Estimulado pelo hype do novo (retro)game “Terminator 2D: No Fate“, lançado há menos de duas semanas, fiquei com vontade de rever, pela milésima vez, um dos meus filmes favoritos de toda a vida: o clássico Terminator 2 (“O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final“), de 1991.
Na sequência, movido pelos meus instintos de retrogamer e aproveitando o ritmo mais calmo do período de final de ano, resolvi “dar uma chance” para um game antigo para o qual sempre torci o nariz: o Terminator 2 do Nintendo 8-bits (NES).

Na época em que este game foi lançado, lá no começo dos anos 90, nunca cheguei a jogá-lo. Conheci o jogo por meio da edição nº 14 (maio/1992) da lendária revista VideoGame. Pelas fotos que ilustravam o “detonado” de 4 páginas que a publicação trazia, achei o jogo interessante, mas não fiquei particularmente impressionado. Acho que ninguém ficou, na verdade. Mesmo para os padrões tecnicamente limitados do NES, Terminator 2 era um game com sprites pequenos e gráficos bem básicos (exceto pelas imagens das cut scenes entre uma fase e outra, que eram bem legais).
No entanto, apesar de não ser nenhum arrasa quarteirão, o walktrough da VideoGame foi o suficiente para despertar minha curiosidade sobre esse game. Quando finalmente fui jogá-lo, já por meio de emuladores, lá pela virada do milênio, fiquei muito decepcionado. De cara, o jogador tinha que enfrentar uma infinidade de membros de uma gangue de motoqueiros – e, pior ainda, tudo na base dos socos. Achei a primeira fase muito aborrecida, desnecessariamente difícil e larguei o jogo de mão.
Agora, revisitando o Terminator 2 do NES depois de tantos anos, tive uma impressão bem diferente. De fato, não é um jogo ótimo nem memorável, mas é bem mais legal do que eu lembrava. O principal mérito do game é sua fidelidade ao filme. Além de as cinco fases representarem bem as sequências mais importantes da película, o jogo ainda tem o mérito de ser fiel à mensagem do filme. Assim como o personagem de Schwarzennegger no filme é instruído a “deixar de ser um exterminador” e proibido (pelo jovem John Connor) de matar pessoas, o jogador também precisará atravessar o jogo inteiro sem dar tiros fatais em ninguém.
Na primeira fase, o protagonista conta apenas com seus punhos. A partir da terceira fase, quando passa a contar com armas de fogo, é impedido de usá-las para matar (é preciso atirar apenas nas pernas dos inimigos). Tudo isso certamente gera perplexidade e estranheza para qualquer jogador que não lembre bem das nuances do filme, mas faz todo o sentido para um game cuja proposta seja reproduzir não só a trama, mas também a “moral” da obra original.
A dificuldade do jogo também está muito longe de ser tudo aquilo que aparenta num primeiro momento. Nas primeiras partidas, o fato de que qualquer motoqueiro valentão da primeira fase seja capaz de DESTRUIR UM TERMINATOR A SOCOS evidentemente parece bizarra (e, sob uma perspectiva lógica, certamente é mesmo). Mas logo que o jogador domina bem o “timing” dos golpes, fica evidente que a fase inicial é muito mais fácil do que parece numa primeira incursão. É apenas uma questão de derrotar a socos a quantidade necessária de inimigos para que o jogo autorize o prosseguimento pelo percurso. Essa mecânica do tipo “você está preso nesta parte da fase enquanto não liquidar mais inimigos” parece arbitrária e frustrante no começo, mas realmente não é nada de mais. Até o intimidador chefe de fase, um grandalhão perto da saída do bar, não requer nada além de um pouco de domínio na arte de bater e recuar, repetidamente.
Ao fim e ao cabo, das 5 fases, apenas a segunda (moto) e a última (indústria) são REALMENTE difíceis. A fase inicial (estacionamento e bar), a terceira (hospital psiquiátrico) e quarta (sede da Cyberdine Systems) são mais trabalhosas do que propriamente difíceis.
Não me entenda mal: não estou sugerindo que o jogo seja um passeio no parque. Não é. Para chegar até o final, você contará com apenas 4 vidas e nenhum continue. Acredite: é MUITO pouco. Cheguei ao final do game no mesmo dia em que comecei a jogá-lo, mas usei alguns save-states ocasionais no emulador e, mais importante do que isso, o código do Game Genie para vidas infinitas (que é SXOATOVK, caso seja do seu interesse). Não senti maiores necessidades de uso destes cheats nas fases 1, 3 e 4. Mas, nas fases 2 e 5, se eu dependesse apenas da quantidade normal de vidas, estaria ferrado. Você precisará de muitas horas de prática se quiser chegar ao final do jogo com apenas 4 vidas (mas não há razão para desespero: como veremos em seguida, há um continue secreto e uma vida extra esperando para serem coletados ao longo das fases).
Em síntese, se você é retrogamer e fã do lendário filme de 1991, é quase indispensável dedicar alguma atenção a este Terminator 2 do NES. Ele representa o encontro do maior blockbuster hollywoodiano daqueles dias com o console símbolo daquela época (“Nintendo”, no final dos anos 1980 e começo dos 1990, era praticamente sinônimo de “videogame”). Embora não seja um game espetacular, é uma adaptação surpreendentemente fidedigna de filme para jogo de NES. Além disso, é bem mais legal e divertido do que parece logo de cara, julgando pela fase inicial um pouco aborrecida e truncada.
Em tempo: este game também ganhou versões para Master System e Game Gear. Minha sugestão é manter distância de ambas. A versão para Master sofre de jogabilidade mais lenta e teve conteúdo removido (a segunda fase, da moto, simplesmente desapareceu). Mas o pior de tudo, na versão do Master, é a horrenda trilha sonora – que certamente merece figurar entre as piores de toda a biblioteca de jogos do console. No NES, as músicas não chegam a ser memoráveis, mas proporcionam uma ambientação bem adequada a cada cenário. No Master, os efeitos sonoros foram reduzidos a poucas notas desconexas. O jogo é provavelmente mais fácil no Master (já que essa versão suprime a fase da motinho, que é mais difícil de todas), mas a experiência geral não compensa. Fique com o game do NES. A versão do Game Gear também não se salva, pois é basicamente igual à versão do Master, mas com o agravante de uma área de visualização menor em razão da tela reduzida do portátil, comprometendo a ambientação e os cenários.
Ok, vamos agora acompanhar a aventura do começo ao fim!
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Fase 1: o exterminador chega ao ano de 1995 num estacionamento de caminhões, e de cara já precisa sair na porrada com uma gangue de motoqueiros. Nem tente se livrar das lutas correndo para a direita: o jogo condiciona seu avanço progressivo na fase à eliminação dos líderes de cada grupo de meliantes. Aproveite para dominar bem o timing dos golpes e sente o dedo com firmeza no botão de soco.

