
E aqui estamos, comemorando mais um Natal! Para isso, nada melhor do que um game ambientado nessa época. Pode ser um game baseado em filme? Pode! Pode ser um game com o Batman? Ora, melhor ainda! Mas … dois filmes podem gerar uma trilogia de games? Opa, peraí, daí a coisa já começa a ficar meio confusa. Mas calma aí que nós vamos explicar essa história direitinho!
Lançado na metade de 1992 nos Estados Unidos, o filme Batman Returns foi uma das sequências mais aguardadas daquela década. O filme anterior, Batman (1989), rapidamente se converteu em um fenômeno da cultura pop e o hype por uma continuação era grande. Apesar de suas qualidades, Batman Returns não conseguiu se igualar ao filme anterior em termos de bilheteria e popularidade. No entanto, isso não evitou que a nova aparição do Batman nos cinemas originasse uma avalanche de games nas mais diferentes e variadas plataformas, incluindo Mega Drive, Sega CD, Master System, Game Gear, Super Nintendo, DOS, Atary Lynx e Amiga.

Em algumas destas plataformas (como Sega CD e Super Nintendo), com um jogo baseado no filme de 1992, Batman estava fazendo sua primeira aparição no console. Em outras plataformas (como Amiga e Mega Drive), Batman já tinha dado as caras com adaptações para videogame do clássico filme de 1989, o primeiro dirigido pelo brilhante Tim Burton. Mas, especificamente no Nintendo 8-bits, os dois filmes da “Era Burton” (o Batman de 1989 e o Batman Returns de 1992) viraram uma … trilogia!
O que aconteceu foi o seguinte: em 1989 (no Japão, e em 1990 nos mercados ocidentais), a Sunsoft lançou o maravilhoso jogo Batman: The Video Game para o NES. Baseado no filme do Tim Burton lançado naquele mesmo ano, o jogo era um arraso em visual, música e jogabilidade – sendo lembrado até hoje como uma obra-prima da biblioteca de jogos do console de 8-bits da Nintendo. Desnecessário dizer que a soma da qualidade do game com a força da fama e da popularidade do filme fizeram do jogo um imenso sucesso de crítica, público e vendas.
Burton levou três anos para materializar a continuação do Batman de 1989 nos cinemas, mas a Sunsoft não quis esperar tanto tempo. Surpreendentemente, a empresa decidiu dar continuidade à trama do game (que seguia a história do filme) por conta própria, e lançou em 1991 o jogo Batman: Return of the Joker – uma continuação direta do game anterior. É isso aí mesmo: depois de um jogo-baseado-em-filme, tivemos uma sequência-sem-filme!
Até aí, tudo bem. Essa história de “continuações-sem-filme” não chegava a ser inédita na biblioteca de games do NES. Basta lembrarmos, por exemplo, dos casos de Goonies II ou Top Gun II. Além disso, Batman: Return of the Joker era outro trabalho maravilhoso da Sunsoft, apresentando visual, música e ação de altíssima qualidade para os padrões dos consoles de 8-bits. Quanto à trama … bom, quem se importa, não é mesmo? Tá certo que o filme de 1989 (e o primeiro game da Sunsoft, baseado no filme) estabeleciam que o Coringa morria ao final da história (sem margem para qualquer espécie de dúvida, já que ele despencava do alto da gigantesca torre de uma catedral). Batman: Return of the Joker resolve mandar a coerência e a lógica às favas e opta simplesmente por estabelecer que, de alguma forma, o Coringa sobreviveu e está de volta. E quem você vai chamar? GHOSTBUST… não, nada disso, o Batman, é claro!
O problema é que, em 1992, é lançado o filme Batman Returns (com uma trama que, felizmente, não tem nada a ver com o roteiro delirante do game Batman: Return of the Joker). Como a Sunsoft já havia se apressado em dar continuidade ao jogo original antes mesmo de qualquer continuação das aventuras do Batman nos cinemas, a adaptação de Batman Returns para NES acabou sendo o terceiro jogo do personagem dentro da cronologia iniciada com o jogo de 1989. Ou seja: dois filmes e três games de NES. Por conta disso, em alguns mercados o Batman Returns do NES veio a ser lançado com o nome de “Batman III”.

