá para dizer que o emulador é “perfeito” porque, para os games rodarem bem, é indispensável configurar o emulador para que role algum tipo de “frameskip” (automático ou pré-definido). Mas não é nada para desanimar, o frameskip é baixo e discreto, não prejudica muito nem nos games de ação. O único jogo de GBA que testei que me pareceu REALMENTE prejudicado pelo frameskip foi o Street Fighter II Turbo Revival. Mas, no geral, a emulação é muito boa, eventualmente com alguns slowdowns discretos e um pouco de frameskip em alguns jogos, mas sem maiores prejuízos práticos para a jogabilidade.

Outra boa surpresa do Dingoo é o emulador de CPS-1, uma antiga placa de arcades da Capcom, que foi utilizada em diversos games. Com esse emulador, você pode jogar as versões arcade de games como Final Fight, Cadillac and Dinossaurs, The Punisher, Knights of the Round e outros. A emulação é ótima, apresentando apenas um pouco de frameskip em alguns jogos. O único game CPS-1 que testei e que não funcionou foi o Ghouls ‘n Ghosts.
![Super+Castlevania+IV+(U)+[!]_00001](https://cemeterygames.com/wp-content/uploads/2011/04/supercastlevaniaivu_00001.png?w=660)
O emulador de Super Nes me surpreendeu. Eu não esperava absolutamente nada dele, pois todo mundo sempre diz que a emulação de Super Nes no Dingoo é muito ruim. Confesso que achei o emulador melhor do que eu esperava. Testei alguns games nele (Super Double Dragon, Super Castlevania IV, Turtles in Time, Final Fight 1 e 2) e todos rodaram suficientemente bem, desde que – é claro – você configure o emulador para que ele execute os games com 2 quadros de frameskip sempre. E nem tente emular games mais exigentes, como Starfox, pois certamente o resultado não será bom. Além disso, o único formato de rom de Super Nes que o Dingoo reconhece é o com extensão “.smc”. Apesar das limitações, o emulador é suficientemente bom com diversos títulos do Super Nes.
Até aqui, tudo muito bom. Agora vamos para as minhas decepções. O emulador de Mega Drive é uma vergonha obscena. Apesar de o manual dizer que ele reconhece as roms do Mega nos formatos BIN e SMD, na prática ele só reconhece os SMD. Para você ter uma ideia, TODAS as roms de Mega Drive que eu tenho estão no formato BIN. Como se não bastasse, o emulador roda os jogos com inaceitável lentidão. Para todos os efeitos práticos, considere que o Dingoo da Dynacom – em sua configuração standard – simplesmente NÃO EMULA Mega Drive. O mesmo pode ser dito do Odyssey2, cujas roms também não são reconhecidas.
Por enquanto, ainda não cheguei a testar os emuladores de CPS 2, Atari Lynx, PC Engine, Neo-Geo e Atari 7800. Vou ficar devendo as informações sobre estes sistemas.
A saída de áudio e vídeo do Dingoo funciona muito bem, e eu consegui ligar o console na minha televisão sem maiores problemas. Joguei um pouco de Nintendo 8-bits na televisão, e o visual fica muito parecido com o que se vê ao ligar um console antigo de verdade na TV. As cores ficam levemente “estouradas” e os gráficos não têm aqueles filtros especiais que suavizam a imagem. Ou seja, o resultado não fica como aqueles emuladores que rodam em PC em monitores de alta definição, mas sim como se fosse um NES antigo de verdade ligado numa TV atual. Eu achei muito bom. Pena que não é possível entrar com um segundo joystick para jogar os games no modo two players – isso seria o máximo!

6) CONCLUSÃO: VALE À PENA?
Um Nintendo 8-bits de bolso, com saída para TV, que ainda emula satisfatoriamente todos os Game Boys da história (Classic/Color/Advance) e quebra o galho rodando alguns arcades da Capcom e alguns games do Super Nes. Tudo isso por R$ 150,00. Vale à pena? Caramba, mas é CLARO que sim! Sem falar que o Dingoo é o mais portátil de todos os portáteis, algo extremamente confortável de carregar por aí (e, por esse precinho, dá para andar com o Dingoo pelas ruas sem maiores receios). Além disso, ele ainda pode render bons momentos rodando vídeos e servindo como Mp3 player. Um belo brinquedinho!
No entanto, cabe lembrar que o preço normal do Dingoo da Dynacom não é esse que eu paguei. O Ponto Frio está anunciando o aparelho agora por R$ 259,00 (mas em promoção, em certos dias, por R$ 189,90). Eu diria que, até a faixa dos duzentos reais, o Dingoo vale a compra. Acima disso, me parece um pouco caro. Dá vontade de rir quando lembro que a Dynacom lançou o aparelho no Brasil inicialmente por mais de R$ 400,00.
Além disso, é bom lembrar que o Dingoo é o “xodó” dos retrogamers de todo o mundo, e possui uma fortíssima cena independente de desenvolvedores de software. Ninguém é obrigado a ficar limitado às configurações de fábrica do aparelho da Dynacom. A instalação do sistema operacional Dingux, por exemplo, abre para o jogador uma ampla gama de novos emuladores, inclusive de Master System e Game Gear, bem como de emuladores de Mega Drive que prestam, ao contrário do que vem com o Dingoo.
Na minha opinião, o PSP é muito melhor do que o Dingoo quando o assunto é emuladores (até porque o PSP emula com absoluta perfeição os games de PsOne, o que ainda é um sonho distante para o Dingoo, mesmo fazendo uso do Dingux). Mas se você considerar que um PSP custa em torno de R$ 700,00 enquanto que o Dingoo pode ser comprado por 1/4 desse valor, fica evidente que o custo/benefício do Dingoo é muito bom. Enfim, essa pequena bugiganga “xing-ling” é capaz de ganhar o coração de qualquer retrogamer, e – desde que seu preço seja razoável – é uma compra altamente recomendada.