Lembra daquela hora, no filme, em que Schwarzenegger entra no bar e dá de cara com um grandalhão cabeludo MAIOR DO QUE O PRÓPRIO TERMINATOR?!? Pois é, eu também não lembro. Tenha paciência com esse gigantão aí. Se tentar socar ele sem parar, ele te arrebenta. A manha é acertar rapidamente um golpe nele e então sair de perto, repetindo o procedimento até o sujeito ir a nocaute.
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Fase 2: prepare-se para muitas frustrações nesta que é a fase mais difícil do game inteiro. O negócio aqui é manter o T-1000 (que está dirigindo o caminhão) afastado. Para fazer isso, é necessário atirar sem parar na direção dele toda vez que o vilão se aproximar. É bem mais complicado do que parece, porque você estará guiando sua moto em alta velocidade e o canal no qual você está pilotando é cheio de obstáculos (como restos de veículos destroçados, caixas e poças de óleo). Também é importante lembrar que, na hora de cruzar por baixo dos viadutos, é necessário atirar antes para abrir a passagem. Além disso, é preciso passar pelo espaço aberto com bastante precisão. Qualquer colisão de um centímetro para um lado ou outro significará perda instantânea de uma vida. Prepare sua paciência: você irá morrer MUITAS E MUITAS VEZES nessa fase frustrante até dominá-la. Mas calma aí que nem tudo são más notícias. Em primeiro lugar, vale observar que a fase não é muito longa. Em segundo lugar, fique atento para o fato de que o único continue do jogo aparece rapidamente nesta fase. Botar as mãos nesse continue basicamente duplica suas chances de conseguir chegar ao final desse game sem recorrer a cheats (eu usei Game Genie e não estou nem aí hehehe).
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Fase 3: se você milagrosamente conseguiu passar daquele inferno da fase da “motinho”, agora é hora de relaxar e curtir. Na comparação com a fase anterior, este terceiro nível é barbada. O negócio é o seguinte: você está agora no hospital psiquiátrico Pescadero e precisa localizar Sarah Connor. O lugar tem cinco andares. Em cada andar, você terá que localizar um card para ter acesso ao elevador, para poder acessar o andar seguinte. Além de hordas aparentemente intermináveis de médicos, enfermeiros e seguranças, ocasionalmente o T-1000 aparece para encher o saco também. Não se preocupe, não é difícil neutralizá-lo em cada encontro. O crucial aqui é obedecer o parâmetro estabelecido a partir do início desta missão: você não deve matar ninguém. Se for atirar em alguém, lembre-se de sempre fazer isso abaixado, para acertar apenas nas pernas dos inimigos (o T-1000, por óbvio, não conta). À primeira vista, o Pescadero parece um labirinto confuso e interminável de vários andares e muitas portas, mas não se deixe enganar pelas aparências: corra rapidamente para entrar em cada porta no andar em que estiver, localize o cartão do elevador o mais rápido possível e então corra para o elevador para subir e iniciar o mesmo procedimento no andar superior. O resto é perda de tempo. Ah, e a Sarah Connor está no fundo do corredor, à direita, no quinto e último andar.
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Fase 4: agora é hora de invadir a sede da empresa Cyberdine (criadora do Skynet) e explodir o lugar. A mecânica do jogo nesta fase lembra um pouco a lógica do nível anterior. Aqui, sua missão será coletar dez barris de explosivos (você só pode carregar três de cada vez) e armazená-los num depósito que fica no último andar do prédio. Ao contrário da fase 3, aqui você não precisará de cards para usar os elevadores, mas terá que ir e voltar várias vezes até localizar os explosivos e levar todos eles para o depósito do último andar. É uma fase mais trabalhosa do que propriamente difícil. A parte mais difícil é no final da fase. Depois de armazenar todos os dez barris, você terá apenas um minuto para coletá-los do depósito, plantar os explosivos nos pontos específicos indicados (todos no último andar) e então correr para o elevador para fugir do lugar. Lembre-se: a regra de não atirar para matar segue valendo. Atire só quando necessário, e apenas nas pernas dos inimigos.
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Fase 5: chegamos na última fase, que é um verdadeiro inferno siderúrgico de aço derretido, saltos difíceis e rotas confusas. Logo no começo da fase, você terá que sair no pau com o T-1000, mas é bem tranquilo para derrotá-lo.