O Batman Returns do NES segue à risca o roteiro do filme de mesmo nome. É véspera de Natal em Gotham City e a paz na cidade é interrompida pelos ataques brutais de uma gangue de criminosos em trajes circenses, secretamente liderados pelo Pinguim, um psicopata deformado que vive no subterrâneo dos esgotos de Gotham. Para piorar, a busca do Pinguim por poder vem acompanhada do surgimento da misteriosa Mulher-Gato. É o que basta para o circo pegar fogo, e lá se vai o Natal do pobre Homem-Morcego!

Quanto à estética e gráficos, neste jogo a Konami conseguiu um bom resultado em adaptar todos os elementos importantes do filme dentro das limitações técnicas do NES (um console que, naquela época, já estava no mercado há oito anos). A atmosfera dark e gótica dos cenários traduz bem o clima do filme, e a narrativa do jogo é desenvolvida por meio de várias cutscenes simples, porém eficientes.

Em termos de jogabilidade, Batman Returns deixa de lado a fórmula de ação/aventura dos dois jogos anteriores do personagem no console, adotando um estilo beat’em-up muito semelhante ao segundo e terceiro jogos das Tartarugas Ninja lançados para o NES. A semelhança, aqui, não é mera coincidência: ao contrário dos games anteriores (produzidos pela Sunsoft) o Batman Returns dos NES foi criado pela Konami (a mesma desenvolvedora dos clássicos beat’em-ups das Tartarugas Ninja). Todo esse pedigree não passa despercebido, e se traduz no ótimo visual, trilha sonora e ação rápida que se vê no Batman Returns do NES.

Infelizmente, nem tudo em Batman Returns funciona tão bem quanto nos games das Turtles. Uma coisa que deixa um pouco a desejar é a jogabilidade, prejudicada pelo excesso de combinações de botões necessárias para realização de todos os movimentos indispensáveis para que o herói sobreviva aos ataques das hordas de inimigos que infestam as ruas de Gotham. O “dash” (um rápido ataque em forma de rasteira) é obtido pressionando o botão de pulo e o direcional para baixo ao mesmo tempo. O uso de armas e acessórios (como o bat-bumerangue e a corda) exige pressionar o botão de ataque combinado com o direcional para cima. Para Batman se defender de ataques, é preciso pressionar o botão de pulo e o direcional para cima.

Como dá pra perceber, a sensação que fica é de que a riqueza de movimentos e golpes do personagem ficou prejudicada pelo limitado número de botões do joystick do NES. O resultado é uma jogabilidade que, embora não seja propriamente ruim, não está no mesmo nível de fluidez intuitiva visto em games do NES como TMNT II: The Arcade Game ou em TMNT III: The Manhattan Project.

Apesar de não ser perfeito, Batman Returns é claramente um dos melhores beat’em-ups da geração 8-bits, e merece ser lembrado com mais frequência pelos retrogamers. De qualquer forma, dá pra entender as razões que impediram o jogo de fazer o mesmo barulho que os games anteriores da Sunsoft fizeram. É preciso lembrar que Batman Returns foi lançado já no final do ciclo de vida útil do NES, em 1993, um ano depois do lançamento do filme de mesmo nome. Nessa época, o Super Nintendo e o Mega Drive já eram os consoles que dominavam o mercado, sendo que o NES já se encontrava relegado a um segundo plano.

Além disso, apesar de ser um jogo muito legal, o Batman Returns do NES foi irremediavelmente ofuscado pelo magnífico jogo de mesmo nome lançado na mesma época para o Super Nintendo, pelas mãos da mesma Konami. Mas isso já é história para uma outra ocasião.
FELIZ NATAL!!!



As versões de Master System e Game Gear também são excelentes, e tem as melhores músicas já feitas para consoles 8 bits!
A versão de Batman Returns para o Game Gear é, de longe, a que eu mais joguei na época. Era um dos cartuchos que vieram junto com o console quando comprei meu GG em 1993. Você pode encontrar um review/detonado completo do jogo aqui no Cemetery Games: https://cemeterygames.com/2009/10/10/batman-returns-game-gear-1992/
Voltei a jogar esse clássico hoje, valeu!!!!