A parte realmente difícil da fase é a dificuldade de entender para onde se deve ir. A presença de aço derretido por toda parte também contribui para o clima de inferno na Terra. Tenha em mente que qualquer bobeira aqui significa a perda imediata de uma vida. Errou um pulo e caiu no aço derretido? Você não “perde energia”, você MORRE! Não há muito o que fazer a não ser dominar o mapa da fase por meio da boa e velha tentativa-e-erro (leia-se: morrer várias e várias vezes, feito um condenado).

Depois de sobreviver a todo este inferno industrial, é hora do confronto final com o T-1000. Neste momento, você será surpreendido com a constatação de que este é um dos chefões finais mais fáceis de derrotar em toda a história dos videogames. Nem perca tempo atirando ou socando: apenas pule na cabeça dele, empurrando o vilão à esquerda, em direção à cachoeira de aço derretido. Repita o procedimento até que o T-1000 dê um mergulho sem volta e termine exterminado.

Após exterminar o T-1000, não se atire no aço derretido. Lembre-se de outra regra do jogo (retirada diretamente do filme): o T-800 não pode se auto-exterminar. Prossiga à esquerda até encontrar Sarah e John para finalmente concluir a aventura de vez.
Ok, o final é um pouco melancólico, mas é exatamente igual ao final do filme.

THE END! Chegamos ao final da versão Nintendo 8-bits de um dos maiores clássicos do cinema. Hasta la vista, baby!







